Péricles Capanema
Para não virar barata
tonta, ao analisar o presente sempre é bom voltar os olhos para a História.
Manifestações carregadas de ódio e de vingança a respeito do falecimento de
dona Marisa lembraram-me a Revolução Francesa. Fui reler a
justificação do Terror, exposta por Robespierre [gravura abaixo] em
discurso à Convenção no dia 5 de fevereiro de 1974. Ali o líder da Revolução
Francesa expôs os princípios da política interior do governo:
“A primeira máxima de
vossa política [...] deve-se conduzir os inimigos do povo pelo terror. [...] A
mola do governo popular [...], é o terror, sem o qual a virtude é impotente. O
terror é tão-só a justiça rápida. [...] Subjugai pelo terror os inimigos da
liberdade. [...] O governo da República é o despotismo da liberdade [...] A
indulgência para os monarquistas, querem alguns. [...] Na República só os
republicanos são cidadãos. Os monarquistas são estrangeiros, melhor ainda,
inimigos. [...] Faz parte da clemência punir os opressores da humanidade; é
barbárie perdoá-los”.
O Terror da Revolução Francesa
empalideceu-se diante do Terror comunista. Robespierre foi mirrado antecessor
de Lênin, Stalin e Mao, moldados pela mesma ideologia e igual mentalidade. O
tirano francês resumiu assim o objetivo a todos eles comum: “A alma
da República [...] é a igualdade. [...] A primeira regra de vossa conduta
política [...] a manutenção da igualdade”.
O PT grassou nesse terreno. E
Fidel Castro, o mais sanguinário tirano da América Latina, deus do panteão
petista, é herdeiro legítimo dos facínoras acima apontados. A ele Lula se
referiu como “o maior de todos os latino-americanos”, “voz de
luta e esperança”.
Por que recordo tudo isso? Por
perceber a mesma mentalidade em centenas de manifestações nos últimos dias.
Deixo abaixo algumas, significativas e reveladoras. Leandro Fortes, responsável
pela propaganda do PT nas redes sociais na última campanha presidencial: “Todos
sabemos os nomes, os cargos, as redações e as togas de cada um dos responsáveis
pela morte de dona Marisa. Na hora certa, daremos o troco”. Renato
Rovai, editor da revista Fórum: “A morte de dona Marisa
não foi natural. Ela foi sendo assassinada aos poucos por um conluio, cujo
pilar foi a mídia tradicional com destaque ultra especial às Organizações
Globo, à grande maioria do Judiciário envolvido nas investigações da Lava-Jato
e a uma classe política corrupta”. Paulo Nogueira, do DCM, em artigo
“Quem matou Marisa?”: “Muitas mãos estão manchadas de sangue. As da
Globo, por exemplo. Moro e a Lava-Jato não seriam nada sem os holofotes
ininterruptos da Globo. A mídia como um todo participou da caçada a Lula com
seu jornalismo de guerra. [...] Os juízes do STF também têm sua culpa, dado a
inércia com que lidaram com os abusos de Moro. De novo: Moro não está sozinho.
[...] Outras mãos estão tingidas de sangue”.
Na entrada do Sírio Libanês,
Michel Temer foi cercado e acusado de “assassino!, assassino!, assassino!,
golpista!, golpista!, fascista!, fascista!”, além de insultado por palavrões
impublicáveis. E na expulsão do repórter César Menezes e do cinegrafista da
Rede Globo do velório, a militância petista extravasou boçalmente o ódio no
qual é nutrida: “Safada, golpista, assassina. Globo assassina. Fora,
filho das trevas, tá preparando o berço de Satanás, anticristo. Maldita,
ninguém quer você aqui. Seu maldito, vai embora, pilantra, safado. Globo News
safada, fora daqui. Fora golpista, vocês não são bem-vindos, seus imundos. Vai
embora, nojo. Fora Globo. Filho das trevas, anticristo, anticristo maldito.
Nazista. A Globo é nazista. A Globo é nazista. Fascista”. E
vai por aí afora. A Folhapolítica.org estampou tuite pra lá de
revelador: “@Viniciusclash. A melhor homenagem que alguém pode
prestar a Marisa é matar Sergio Moro. 1:04 AM 02 fev 17”. Um lado
da moeda, o ódio indisfarçado.
O outro. Existe o ódio envolto
nas prudências da política. Aconteceu também na Revolução Francesa e na
Revolução Comunista. Lula pôs a máscara “Lulinha, paz e amor”. Ele sabe que
quando a jararaca mostrou as presas, perdeu três eleições presidenciais. Só
venceu ao fechar a boca e garantir a manutenção da política econômica do
governo FHC.
Alguns sintomas. Lula recebeu
telefonema de condolências do ministro Gilmar Mendes e senhora. As esposas dos
dois tinham sido amigas. Disse ele à senhora do ministro: “Guiomar,
você perdeu uma grande amiga. Ela gostava muito de você, falava sempre de você.
Eu quero que você saiba disso”. Dona Guiomar respondeu: “Vontade
nunca faltou, presidente”. Lula acompanhou: “O mundo é
redondo, querida. E a gente ainda vai se encontrar”. FHC foi vê-lo; o
comandante petista comentou com políticos que depois estiveram com ele, que o
gesto do líder tucano “foi um exemplo pedagógico para os jovens”.
Na visita da comitiva
multipartidária vinda de Brasília, esbanjou cordialidade e elogios. Para Renan
Calheiros: “um dos maiores craques da política”. José Sarney foi
agraciado com “meu companheiro” e “meu amigo”. Cochichou
por alguns minutos com Romero Jucá. No meio dos líderes, não deixou passar a
ocasião, repetiu o que vem dizendo, que o Supremo se acovardou diante da
Lava-Jato. Quer um Supremo mais flexível. E no discurso que fez no velório, o
que se viu foi um político preparando a candidatura para 2018. O caldo de
cultura estava todo ali: esquerda católica, intelectuais radicalizados e líderes
sindicais. O resignatário dom Angélico Sândalo Bernardino aproveitou para
torpedear as duas propostas de reforma na bica: “A Marisa Letícia
foi uma guerreira na luta a favor da classe trabalhadora. Atentem para as
reformas trabalhistas que sejam contra os trabalhadores; a reforma da
Previdência, contra pobres e assalariados. É preciso que estejamos atentos”.
Em total desprezo pela realidade, emendou que a crise atual “é
falsamente atribuída à administração dos dois últimos governos”.
Contradizem-se as duas faces,
a da intimidação e a da simpatia? Calibradas, são complementares. O Prof.
Plinio Corrêa de Oliveira cunhou a expressão binômio medo-simpatia para
caracterizá-las. A intimidação bem dosada atua como uma sova em setores conservadores.
A simpatia, enfrentando obstáculos menores, tem melhores condições de êxito.
Está em curso uma operação simpatia.
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