Cesar Maia
1. Na saúde de uma pessoa, a identificação de um mal, uma doença e
o combate, o seu tratamento, atuam ao mesmo tempo como causa e efeito. Ou seja,
ao se eliminar o mal se recupera a saúde.
2. A corrupção é uma doença grave da saúde política. Ninguém tem
dúvida sobre isso. Mas o combate a ela e – mesmo - sua hipotética eliminação
não tem como consequência simultânea a saúde política no sentido do
funcionamento adequado de um regime democrático.
3. A convivência com a corrupção nos organismos políticos é uma
doença que pode ser degenerativa. Mas sua eliminação não constrói
automaticamente uma democracia sã, uma democracia representativa, um estado de
direito democrático, que conduzam um país ao progresso e a justiça social.
4. Quando se atua apenas no combate à corrupção sem atuar ao mesmo
tempo na construção de um organismo político que produza desenvolvimento
social, econômico e institucional, se corre o risco de construir um binômio:
esperança e decepção.
5. A decepção naqueles que imaginavam que ao se somar com
entusiasmo ao combate à corrupção estavam ao mesmo tempo atacando as causas e
produzindo efeitos, pode, por ingenuidade ou por entender que a antipolítica é
um efeito desejado, provocar o inverso do que se deseja: vertentes do populismo
e do autoritarismo.
6. É fácil que uma oposição política que não seja alternativa de
poder, nem queira construir-se como tal, conseguir os espaços de mídia e
aparentar que sua retórica anticorrupção seja em si o efeito.
7. Quando na eleição seguinte - e nas seguintes - esses vetores de
oposição mantêm-se com bancadas minúsculas, deve-se perguntar se o problema não
está apenas nas distorções trazidas pelo poder econômico, por exemplo, como
alegam. O provável é que o problema esteja na retórica pela retórica, no
moralismo, na antipolítica.
8. No máximo servem aos meios de comunicação que precisam dos
brados dessa oposição - às vezes cínica - para apresentar uma falsa
dramatização governo x oposição. Mas há sempre que lembrar: a mídia não é e nem
quer ser alternativa de poder. Cumpre o seu papel de controle de qualidade das
ações políticas. Mas deve estar atenta aos riscos de exaltar a antipolítica e o
moralismo.
9. O Brasil tem avançado muito na luta contra a corrupção política.
Mas pouco na construção de novas instituições políticas. A Itália avançou muito
na luta contra a corrupção política e pouco ou nada na construção de novas
instituições políticas. Aí estão ou estavam Berlusconi e o MV5 como símbolos.
Título e Texto: Cesar Maia, 22-2-2017
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