Políticos e fraldas devem ser trocados de tempos em tempos pelo
mesmo motivo.
Eça de Queiroz
Pode-se enganar a todos por algum tempo; pode-se enganar alguns
por todo o tempo; mas não se pode engar a todos todo o tempo.
Abraham Lincoln
Os institutos de pesquisa tentam analisar o perfil dos
eleitores, dividindo-os por regiões, escolaridade, renda, faixa etária e o
escambau a quatro.
O “DATAPEDRO”, instituto recém-criado, tem seus próprios
critérios de análise dos dados coletados. Sua metodologia não busca flagrar um
instantâneo eleitoral, pouco se importa com quem vai ganhar, não quer saber de
idade, de renda, de faixa etária e outras inutilidades.
O Datapedro não acredita em “cientista político”, o título
mais boçal que já se deu a portador de diploma acadêmico. A política é a coisa
mais volátil e imprevisível que há e ninguém tocado por bom senso edificaria
qualquer ciência sobre base tão movediça.
Deixemos, todavia, os cientistas políticos de lado, que
nenhum deles se mostrou capaz de antever o que está acontecendo na política
nacional. Se deixassem as empoladas reuniões acadêmicas de lado e passassem a
ouvir o quitandeiro, o policial humilhado, o diarista de roça e o trocador de
ônibus, dentre muitas outras pessoas de existência real, melhor estariam
armados para ao menos suspeitar daquilo que não foram capazes de antever.
O Datapedro foi a campo sem planilha, sem fichas para serem
preenchidas, sequer entrevistou alguém, limitou-se a conversar com muita gente
dos mais variados perfis, tanto dos que votam no Capitão quanto dos que votam
na ficção Luladdad.
Partindo dessas conversas, em que mais ouviu do que falou,
conseguiu traçar as grandes linhas do universo observado, não pesquisado, que a
observação, meus amigos, é o que dá vida e conteúdo lógico aos dados
disponíveis.
Partindo dessa realidade, o Datapedro começou a prestar
atenção no perfil psicológico daquelas pessoas que sabe votarão no sujeito
oculto ao digitar o nome do sujeito determinado, em obediência cega ao maior,
como diria Odorico Paraguaçu, safadístico mandrakismo da política nacional.
O perfil mais genérico desse consciente eleitor é saber que ao fingir que está votando em quem ainda está solto, na verdade sufraga o nome daquele que está preso por corrupção, por este ser o seu anelo, a aceitação do súcubo pelo íncubo, num pesadelo em forma de sonho.
A segunda camada desse perfil implica uma disfunção
cognitiva em que a pessoa, em conflito com seus valores morais, labora as mais
variadas racionalizações para negar que o sujeito oculto seja um corrupto
criminoso; então, sublima valores altaneiros, amortece a vigilância do superego
para poder sapatear, sem culpa aparente, na lama moral.
A terceira camada se constitui no manto diáfano da bondade e
da preocupação com os desvalidos. Ele, segundo acredita, é o único que se
preocupa com os pobres, com as mulheres, com os homossexuais, com os negros,
com os índios e com os que acreditam em disco voador.
No seu pensamento esvoaçante sobrepaira o planeta terra para
observar, interpretar e dar solução ao que os alemães chamam Weltschmerz (Dor
do mundo). Aqui, ele desanda pela engenharia social. Acha que a sociedade pode
ser moldada, a palavra de Deus ser revogada, com a reentronização de Adão e Eva
no paraíso, nem que para isso tenha que, como a mula do profeta Balaão, deixar
que o Profeta de Garanhuns o cavalgue.
Há os que são movidos pelo corte ideológico. São aqueles que
acreditam e querem o socialismo a qualquer custo. Para estes, não importa o
roubo, o assalto aos cofres públicos ou a má gestão econômico-financeira da era
petista. Há que se olhar para o outro lado para não enxergar o que se viu,
tudo, absolutamente tudo é escusado em nome do objetivo final, a implantação do
socialismo.
Não adianta você argumentar que o socialismo nunca deu
certo, que fracassou em todos os países onde foi experimentado. Não adianta,
ele acha que um dia vai dar certo, caindo na definição de insanidade dada por
Einstein: fazer repetidamente a mesma coisa na busca de resultados diferentes.
As outras pessoas, segundo sua visão de missionário, só
estão preocupadas com os ricos, com a classe média, com os empresários, com os
proprietários rurais, com os bem-sucedidos, com todas aquelas pessoas que,
segundo acredita, estão na origem de todo o mal social.
Para ele, a pobreza tem uma só é única fonte: a exploração
capitalista. “A riqueza tem que ser redistribuída”, proclama ele, sem, contudo,
jamais meter a mão do bolso para dar início ao processo de redistribuição. Nada
deve começar com o dinheiro dele, a farra dever sempre ser feita com o dinheiro
alheio.
E o tal Datapedro não achou ninguém de boa-fé?
Claro que sim, todos acreditam piamente no que dizem e no
que fazem e que portam a “bandeira de um futuro luminoso”, contanto que esse
futuro esteja na direção apontada pelo dedo do presidiário, revelada nas
sucessivas visitas do sujeito determinado ao sujeito oculto.
Obram, com a maior boa-fé, à semelhança dos membros da seita
Borboletas Azuis e dos ufomaníacos de Alto Paraíso.
Há ainda uma grande massa de pessoas brutalizadas pela
pobreza, gratas a um pequeno plano de assistência social, criado no governo
Fernando Henrique, espertamente batizado e ampliado por Lula sob o nome de
Bolsa Família.
Qualquer pessoa que se mostre adversário de peso será
denunciada pelo PT como alguém que irá destruir esse sistema de assistência
social. Grande parte dessas pessoas são movidas a apoiar o partido pelo temor
de que o Bolsa Família seja extinto. Há algo mais. Muitos deles ainda veem Lula
como um igual, como uma pessoa em que se projetam, não importa que Lula tenha
ficado milionário, no curso de dezesseis anos, tendo a política como única
atividade.
Há um outro grupo, imenso, que, de uma forma ou de outra,
vive de ordenhar os recursos públicos. Façam como o Datapedro, olhem o seu
entorno, vejam quantos desses vocês conhecem que vivem pendurados em cargos
públicos, sem concurso, ou criaram empresas do nada para vender bens e serviços
aos órgãos públicos comandados por governos petistas. São os mais assanhados e
os mais temerosos de perderem a “boquinha”. Uma grande parte deles nunca fez
nada de produtivo na vida e dificilmente se aclimatará ao trabalho duro para
sobreviver.
Há os que vivem das migalhas, como obter bolsas de estudos
no exterior, não para estudar alta ciência, normalmente gastando dinheiro do
pobre contribuinte para os estudos de humanas, mestrado de pandeiro no Nepal,
doutorado em tuba no Azerbaijão, ou pós-doutorado em berimbau na Sorbonne.
Há ainda aqueloutros que funcionam como faróis. É a esquerda
acadêmica, verdadeiros mestres da engenharia social; aqueles que acham ter as
ferramentas para consertar o mundo; aqueles que não se conformam que pessoas,
sem grande cabedal de conhecimento, tenham alcançado sucesso econômico somente
com tino empresarial, arrojo, assunção de riscos e trabalho duro.
É o eterno ressentimento que sempre esteve na base de todos
que pensaram as revoluções. “Se nós sabemos mais, por que não temos mais do que
eles?”.
Essa tribo sempre esteve à frente das grandes revoluções e,
ao final, sempre foram por elas devorados. Sabem disso, estudaram tudo isso,
mas, como as mariposas, estarão sempre esvoaçando em torno da luz do poder. A
cada expurgo que os regimes totalitários fizeram, uma multidão deles foi
destruída. Não importa, estarão sempre fazendo a mesma coisa na espera de
resultados diferentes.
Há algo mais nesse universo eleitoral estudado pelo
Datapedro?
Há, sim, pois, como na Arca de Noé, de cada bicho há um
casal.
Todavia, fiquemos por aqui. Não há espaço suficiente nestas
mal traçadas linhas para sumarizar uns dois tomos de pesquisa.
Assim, recolhendo meu cavalete e meus pinceis de traçar
perfis, desejo um fim bom fim de semana a todos, com um domingo de grandes feitos,
capitaneado pelo que houver de melhor.
Título e Texto: Pedro
Frederico Caldas, Aventura, EUA, 25-10-2018
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