João Brás
Movimentos extremistas de
direita, por antidemocráticos, devem ser repudiados e ilegalizados. Contudo,
quando movimentos de esquerda recorrem a práticas semelhantes, recebem
frequentemente um tratamento mediático, político e jurídico distinto. Por quê?
No debate público
contemporâneo, os média do sistema difundem diariamente a ideia de que apenas a
esquerda encarna a noção de bem, apresentando-a como guardiã natural da
democracia. O seu opositor é quase sempre reduzido, de forma simplista, à
categoria de extrema-direita. Esta polarização empobrece o horizonte político e
inviabiliza a possibilidade de uma verdadeira pluralidade de visões. À esquerda
associam-se automaticamente os ideais de liberdade, justiça e democracia; já a
direita é representada como presença obscura, sinistra ou perigosa.
O conceito de antifascismo
surge, de igual modo, monopolizado pela esquerda, mesmo quando esta pouco
conserva da sua matriz histórica genuína. Mais do que isso, o antifascismo é
tratado como sinónimo imediato de justiça, ocultando que a história conheceu
também um antifascismo perverso, instrumentalizado para fins de violência e
intimidação. Em nome dele praticaram-se atos de repressão, terrorismo e
perseguição política, não raramente comparáveis em brutalidade a outros
movimentos extremistas. Reconhecer esta ambivalência não significa negar o
valor da luta contra o fascismo autêntico, mas recusar a sacralização de um
conceito que, usado sem discernimento, se transforma em arma ideológica e em
justificação do arbítrio.
Os movimentos extremistas de direita, por antidemocráticos, devem ser repudiados e ilegalizados. Contudo, quando movimentos de esquerda recorrem a práticas semelhantes, recebem frequentemente um tratamento mediático, político e jurídico distinto. Porquê? Porque prevalece uma ideia propagandística, quase dogmática, segundo a qual todo o antifascismo seria, por definição, bom. Mas será assim tão simples? As FP-25 de Abril, em Portugal, não se apresentavam como antifascistas? E a RAF alemã ou as Brigadas Vermelhas italianas não reivindicavam também um antifascismo revolucionário inspirado no comunismo? E os grupos anarquistas e eco-radicais mais recentes não partilham essa bandeira? O simples facto de um movimento se autodesignar antifascista não lhe confere qualidade moral automática. O rótulo não absolve a violência, e o antifascismo contemporâneo é igualmente responsável por numerosos episódios de violência política.
O Relatório da Interpol de
2024 é esclarecedor: registaram-se 120 ataques terroristas na União Europeia em
2023. Retirando 70 ataques etno-separatistas na Córsega, restam 50 atentados.
Destes, 32 foram da extrema-esquerda ou anarquistas, 14 de jihadistas islâmicos
(com 6 mortos e 12 feridos), 2 da extrema-direita, ambos frustrados, e 2 de
outras motivações. Os números desmentem a narrativa oficial: a violência
política não é monopólio da direita radical. Também a esquerda recorre à
intimidação, ao tumulto e ao atentado. O movimento Antifa, muitas vezes
apresentado como o resultado de uma rede espontânea de resistência, é em muitos
casos uma estrutura extremista organizada, empenhada em desestabilizar a
democracia liberal e destruir instituições fundamentais como polícia,
tribunais, liberdade de expressão e Estado de direito.
Importa questionar-nos por que
razão persiste a narrativa de que existe um ódio bom, o da esquerda, e um ódio
mau, o da direita, e por que motivo certa comunicação social é responsável por
essa mistificação. Essa visão tem uma história: assenta na tradição marcusiana
e na hegemonia cultural gramsciana. As elites políticas, académicas e
mediáticas legitimaram a violência revolucionária da esquerda, enquanto
demonizaram qualquer manifestação de direita. Daí a assimetria: práticas
semelhantes recebem enquadramentos distintos apenas pelo sinal ideológico que
ostentam.
Andy Ngo, em Unmasked:
Inside Antifa’s Radical Plan to Destroy Democracy, publicado em 2021,
documenta a rede internacional do Antifa. O livro gerou polémica quando Winston
Marshall, guitarrista dos Mumford & Sons, o elogiou publicamente. Foi alvo
de campanha de cancelamento e acabou por abandonar a banda, exemplo de como
criticar o antifascismo militante se tornou objeto de censura cultural.
Karl Popper, no paradoxo da
tolerância, advertiu que uma sociedade aberta só sobrevive se for capaz de se
defender de quem procura destruí-la em nome da liberdade. A violência política
não se torna legítima por vir da esquerda, nem um atentado é aceitável porque
invoca a justiça social. Como lembrou Max Weber, no Estado de direito o
monopólio da violência legítima pertence ao Estado. Quando grupos radicais se
arrogam esse poder, minam os fundamentos da ordem democrática.
Convém, contudo, distinguir:
existe um antifascismo com raízes históricas, mas também um antifascismo
revolucionário que recusa o pluralismo e usa a violência no seio das
democracias. Ignorar esta diferença é ceder ao mito de que a violência é
aceitável quando vem da esquerda. Um soco, uma bala ou uma bomba não se tornam
mais justos por serem antifascistas. O silêncio das elites e a indiferença
institucional favorecem o crescimento de um radicalismo mascarado de virtude,
mas profundamente totalitário.
Hoje, a designação de fascista
banalizou-se, fruto da ignorância e da má-fé. O mesmo acontece com o conceito
de nazi, entre outros. Esta banalização, usada como insulto e instrumento de
difamação do adversário, constitui paradoxalmente a forma mais perigosa de
branqueamento desses termos. Ao reduzir realidades históricas de violência e
totalitarismo a simples rótulos de agressão verbal, esvazia-se a gravidade dos
conceitos e impede-se a sua compreensão autêntica, transformando-os em armas de
retórica em vez de advertências da história.
Existe, de facto, um
antifascismo terrorista.
Título e Texto: João Maurício Brás, SOL, 30-9-2025, 12h57
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