quinta-feira, 25 de outubro de 2018

[Pensando alto] O Instituto Datapedro e a anatomia do eleitor

Pedro Frederico Caldas

Políticos e fraldas devem ser trocados de tempos em tempos pelo mesmo motivo.
Eça de Queiroz

Pode-se enganar a todos por algum tempo; pode-se enganar alguns por todo o tempo; mas não se pode engar a todos todo o tempo. 
Abraham Lincoln

Os institutos de pesquisa tentam analisar o perfil dos eleitores, dividindo-os por regiões, escolaridade, renda, faixa etária e o escambau a quatro.

O “DATAPEDRO”, instituto recém-criado, tem seus próprios critérios de análise dos dados coletados. Sua metodologia não busca flagrar um instantâneo eleitoral, pouco se importa com quem vai ganhar, não quer saber de idade, de renda, de faixa etária e outras inutilidades.

O Datapedro não acredita em “cientista político”, o título mais boçal que já se deu a portador de diploma acadêmico. A política é a coisa mais volátil e imprevisível que há e ninguém tocado por bom senso edificaria qualquer ciência sobre base tão movediça.

Deixemos, todavia, os cientistas políticos de lado, que nenhum deles se mostrou capaz de antever o que está acontecendo na política nacional. Se deixassem as empoladas reuniões acadêmicas de lado e passassem a ouvir o quitandeiro, o policial humilhado, o diarista de roça e o trocador de ônibus, dentre muitas outras pessoas de existência real, melhor estariam armados para ao menos suspeitar daquilo que não foram capazes de antever.

O Datapedro foi a campo sem planilha, sem fichas para serem preenchidas, sequer entrevistou alguém, limitou-se a conversar com muita gente dos mais variados perfis, tanto dos que votam no Capitão quanto dos que votam na ficção Luladdad.

Partindo dessas conversas, em que mais ouviu do que falou, conseguiu traçar as grandes linhas do universo observado, não pesquisado, que a observação, meus amigos, é o que dá vida e conteúdo lógico aos dados disponíveis.

Partindo dessa realidade, o Datapedro começou a prestar atenção no perfil psicológico daquelas pessoas que sabe votarão no sujeito oculto ao digitar o nome do sujeito determinado, em obediência cega ao maior, como diria Odorico Paraguaçu, safadístico mandrakismo da política nacional.


O perfil mais genérico desse consciente eleitor é saber que ao fingir que está votando em quem ainda está solto, na verdade sufraga o nome daquele que está preso por corrupção, por este ser o seu anelo, a aceitação do súcubo pelo íncubo, num pesadelo em forma de sonho.

A segunda camada desse perfil implica uma disfunção cognitiva em que a pessoa, em conflito com seus valores morais, labora as mais variadas racionalizações para negar que o sujeito oculto seja um corrupto criminoso; então, sublima valores altaneiros, amortece a vigilância do superego para poder sapatear, sem culpa aparente, na lama moral.

A terceira camada se constitui no manto diáfano da bondade e da preocupação com os desvalidos. Ele, segundo acredita, é o único que se preocupa com os pobres, com as mulheres, com os homossexuais, com os negros, com os índios e com os que acreditam em disco voador.

No seu pensamento esvoaçante sobrepaira o planeta terra para observar, interpretar e dar solução ao que os alemães chamam Weltschmerz (Dor do mundo). Aqui, ele desanda pela engenharia social. Acha que a sociedade pode ser moldada, a palavra de Deus ser revogada, com a reentronização de Adão e Eva no paraíso, nem que para isso tenha que, como a mula do profeta Balaão, deixar que o Profeta de Garanhuns o cavalgue.

Há os que são movidos pelo corte ideológico. São aqueles que acreditam e querem o socialismo a qualquer custo. Para estes, não importa o roubo, o assalto aos cofres públicos ou a má gestão econômico-financeira da era petista. Há que se olhar para o outro lado para não enxergar o que se viu, tudo, absolutamente tudo é escusado em nome do objetivo final, a implantação do socialismo.

Não adianta você argumentar que o socialismo nunca deu certo, que fracassou em todos os países onde foi experimentado. Não adianta, ele acha que um dia vai dar certo, caindo na definição de insanidade dada por Einstein: fazer repetidamente a mesma coisa na busca de resultados diferentes.

As outras pessoas, segundo sua visão de missionário, só estão preocupadas com os ricos, com a classe média, com os empresários, com os proprietários rurais, com os bem-sucedidos, com todas aquelas pessoas que, segundo acredita, estão na origem de todo o mal social.

Para ele, a pobreza tem uma só é única fonte: a exploração capitalista. “A riqueza tem que ser redistribuída”, proclama ele, sem, contudo, jamais meter a mão do bolso para dar início ao processo de redistribuição. Nada deve começar com o dinheiro dele, a farra dever sempre ser feita com o dinheiro alheio.

E o tal Datapedro não achou ninguém de boa-fé?

Claro que sim, todos acreditam piamente no que dizem e no que fazem e que portam a “bandeira de um futuro luminoso”, contanto que esse futuro esteja na direção apontada pelo dedo do presidiário, revelada nas sucessivas visitas do sujeito determinado ao sujeito oculto.

Obram, com a maior boa-fé, à semelhança dos membros da seita Borboletas Azuis e dos ufomaníacos de Alto Paraíso.

Há ainda uma grande massa de pessoas brutalizadas pela pobreza, gratas a um pequeno plano de assistência social, criado no governo Fernando Henrique, espertamente batizado e ampliado por Lula sob o nome de Bolsa Família.

Qualquer pessoa que se mostre adversário de peso será denunciada pelo PT como alguém que irá destruir esse sistema de assistência social. Grande parte dessas pessoas são movidas a apoiar o partido pelo temor de que o Bolsa Família seja extinto. Há algo mais. Muitos deles ainda veem Lula como um igual, como uma pessoa em que se projetam, não importa que Lula tenha ficado milionário, no curso de dezesseis anos, tendo a política como única atividade.

Há um outro grupo, imenso, que, de uma forma ou de outra, vive de ordenhar os recursos públicos. Façam como o Datapedro, olhem o seu entorno, vejam quantos desses vocês conhecem que vivem pendurados em cargos públicos, sem concurso, ou criaram empresas do nada para vender bens e serviços aos órgãos públicos comandados por governos petistas. São os mais assanhados e os mais temerosos de perderem a “boquinha”. Uma grande parte deles nunca fez nada de produtivo na vida e dificilmente se aclimatará ao trabalho duro para sobreviver.

Há os que vivem das migalhas, como obter bolsas de estudos no exterior, não para estudar alta ciência, normalmente gastando dinheiro do pobre contribuinte para os estudos de humanas, mestrado de pandeiro no Nepal, doutorado em tuba no Azerbaijão, ou pós-doutorado em berimbau na Sorbonne.

Há ainda aqueloutros que funcionam como faróis. É a esquerda acadêmica, verdadeiros mestres da engenharia social; aqueles que acham ter as ferramentas para consertar o mundo; aqueles que não se conformam que pessoas, sem grande cabedal de conhecimento, tenham alcançado sucesso econômico somente com tino empresarial, arrojo, assunção de riscos e trabalho duro.

É o eterno ressentimento que sempre esteve na base de todos que pensaram as revoluções. “Se nós sabemos mais, por que não temos mais do que eles?”.

Essa tribo sempre esteve à frente das grandes revoluções e, ao final, sempre foram por elas devorados. Sabem disso, estudaram tudo isso, mas, como as mariposas, estarão sempre esvoaçando em torno da luz do poder. A cada expurgo que os regimes totalitários fizeram, uma multidão deles foi destruída. Não importa, estarão sempre fazendo a mesma coisa na espera de resultados diferentes.

Há algo mais nesse universo eleitoral estudado pelo Datapedro?

Há, sim, pois, como na Arca de Noé, de cada bicho há um casal.

Todavia, fiquemos por aqui. Não há espaço suficiente nestas mal traçadas linhas para sumarizar uns dois tomos de pesquisa.

Assim, recolhendo meu cavalete e meus pinceis de traçar perfis, desejo um fim bom fim de semana a todos, com um domingo de grandes feitos, capitaneado pelo que houver de melhor.
Título e Texto: Pedro Frederico Caldas, Aventura, EUA, 25-10-2018

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