Duarte Marques
Ao tentar provocar a intriga
entre Marcelo Rebelo de Sousa e o seu partido de origem, o PSD, os candidatos
da esquerda, sobretudo Maria de Belém e Sampaio da Nóvoa, estão a contribuir
calorosamente para a sua vitória à primeira volta.
Há duas características que os
portugueses muito valorizam numa eleição presidencial: a notoriedade do
candidato e o seu potencial de independência. Se quanto ao primeiro não me parece
que restem dúvidas, Marcelo é de longe o candidato com mais notoriedade, quanto
ao seu potencial de independência o candidato que é militante do PSD nem
precisa de se esforçar...muito. A sua distância estrutural face ao PSD, seja
ela tática ou sincera, é do conhecimento de todos e uma das mais frequentes
críticas que lhe é feita.
Ainda a propósito da
independência recordemos Cavaco Silva, eleito duas vezes Presidente à primeira
volta e também ele conhecido por ser distante do seu próprio partido. Os
partidos ajudam numa eleição presidencial, o voto dos eleitorados
partidários-base são fundamentais, mas quem faz a diferença nos 50% mais um
voto necessários são (i) os indecisos, (ii) os eleitores flutuantes, (iii) os
votos do centro e (iv) os votos contrários à origem ideológica dos candidatos.
Marcelo sabe isso melhor do que ninguém e não foge um milímetro dessa
estratégia. Como seu apoiante, só espero que os seus adversários continuem.
Sabendo que as características
mais exigidas a um Presidente são a imparcialidade e a capacidade de
estabelecer pontes, basta olharmos para as campanhas dos principais adversários
de Marcelo para percebermos que a sua luta se resume a discutir quem é mais
socialista e quem tem mais apoios dentro do PS. Ou seja, não são nem nada
imparciais nem tão pouco nas suas bases consensuais - nem os próprios partidos
conseguem federar.
Mas, ainda a propósito destas
eleições, fica também claro que a esmagadora maioria dos candidatos não conhece
os poderes presidenciais e confunde o papel de um Presidente com o de um
primeiro-ministro. Se prometem não fazer contrapoder ao Governo então porque
apresentam programas de candidato a eleições legislativas? O papel do
Presidente não é o de um contrapoder. Ao Presidente cabe procurar a estabilidade
e o consenso, cabe travar as iniciativas que colocam em causa o interesse
nacional sem esquecer que um Executivo tem um programa de Governo aprovado por
maioria. E, por fim, ao Presidente cabe defender a Constituição.
É por estas e por outras razões
que considero que um Presidente não pode desempenhar apenas o papel de promotor
de consensos ou o ator de contrapoder ao executivo. Exige-se, sim, que em cada
momento tome as atitudes e as decisões que defendem o interesse nacional, os
portugueses e a Constituição, sejam elas de contrapoder ou de gerador de
consensos.
Após os primeiros dias de
campanha, fica também claro que a meta de alguns candidatos é, apenas e só,
chegar à segunda volta, dando razão a Marcelo quando disse que o PS queria
fazer desta primeira volta uma espécie de primárias. No fundo, não passa de
pura hipocrisia a posição do Secretário-Geral do PS, tal como de Belém ou
Nóvoa, pois não é natural, apesar de já ser habitual, o PS apoiar dois
candidatos diferentes.
Pelos vistos, quem tem más
relações com o seu partido não é Marcelo. Hoje, todos sabemos que o preferido
de António Costa é António Nóvoa, a quem deu ordens para avançar mas, também, a
quem tirou o tapete depois de Maria de Belém ter avançado. A suprema hipocrisia
está em anunciar a divisão dos votos dos eleitores do PS nos dois candidatos no
dia em que o seu “Presidente”, Carlos César, se junta a Sampaio da Nóvoa. O
Presidente de um partido político não tem posições pessoais em matéria política
de primeiríssima importância, tem apenas posições políticas.
De uma coisa tenho, cada vez
mais, certeza: provavelmente Marcelo vai ser Presidente à primeira mas, se por
acaso, tivermos uma segunda volta mais votos terá. Unirá, como ninguém, a
esquerda moderada ao centro-direita. Porque se há coisa que Marcelo não tem é
fronteiras ideológicas ou baias partidárias. Ainda bem.
Título e Texto: Duarte Marques, Expresso,
12-1-2016
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