Aparecido Raimundo de Souza
1
BASTOU A MOÇA ENTRAR NA LOJA DE CALÇADOS E, DE CHOFRE,
PROVOCOU um suave burburinho nos quatro atendentes que estavam mais próximos da
porta. Impensadamente, todos de uma só vez, se precipitaram em direção a ela.
- Bom dia – disse um.
- Pois não? – gritou
o outro.
- Em que posso ajudá-la – acorreu o terceiro?
- Preferência por alguma marca em particular?
2
Diante de tantos rapazes bonitos, charmosos e elegantemente
vestidos, a linda, composta por uma simetria corporal perfeita e uma
luminosidade vital, que transbordava alegria e erotismo a um só tempo, optou
pelo mais tímido que se limitou a um “Bom dia”.
- Gostaria que me mostrasse alguma coisa diferente do que
estou usando.
Em resposta, o atendente esticou o braço direito indicando
um dos muitos bancos existentes.
- Por favor, me acompanhe.
3
Antes de se acomodar, balançou a cabeça, jogando os cabelos
compridos para trás. Deu uma caminhada básica, pelo salão, como se procurasse,
nos milhares de produtos expostos, alguma coisa que lhe chamasse a atenção. Na
verdade, a danada só queria mostrar seus dotes de princesa, envoltos por
debaixo daquele vestido azul marinho, bem curto e esvoaçante sabendo, de
antemão, que deixava todos os marmanjos ali presentes (inclusive o que a seguia
de perto), dissimuladamente embasbacados.
4
Para os que haviam sobrado garimpassem mais acentuadamente
seu visual impecável, levantou um pouco o tecido que cobria os joelhos de
maneira insinuante. Finalmente, sentou no local indicado cruzando as pernas bem
devagar.
- Qual seu número?
- 34.
- Aguarde só um minutinho. Trarei as últimas novidades que
acabamos de receber...
5
Dizendo isso, sumiu, atrás de uma porta vai-e-vem que ficava
perto da seção de abertura de créditos. Ao lado, uma fila aguardava vez para
fazer pagamentos de carnês.
Os três vendedores que ficaram a ver navios, começaram a
trançar de um lado para outro. Passavam na frente da formosa, balançavam a
cabeça em sinal de cumprimento ou simplesmente sorriam e desviavam os olhos
para suas lindas pernas. E que pernas! Ela percebeu que deixara a todos extasiados,
naturalmente em decorrência do panorama que exibia.
6
Resolveu apimentar um pouco mais a visão da galera tornando
a coisa bem quente e exótica.
Propositalmente derrubou o celular.
No que se abaixa entre as poltronas, para reaver o aparelho, permitiu,
ao se curvar, pudessem os engraçadinhos bisbilhotar um pouquinho além do que
deviam. Nessas alturas, literalmente,
todos os vendedores ficaram sem ação, boquiabertos, como se estivessem
embasbacados. Houve um silêncio solene, colossal e abrupto. Também, diante de
uma coisa maravilhosa como aquela e, levando em conta o que estava à mostra,
faria qualquer homem normal arregalar os olhos e babar. Foi o que aconteceu.
7
Devido à movimentação pouco exagerada e o burburinho dos
vendedores, o gerente caiu em si e pescou no ar, o lance. Arranjou um jeito
discreto de sair de trás do balcão estendendo a conversa com uma cliente. A
intenção dele era a de levar à senhora que fora pagar uma prestação até a saída
do estabelecimento. Na verdade, tencionava passar perto daquela princesa e se
regozijar, como os demais funcionários, do que ela oferecia, de graça, para o
deleite dos desnorteados e assombrados da plateia que num átomo se formara.
8
Com uma dezena de caixas coloridas em cada uma das mãos, eis
que surge, de volta, o vendedor escolhido. Ele caminhava devagar, para não
deixar que nada fosse ao chão. Nesse instante, sem exceção, a loja inteira
parou. Inclusive alguns clientes que vasculhavam as vitrines. Todas as cabeças
se voltaram para aquele pobre que se aproximava cambaleante, pé ante pé,
solícito, o mesmo sorriso de sempre nos lábios. A linda, ao vê-lo, se levantou,
e o ajudou a se livrar daquela carga, colocando um pouco das caixas sobre uma
das poltronas.
- Nossa!, você caprichou.
- Trouxe tudo que encontrei em nosso estoque e espero que
alguma coisa aqui venha a lhe agradar.
- Com certeza...
- Posso dar uma sugestão?
- Claro.
9
Tirou de dentro de uma das caixas um belo par de sapatos e o
exibiu à jubilosa.
- Experimente É a sua cara...
Ela voltou a se sentar e ele se pôs de cócoras, para calçar
o pezinho que ela lhe indicava. Foi aí que aconteceu. No instante em que
abotoava o fecho da sandália. A desejada fez de propósito. Premeditou tudo.
Abriu as pernas. Era como um auto-de-fé. Uma obsessão, um vício. Não conseguia
domar a criatura selvagem que morava dentro de seu ego medieval. Queria ver a
reação, sentir de perto e na pele, como cada um se comportava diante de uma
provocação inesperada, como aquela.
10
Num primeiro momento, o atendente, entretido em cuidar de
pequenos detalhes, não só para agradar como para não perder a venda, se
esqueceu de espiar para um pormenor maior que o seu limite de contenção.
Contudo, ao se dar conta do que desfilava diante de si, o coração disparou. O
sangue ferveu. Seu rosto perdeu a cor natural. Por segundos, andou sobre fogo e
nadou em gelo. Abriu trilhas numa selva que até então vivia adormecida dentro
de seu corpo. Teve a impressão de morder cabeças de cobras venenosas e arrancar
o couro de tatus e porcos-espinhos. As
batidas de seu coração se espalharam por todos os cantos como tambores.
Chegaram a ponto de provocar um eco retumbante naquele outro coração que dormia
quieto, logo abaixo, dentro da cueca de algodão.
11
Olhou ao seu redor, assustado, sem saber o que fazer, ou que
atitude tomar. Uma sensação gostosa e atemporal se alastrou por sua mente.
Continuava atarantado, fora de si, sem ação e perdido. Percebeu que um
entusiasmo erótico, instantâneo, mexeu com seus nervos. Enquanto isso, a
cliente, mordiscava os lábios e sorria maliciosamente. Sabia que havia
alcançado seus objetivos.
12
Podia se ver em seu rosto travesso, que aquela cena mexia
com seu interior. Havia uma estranha combinação de magia e poder feminino sobre
a presa, a essa altura transformado num duende completamente estabanado
segurando fortemente um de seus pés. Resolveu levar adiante a estripulia. Descerrou, por completo, seu triângulo preto,
seu esconderijo secreto, a racha latejante e fermentada. E o fez sem meios
termos, sem pudor, sem nenhum sentimento de vergonha. O pobre rapaz tremia na
base. No minuto seguinte, seu corpo inteiro transpirou como se alguém tivesse
lhe despejado, sobre os costados, um balde de água.
13
Diante dele, a doce cavidade do prazer em completo repouso e
a espera de ser atingida. Nessa visão colossal, ele viu um jasmineiro florido,
com passarinhos cantando uma melodia suave. Sentiu como se um milhão de luzes
houvessem se acendido e, no instante após, teve a impressão de mergulhar num
mar de ilusões até então nunca sonhados. O cheiro da maçã entrou em suas
narinas.
14
Pressentiu o pecado se agigantando, tomando conta da sua
vontade. Seus olhos não mentiam. Não via coisas, nem desvairava acordado. A
mulher era real, tudo ali tinha forma física e podia ser tocado. Com as mãos, a
fofura moveu um pouco o vestido, permitindo que o tresloucado ficasse mais
perto do calor e da tentação e, nesse clima lascivo, o infeliz se extasiasse,
se subornasse com todas as transgressões que pudessem ser criadas por sua
enamorada imaginação.
15
Para os demais da loja, o vestido da facécia cobria o
essencial. Especialmente para o vendedor sortudo, a safadinha mostrava a
cobiça. Alardeava o apetite. Pracejava a vontade exacerbada, se agigantando no
meio de suas coxas. Um ponto dentro dela, de repente, explodiu em líquido puro.
A poção do universo veio a baixo. Inesperadamente molhou o assento da cadeira.
Diante da incredulidade do vendedor, ela, a gatinha fogosa, sem a calcinha,
carinha travessa, sorriso hipnotizante, o suor escorrendo, a linguinha
aliciando os cantos da boca, num gritinho gutural, alcançou o epítome do que
buscava. Gozou.
AVISO AOS NAVEGANTES:
PARA LER
E PENSAR, SE O FACEBOOK, CÃO QUE FUMA OU OUTRO SITE QUE REPUBLICA MEUS
TEXTOS, POR QUALQUER MOTIVO QUE SEJA VIEREM A SER RETIRADOS DO AR, OU OS MEUS
ESCRITOS APAGADOS E CENSURADOS PELAS REDES SOCIAIS, O PRESENTE ARTIGO SERÁ
PANFLETADO E DISTRIBUÍDO NAS SINALEIRAS, ALÉM DE INCLUÍ-LO EM MEU PRÓXIMO LIVRO
“LINHAS MALDITAS” VOLUME 3.
Título e
texto: Aparecido Raimundo de Souza, jornalista. Do Sítio ”Shangri-La” – Um lugar perdido no meio do nada. 3-3-2017
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