sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

[Aparecido rasga o verbo] O último guerreiro dos apaches

Aparecido Raimundo de Souza

GOYATHLAY, ou Goyaalé, foi o último chefe dos apaches e o mais recente combatente dessa linhagem, originada em grupos nômades asiáticos que no século treze passaram para a América, pelo estreito de Bering.

Fugiram da fúria mais poderosa, as hordas de Gengis Khan, sagrada e temida autoridade dos mongóis, em 1206.

Do Alasca desceram, saqueando, pilhando, matando, até chegaram ao Arizona, o teatro do confronto que fecundou uma lenda. Gerónimo (ou o que boceja) nome dado pelo homem branco a Goyathlay.

Os apaches se dividiam em clãs. Eram mescaleiros, lipans, jicarillas e chiricahuas, esta a mais estrepitosa entre as ramificações conhecidas.

Dela provinha Gerónimo. Dificilmente os brancos compreenderiam a marcialidade natural dos chiricahuas. Nunca deixariam de ver nesses caras pintadas apenas renegados assassinos. Jamais perceberiam em seus corações o vigor heroico, idêntico ao de outros homens, por resistirem a abandonarem simplesmente o legado de sangue.

Também não enxergariam além de motivações sentimentais na recusa em deixarem suas terras. Não entenderiam a razão vital da coisa propriamente dita: perder esses rincões equivaleria a sumirem de uma vez por todas.

Para os brancos, guerra significava conquista. Para os índios, um ritual de vida envolvendo a morte, duas presenças naturais em suas concepções de pensamento e religião. Das batalhas dependiam as glórias e as posições de mando em meio ao seu povo.

Em 1876 (exatos cento e quarenta e um anos passados), os Chiricahuas foram removidos para uma zona desértica, conhecida como White Mountain. Parte da tribo se conformou. Outro grupo fugiu para o México. Entre os líderes dos dissidentes se destacava Gerónimo.


Os rebeldes reiniciaram ataques contra os mexicanos, inimigos ancestrais de sua nação, e nos acometimentos demonstravam a maior característica da luta apache: a guerrilha. Investiam e desapareciam em meio à geografia árida da região, como se fossem tragados pela terra.

Tempos depois, Gerónimo se instalou no México. Em 1877 se viu preso e, a seguir, recambiado para White Mountain.

No verão de 1883, ou seja, seis anos depois do encarceramento, juntamente com outros setenta irmãos de nascença, escapou da reserva e buscou a Sierra Madre, também no México. Diante desse quadro, o exército convocou o general George Crook, que após haver combatido sioux e cheyennes, no norte, aprendera a ver e respeitar os índios como homens no mesmo patamar de igualdade.

Em paralelo, Crook flagrou a ação criminosa de funcionários brancos e inescrupulosos, desviando rações, cabeças de gado e bens destinados aos peles-vermelhas. Mesmo diante desses contratempos, impôs e se manteve na calma. E a expandiu para o acampamento, apesar dos ventos não soprarem muito a seu favor.

Contudo, nesse interregno de tempo, as notícias maléficas e cabulosas das façanhas dos apaches insurgentes, no México, chegavam sempre como nuvens carregadas de maus presságios. Crook, evidentemente deveria intervir. Queria, na verdade, evitar novas contendas e, por essa razão, achou por bem procurar Gerónimo.

Em três encontros com o cabra, Crook o convenceu a voltar. Em 1884, portanto, o guerreiro retornou. Paz firmada, tranquilidade entre brancos e índios, tudo corria às mil maravilhas. Surgem, de repente, interesses alheios. Os brancos se sublevaram e acusaram abertamente Crook de condescendências excessivas.

Os jornais e negociantes alimentaram boatos sujos e cabeludos (nos dias atuais, seria como Michel Jackson Temer fuçando nas latas de lixo, os podres de Dilma, para lhe enfiar uma banana bem grande no rabo, como de fato, atulhou), picuinhas escusas, notadamente sobre atrocidades e desmandos cometidos pelo “Demônio Vermelho”.

Paralelamente, o ócio no acampamento acabou por determinar uma nova escapulida, em 1885. Gerónimo juraria, mais tarde, de mãos juntas, ter descoberto um plano diabólico. Alguém queria seu pescoço pendendo de uma corda.

Seria Eduardo Campos, furioso por estar entre as grades, querendo enfiá-lo, de algum modo, na operação Lava Jato? Pelo sim, pelo não, a criatura não esperou para conferir. Campos que fosse lamber sabão nos quintos do inferno.

Assim pensando, Gerónimo meteu o nariz, de novo, no mundo. Em peleja desigual, contudo, terminou perseguido e acuado pelos exércitos americano e mexicano. Para não ser morto covardemente, se deixou dominar.

Logo fugiu temendo nova traição. Naquele tempo as fofoquinhas corriam à solta. Agora, por algum motivo, o juiz Sergio Moro estava em seus calcanhares. Que merda! Sua cabeça, nessa altura do campeonato, valia uma certa quantia em ouro.

Uma soma que daria para comprar doze coberturas idênticas ao do santo Lula (recém canonizado pelo Papa Francisco, em Roma) de frente para o mar bravio e encantado do esfuziante Guarujá.

Mas Gerónimo (foda e macho pra cacete), acorrentado nesse extremo esgar de resistência, andava meio capenga. Ruim das pernas. Comandava, agora, apenas vinte e quatro companheiros de sua total confiança.

O resto, senhoras e senhores, cada um deles querendo tirar o cuzinho da reta, em busca de perdão pelas falcatruas, prometeram se curvar às benesses das delações premiadas.

Sem saída, pés atados, Gerónimo se subjugou ao tenente Gatewood, como seu prisioneiro de guerra, isso em 4 de setembro de 1886. No fundo, uma leva enorme queria o guerreiro pendurado num cadafalso, metade da língua para fora, corpo para um lado, crimes para outro. 

Por razões até hoje não reveladas, os chefões da quadrilha (dizem que entre eles havia um número enorme de envolvidos com a empreiteira Odebrecht e a Petrobosta), o enviaram sob segurança máxima para a Flórida. Isso realmente foi uma Foda.

Da Florida para Fort Sill (em Oklahoma), em 1894.  Em 17 de fevereiro de 1909, aos oitenta anos, Gerónimo veio a óbito, por ter contraído pneumonia. Ao todo, esteve preso por vinte e dois anos. Foi sepultado como prisioneiro de guerra. Neste mês de fevereiro, ou mais precisamente seis dias atrás, comemoramos, cento e oito anos da sua morte.   

Pois bem, amadas e amados, o certame violento entre brancos e apaches representou o delírio insano contido, ou o grito de estertor reprimido nos Estados Unidos da América. Da contenda nascida muitas coisas aconteceram inclusive com respingos em terras brasileiras. A historinha meio estranha durou enquanto uma sociedade poderosa e desenvolvida tentou submeter outra sociedade, que se considerava uma parte atuante e dependente dessa mesma natureza.

Dos fatos aqui trazidos, em resumo, queremos deixar claro, que não havia mais lugar para apaches e seus sonhos no universo que se transformava em cada novo amanhecer. Gerónimo, nessa confusão sem precedentes, virou um expoente. Iluminado e escolhido a dedo entre sua estirpe, ou o que restou dela.

Com Goyathlay, fora do mundo dos vivos, se sepultou definitivamente uma raça de cidadãos temidos. Uma galera de sangue nas ventas, verdadeiramente belicosa. Gerónimo, provavelmente vislumbrou isso, ao dizer, quando se entregou pela derradeira vez ao tenentinho bunda suja do Gatewood: “Outrora, eu me movia como o vento, agora, rendo-me e é tudo”.

Em tempo: os leitores que quiserem se aprofundar mais na história de Gerónimo, na Internet existem dezenas de páginas que contam mais de sua história, vida e bravura. Sem falar numa série de filmes e livros que circulam em algumas livrarias e sebos espalhados por todo o país.

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Título e texto: Aparecido Raimundo de Souza, jornalista. Do Sítio ”Shangri-La” – Um lugar perdido no meio do nada. 24-2-2017

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