A delinquência política fez
mais um morto na Venezuela, o 22º desde o início dos protestos, e serviu para
que a presidente Dilma Rousseff, lá no Chile — onde estava para a posse de
Michele Bachelet — dissesse mais uma besteira, a 367ª, sobre política externa.
É tudo de estarrecer. Segundo relato do jornal El Universal, Daniel Tinoco, um
estudante de 24 anos, estava num grupo de jovens que se organizava para
participar de uma manifestação em San Cristobal. Chegou, então, um grupo de
motoqueiros armados atirando. Ele levou um tiro no peito, foi hospitalizado e
morreu. Outros dois estão feridos. Esses motoqueiros integram as milícias bolivarianas,
que recebem armas do próprio governo. No aniversário de um ano da morte de
Chávez, o ditador Nicolás Maduro as convocou a enfrentar nas ruas os
manifestantes, repetindo uma frase de Chávez: “candelita que se prenda,
candelita que se apaga”. Ou: chama que se acende, chama que se apaga. Ou por
outra: é pra matar quem ousar protestar.
O Brasil votou contra o envio
de observadores da OEA à Venezuela. A situação do país deve ser debatida nesta
quarta por chanceleres da Unasul, aquela estrovenga inventada por Chávez e Lula
para, em tese, mediar os conflitos na América do Sul. Como se nota, tenta-se
minimizar o tamanho do problema. Um governo incita milícias armadas a sair
matando os que protestam, e os chanceleres é que vão se reunir. Os chefes de
estado farão de conta que nada de grave acontece… Já dá para adivinhar o que
vai acontecer num grupo que reúne representantes da Argentina, da própria
Venezuela, do Brasil, do Uruguai, do Peru, da Bolívia — todos sob a gestão de
partidos de esquerda. A partir de hoje, o Chile também está na rede dos
companheiros. Vale dizer: Maduro continuará matando — enquanto, ao menos, não
for pendurado pelos pés em praça pública, como aconteceu com Mussolini.
O governo da Venezuela matou o
22º, e Dilma disse a 367ª besteira a respeito da política externa do Brasil.
Indagada sobre a situação da Venezuela, saiu-se com o seguinte disparate: “Vocês
vejam que no caso do presidente Lugo [Fernando Lugo, do Paraguai, que sofreu
impeachment em 2012] houve um momento de estresse, hoje perfeitamente superado
com a perfeita inclusão do novo presidente, eleito democraticamente, Horacio
Cartes”.
Eu poderia achar que é má-fé,
mas uma presidente que diz em Bruxelas que Manaus é a capital da Amazônia e que
a natureza planta árvores pode apenas estar dando testemunho de uma brutal
ignorância. É a hipótese virtuosa. Fernando Lugo foi deposto pelo Congresso
paraguaio, segundo as regras da Constituição do país. Não houve a menor
ilegalidade. Não houve rompimento da ordem. O governo Dilma, sim, é que teve
uma atitude indecente, suspendendo, com o apoio da Argentina, o país do
Mercosul e aproveitando justamente para abrigar a Venezuela, do governo já
então assassino de Chávez — e que continua a matar o povo por intermédio de
Maduro.
A decisão foi politicamente
criminosa, além de ilegal. Ao suspender o Paraguai e admitir a entrada da
Venezuela no Mercosul, Dilma e Cristina Kirchner rasgaram o Tratado de Ushuaia,
que exige que os países membros do Mercosul sejam democracias. Dilma fez
precisamente o contrário: expulsou uma democracia e abrigou uma ditadura.
Dilma poderia, ao menos, fazer
o favor de ficar calada.
Título e Texto: Reinaldo Azevedo, 11-03-2014
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