Cesar Maia
1. Na fase inicial do Plano Real as contas públicas apresentaram um
forte crescimento da receita tributária. Na verdade, apenas uma ilusão de
ótica. Com uma queda abrupta de uma inflação galopante, o valor real dos
tributos cresceu, substituindo o “imposto” inflacionário. Mas de nada
adiantaria se as despesas continuassem crescendo com a memória inflacionária.
2. Por isso, a lei do Plano Real estabeleceu um teto elegante nas
despesas, determinando a revisão de todos os contratos do setor público em
geral, com uma redução nas despesas, pela inflação projetada para o primeiro
ano do Real, ou uns 30%. Poucos estados e municípios aplicaram esta regra
legal. A cidade do Rio de Janeiro o fez e, com isso, realizou seu ajuste fiscal,
cujos desdobramentos positivos estão aí até hoje. Temer, com o teto de gastos,
fez algo semelhante e até mais suave.
3. Com a inflação brasileira passando do patamar dos 4% para 10%, a
partir de 2011, o imposto inflacionário voltou. Os governos, em geral, não se
importaram com isso. Afinal, a economia crescia, o que produzia crescimento do
PIB nominal e dos tributos. Mas quando a economia brasileira parou de crescer e
entrou em recessão, especialmente a partir de 2012 e dramaticamente a partir de
2014 voltou – nem tão discretamente – a correção monetária espontânea voltou.
4. Se os governos tivessem antecipado os efeitos da recessão na
arrecadação – o que poderia ter sido feito já a partir do final de 2011– teriam
evitado que a correção monetária espontânea voltasse a galope. Só a partir de
2014 é que análises e matérias na imprensa destacaram que as despesas não
acompanhavam a queda projetada da arrecadação. Muito pelo contrário.
5. Prevaleceu a memória do período anterior, com atos e decisões e
leis que reintroduziam a correção monetária só que, agora, espontânea.
6. Se a partir de 2012 os governos tivessem aplicado um redutor
projetado, na inflação/correção, sobre as suas despesas, acrescido a um redutor
efetivo pela queda de arrecadação, a crise fiscal não entraria com a força que
entrou. A situação hoje seria muito diferente da enfrentada pelo governo
federal, estados e municípios.
7. E os governos teriam se beneficiado do “imposto” inflacionário
desde o segundo semestre de 2012, antecipando o ajuste e evitando o enorme
desequilíbrio em suas contas que sobreveio a partir de 2014. Os dados estavam
disponíveis. Mas a decisão política não foi tomada. Aqui no Rio a renúncia quase
coletiva dos secretários estaduais após as eleições de 2014 deveria ter servido
de alerta ao governo que entrava.
Título e Texto: Cesar Maia, 16-2-2017
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