segunda-feira, 17 de março de 2014

[O cão tabagista conversou com…] Nelson Cirtoli: “Comecei a trabalhar aos 9 anos, como leiteiro”

Nome completo: Nelson Cirtoli
Nome de guerra: F/E Cirtoli
Onde nasceu? Nasci em Caxias do Sul/RS
Quando começou a trabalhar?
Comecei a trabalhar, assalariado, aos 9 anos, como leiteiro. Acordava às 4h da manhã, caminhava uns 4km até o local. Buscava o cavalo no pasto, encilhava e colocava os litros de leite em sacolas nos dois lados, de modo a ficar equilibrado. Às 8h estava na escola.
Com 10 anos passei a trabalhar como empalhador de garrafões, que era um trabalho muito árduo, pois o trançar da casca de vime, ora por cima ora por baixo dos palitos verticais, principalmente no inverno, machucavam os dedos.
Com 14 anos entrei no SENAI cursando Ajustagem.

Onde começou?
Concluído o curso no SENAI, entrei no SENAI-VARIG, em 1961, com 17 anos de idade, terminando o curso em dezembro de  1962, quando fui para a Manutenção.

Que começo de vida belo e comovente!
Mas... aos 9 anos assalariado?!
Recebia 80 cruzeiros por mês. Comprei um par de sapatos envernizados por 130 cruzeiros.
Naquele tempo, estamos falando da década de 50, era normal crianças trabalharem. Diga-se de passagem não era uma ordem de meus pais, foi uma iniciativa minha. Precisei pedir ao meu pai para que me deixasse trabalhar.

Um tempo em que o trabalho forjava o homem…
Pode parecer exagero, mas era assim, tanto na colônia italiana como na alemã. O trabalho com responsabilidade começava muito cedo e não era trabalho escravo. Acredito que a cultura portuguesa não foge muito disso. É claro que falo de famílias pobres e com muitas crianças. O F/E Antenor é meu irmão, ele está com 66 anos, eu estou com 70 anos. Era eu quem dava banho nele, num riacho que tinha no nosso terreno e que tinha uma tábua de lavar roupa. Nessa tábua de lavar roupa eu dava banho nele. Veja o perigo. Eu deveria ter 4 ou 5 anos dando banho num nenê num riozinho, pequeno, mas perigoso. Sei que é difícil de entender e acreditar, mas era assim e não era só na minha família, era cultural mesmo…

Não, não é dificil de entender…
Você disse que entrou no SENAI Varig… o que era isso?
Era a escola de manutenção. A Varig mantinha um convênio com o SENAI. Era um curso de dois anos, das 8 às 17h, com uma hora para almoço. Quinze dias de Teoria e outros quinze de Prática nas oficinas.

Pois bem, então ingressou na Manutenção da Varig, em 1962, tinha 18 anos…
Tá certo. Na Manutenção, já formado, em dezembro de 1962. Comecei o curso no início de fevereiro de 1961.

Deduzo, desde já, que a Varig foi o seu único emprego…
Não, eu saí da Varig em 1967 e voltei em 1970. Trabalhei três anos na Agrale, fábrica de tratores em Caxias do Sul.

Voltou para a Manutenção?
Não, voltei para o voo como Mecânico de Voo, no Electra.

Aeroporto Santos Dumont, abril de 1991, foto: Charles Osta

Muitas ‘estórias’ no Electra?
Não. Eu era muito inibido. Continuo sendo, mas aprendi a disfarçar.
Fui demitido numa época de excesso de M/V, numa sexta-feira, e na segunda readmitido por interferência de amigos de longa data, que consideraram injusto o meu afastamento.

Isso aconteceu em…?
A data certa não lembro, mas foi lá pelo terceiro trimestre de 1970.

Até quando voou Electra?
Abril de 1974.

Foi promovido para…
B-707, onde fiquei até 1987, quando fui para o DC-10. Em 1995 fui para o B-747.

Quais as cidades onde gostava mais de pernoitar?
Sem estar na ordem: Lisboa, Madrid, Roma, Paris, Copenhague, Frankfurt, Amsterdam e Londres.
Na verdade me identificava e me identifico com as variantes culturais da Europa, mais que dos Estados Unidos e outros. Pernoites no Canadá eram muito bons também.

Você se aposentou ou é demitido?
Aposentei, meio que obrigado. Estava com 55 anos, com direito ao Aerus, portanto. Caso eu não me aposentasse os mais jovens seria demitidos. Deves lembrar do excesso de gente em meados de 1999. Saí com acordo. Recebi uma boa grana.

Já voltaremos a 1999.
Agora retrocedamos ao início da sua militância sindical. Quando foi?
Comecei na AMVVAR como presidente em 1987, época daquelas duas greves seguidas, em dezembro de 1987 e abril de 1988. Lembra?

Lembro sim. Mas a segunda não foi no Carnaval de 1988? As empresas demitiram os presidentes do SNA e da APVAR e muitos aeronautas…
Isso mesmo.

O então presidente do SNA, José Caetano Lavorato Alves, foi o único a não ser readmitido.
Passados 26 anos qual a sua opinião sobre essa não readmissão?
Jogada politica do Lavorato. A Varig o chamou para ser readmitido por pressão e ele não aceitou. Tinha informações que a anistia dele seria barbada. Sabia que ia ganhar mais como anistiado e poderia exercer outra função no governo do PT. Só o que recebeu de salários atrasados… e hoje o salário dele é o segundo ou terceiro maior entre eles.

Nessa época, Lavorato já era um quadro político do PT, mais do que propriamente um militante sindical…
Com certeza, e mais interessado na política do que em ser piloto. No governo da Marta, em São Paulo, ele era presidente do Banco Popular, depois foi presidente da Associação Brasileira dos Dirigentes de Entidades Gestoras e Operadoras de Microcrédito (Abcred).

Por onde ele anda agora, você sabe?
Não tenho ideia.

E quando você chega ao SNA?
Quanto ao SNA, não frequento. Tenho verdadeira ojeriza daqueles caras.
Nos prejudicaram demais na falência da Varig. Estavam engajados com o Zé Dirceu, contra a Varig.

Compreendo. Falaremos desse episódio.
Perguntei quando você chegou à direção do sindicato?
Terminada a minha gestão na AMVVAR, fui ser diretor no SNA, assumindo a Diretoria de Saúde do Aeronauta.
Gostei muito. Organizei inúmeros eventos:
Congresso "Saúde do Aeronauta”, cinco dias em Teresópolis, Estado do Rio de Janeiro;
Saúde da mulher aeronauta;
AIDS;
Trabalho noturno dos aeronautas e os voos transmeridianos;
Saúde na Aviação agrícola em Pelotas/RS;
E, outros que eu já nem lembro.

Nessa época fiz um curso sobre saúde do trabalhador na Fiocruz, cujo trabalho final do meu grupo foi a escrita de um livreto sobre o assunto, com pesquisa de opinião no Despacho Operacional do AIRJ. O título foi "VOLERE VOLARE".

A propósito de saúde, você se formou em Medicina?
Sim, em Teresópolis/RJ

Licenciou-se?
Não, continuo ativo. Mas aqui, em Arroio do Sal, não dá para clinicar de forma particular. O SUS aqui é bem organizado e dá tudo o que for necessário para a cura. Fui Secretário da Saúde durante três anos e meio. Não quis mais me envolver. Fui presidente do PDT por 10 anos. Nesse período elegemos, pela primeira vez na história, o prefeito e o reelegemos. Mas a política não é para mim. Eu estou mais para técnico. Não suporto a relação politica onde o mais importante é a reeleição, ou o nome das pessoas, e não o coletivo.

Durante minha passagem pela saúde diminuímos em 50% os infartos do miocárdio e os AVC's.
Criamos um programa de saúde do homem (Arroio do Sal é o município de maior percentual de velhos no Litoral norte do RS). Contratamos para isso um urologista/andrologista, pois as denças da próstata e impotência de ereção são uma realidade muito frequente após a meia idade. O programa foi um sucesso, seu slogan de boca a boca era: “em Arroio do Sal só é brocha quem quer”.

Ainda no SNA, você chega à presidência…
Terminada aquela gestão em que era diretor de saúde, o Pleno me elegeu presidente. Foi um trabalho do Lavorato, pois nunca um não comandante havia chegado à presidência. Com certeza se arrependeu pelo que ocorreu na minha gestão.

Cirtoli, abrindo um parêntese na cronologia da conversa, o que achas do estranho desaparecimento do MH 370?
Tá com pinta de terrorismo, (dois passaportes falsos) ou explosão.
É parecido com o nosso Boeing 707, cargueiro, PP-VLU, que desapareceu depois de decolar de Tóquio. Nunca ninguém disse nada com seriedade.

Recuperando a cronologia, do que Lavorato pode ter-se arrependido?
Para início de conversa, como deves saber, tínhamos uma boa gráfica.
Num dos primeiros dias de gestão o administrador me perguntou quanto deveríamos cobrar por uns cartazes da CUT. Disse-me que normalmente não se cobrava.
Sugeri a ele calcular o custo do material e acrescentar 10%, por ser material referente a saúde. Nos pedidos futuros, 50% de sinal e o restante na entrega. A CUT nunca mais apareceu no SNA e o Lavorato ficou danado comigo, é lógico. Os aeronautas sustentavam campanhas do PT e da CUT…
Mais tarde, com dois anos de gestão descobrimos um desvio de 10 mil dólares por mês. Mandei apurar e ameacei com prisão.
Era o dinheiro dos estacionamentos que nunca entraram nos cofres do SNA, era repartido entre um grupo.
Logo depois o Lavorato convocou uma reunião do pleno e me destituíram da presidência e elegeram o Lavorato. (Biografia de Lavorato no portal DIEESE Memória)
Entrei com uma ação na justiça e provei que existia roubalheira. O representante do SNA em São Paulo foi condenado a dois anos de prisão na primeira instância.

Foi nessa reunião que alguém teria mostrado um revólver?
Não, não foi. A reunião foi tranquila, filmada, eu havia chegado à conclusão que eu não deveria continuar. Se existia um grupo grande querendo que eu saísse não teria ambiente político para continuar. Até porque o número que se locupletava era grande.
Eu era presidente da FNTTA e continuei, e o SNA fundou outra federação em cuja ‘sede’ a secretária apareceu estrangulada com um fio de telefone, mas disso eu não quero falar abertamente.

Lembro muito bem desse triste acontecimento. (Por acaso fui um dos primeiros a chegar à portaria da Avenida Franklin Roosevelt, nº 194…)

Mas você estava nessa reunião?
Estava. Fui com um advogado à delegacia da Praça Mauá e registramos queixa. O Diretor foi chamado a depor. Não sei o resultado.  Coisa de desequilibrado, nem vou citar o nome.

Pois é… voltando aos quadros políticos nos sindicatos… Julgo que Lavorato terá levado para o Partido dos Trabalhadores grande parte da diretoria dele.
Na sua diretoria tinha gente do PCB ou PCdB, não?
Você mesmo, já era militante do PDT?
Tinha o Gusmão e o Moraes Rego do PCB. Eu só me filiei ao PDT em Arroio do Sal.
Sempre fui contra misturar sindicato ou associação com um partido, pois a categoria que sustenta e luta pelo sindicato é de vários partidos. Por que razão o meu partido deveria ser beneficiado?

Você sai do SNA (em que ano mesmo?) e continua presidente da FNTTA até quando?
Entrei em 92 e saí em 94, um ano antes do término da gestão. Na Federação, fiquei mais uns dois anos, não lembro bem.

Essa Federação era filiada à CONTTMAF?
Sim, a que eu era coordenador (presidente).

Ok, você sai da vida sindical em 1994, continua voando até 1999 e se aposenta, certo?
Aí, o que você vai fazer?
Vim para Arroio do Sal. Primeiro precisei convencer a Bárbara (minha mulher, ex-comissária) a vir. Chegando aqui comprei a parte da família na casa da praia e comecei a construir num terreno ao lado que havia comprado há pouco. Em 2001 a casa ficou pronta e mudamos.

E fica(m) de papo para o ar?
Eu me engajei no PDT e logo virei presidente.
Temos um terreno de uns 900 metros quadrados de horta e frutíferas, então tenho bastante trabalho. É o que eu mais gosto de fazer e temos mais três cachorras que são nossas grandes amigas.

Me desculpe relevar a sua redundância quando escreve que tem três cachorras "que são nossas grandes amigas"...
Bobagem minha, mas elas estão sempre prontas para um carinho…

Não é bobagem, de jeito nenhum!
Amar animais é privilégio de GENTE.
Meu melhor amigo faleceu em dezembro...
Há dois anos perdi uma rotweiller de câncer ósseo. Amputamos a perna, fez quimio e morreu 7 meses depois. Fui obrigado a fazer eutanásia…

Voltando a Arroio, a vida corre pelo melhor, mas a nossa ex-empregadora parece estar com problemas… quando notou?
Quando do não pagamento do leasing dos 767 e que queriam levar, ou levaram, não lembro, foi antes de 2000. E a APVAR finalmente foi quem realmente levantou a lebre.

Só para situar, quem presidia a Varig e a APVAR nesse ano?
Nesse ano saíu o Fernando Pinto e assumiu o Ozires Silva.
Na Apvar era um jovem comandante, abandonou a aviação e está cuidando da fazenda da família perto da Argentina: Flávio Souza.

Então, você se apercebe da crise (séria) da Varig e o que faz?
Criamos um debate na AMVVAR para nos unirmos à APVAR e ACVAR e tentarmos fazer alguma coisa. Foi criado o "Trabalhadores do Grupo Varig" que tinha ainda a associação da Nordeste e da Rio-Sul.

Rio-Sul Boeing 737-500, aeroporto internacional de Recife, fevereiro de 1998. Foto: Torsten Maiwald

Qual foi o primeiro ato (ou reivindicação) da TGV? 

A reivindicação da TGV foi desde o início o não fechamento da Varig e a garantia de operacionalidade do AERUS. Para isso foram contratados técnicos do nível de Paulo Rabelo de Castro, Escritório de advocacia do Jorge Lobo e do Otávio Neves.
Tínhamos alternativas e oferecemos, como disse Paulo Rabelo de Castro em artigo recente:
“os próprios funcionários deram a solução: disponibilizaram seus recursos no fundo de pensão e seus créditos laborais para serem convertidos em capital novo. A empresa, assim, daria a volta por cima. Na ocasião, eles trariam como sócio minoritário a LAN. Mas, na época, para o Governo, a TAM era a empresa ‘capaz de ensinar os variguianos a administrar uma companhia aérea’”, conta Paulo Rabello. Hoje, adivinhem quem é a majoritária do capital da TAM?? A LAN!


“O não fechamento da Varig” soa vago pela obviedade: ninguém queria que ela fechasse…
Mas é a expressão que me vem a mente. Na realidade, o que se buscava era a preservação dos empregos. Tanto que a alternativa foi a associação com um grupo estrangeiro. Chegamos a entregar um cheque, num leilão, de 75 milhões de dólares e nesse exato momento o governo virou o jogo, apresentando dívidas ao INSS da RIO-SUL, mudando assim repentinamente as regras. O investidor diante dessa nova circunstância retirou seu cheque e se afastou.
No leilão seguinte a Varig foi entregue a uma empresa abutre de Nova Iorque, através do chinês Lap Chan, por 24 milhões de dólares, sem cobranças de dívida nenhuma pelo governo. Posteriormente, a Varig foi revendida para a Gol por 240 milhões de dólares, se não me falha a memória.

Foto: Gianfranco Beting

Dá a entender que houve manifesta má vontade por parte do governo…
Má vontade não, houve manipulações do governo o tempo todo, para que a Varig não se reerguesse, uma espécie de vingança, que o Brasil pagou e paga muito caro. São milhões de dólares que deixaram, deixam e deixarão de fluir para o Brasil, por essa incompetência de governar do PT, além da perda de mercado de trabalho de nível internacional, que não foi substituído pelas nacionais. Esse mercado foi entregue de mãos beijadas a outras empresas internacionais. Modo de administrar burro e estúpido, diria eu. Coisa de tapado intelectual.

E  sobre provável má gestão por parte dos administradores da companhia…?
Claro que existia. Mas, uma empresa que até 1994 era proprietária de todos os seus aviões e só a partir desse ano passou a efetuar leasing de seus aviões estava bem administrada. Teve que vender ou alugar esses aviões em virtude das consequências do fatídico Plano Cruzado (em 28 de fevereiro de 1986), que congelou o valor das passagens aéreas, com seus custos de manutenção e combustível dolarizados.

A Varig não faliu por má gestão empresarial. Faliu por má gestão do governo Sarney, com o seu Plano Cruzado, pelo governo Collor, com sua abertura dos céus às estrangeiras. Para exemplificar: a Varig transportava cerca de 75%, por ano, dos passageiros entre Nova Iorque e Brasil e vice-versa. Com a abertura às estrangeiras a soma da Varig, Vasp e Transbrasil atingia a cifra de 27% dos passageiros transportados/ano, ou seja, a política foi boa para as estrangeiras. O governo FHC se manteve mudo, indiferente, e o do PT acabou definitivamente com a Varig. Mesmo assim precisou trambicar, porque se tivesse honrado a compra da Varig em leilão pela TGV e LAN, a Varig estaria voando. Mas, tinham que nos trambicar, seu ADN não suportaria ver a Varig recuperada pelo esforço de seus próprios trabalhadores. E mais, essa venda por $24 milhões e sua recompra por $240 milhões deve ter sido muito lucrativa para o Brasiiil.

O juiz Ayoub anulou o leilão porque, alegou ele, o consórcio TGV não teria apresentado garantias…
Se eledisse isso ele mentiu. O nosso investidor se retirou quando o governo apresentou dívidas para serem descontadas dos 75 milhões de dólares. A regra era o dinheiro da compra ser investido na recuperação.
Eu estava nesse leilão. Foi no hangar do Santos Dumont. Estávamos em centenas. Vimos quando o cheque foi entregue. Devo ter ainda comigo a carta cobrança de dívida do INSS da Rio-Sul.
As palavras do juiz Ayoub não são parâmetros para nada. Não têm crédito, ao menos para mim.

Em resposta anterior você afirmou, se referindo ao SNA – Sindicato Nacional dos Aeronautas: “Nos prejudicaram demais na falência da Varig. Estavam engajados com o Zé Dirceu, contra a Varig.
Foi a leitura que fizemos na época, uma vez que o José Dirceu tinha ligações familiares com a TAM. Como justificar que a presidente do SNA leva o voto ao contrário do decidido em assembléia por centenas de trabalhadores da Varig?
Por que fazer o contrário do que havíamos decidido?
Por que se posicionar do mesmo lado dos interesses de membros do governo petista?
Isso não é peleguismo. É muito mais. Isso é traição.

Qual foi esse voto ao contrário?
Em assembleia específica dos trabalhadores da Varig, conforme estatuto do SNA decidimos pela não venda da Varig. A Graziella Baggio, no dia do leilão, através de uma liminar onde dizia que quem representava todos os trabalhadores, inclusos, portanto, os da Varig, era ela, presidente. E votou pela venda, que era o que o grupo do governo queria. Daí a traição.

Lamentavelmente, tudo isso ocorreu em meados de 2006. Oito anos passados, os ex-trabalhadores da Varig ainda não viram a cor dos seus direitos trabalhistas… os assistidos pelo Instituto Aerus viram seus benefícios serem garfados em 92%...
É verdade. E corremos o risco de esperar um bom tempo ainda…


Você não está nada otimista…
Como vê o recente julgamento do RE 571969?
Foi uma vitória maravilhosa com anos de atraso.
Foi o julgamento da defasagem tarifária que a Varig venceu. Não foram os aposentados do Aerus ou os ex-empregados que venceram.
Com esse dinheiro a Varig deverá, ou deveria, pagar  as suas dívidas.
Os credores de um modo geral costumam ser bem ágeis. O fisco, por exemplo, é voraz, a dívida para com a Petrobras relativa a combustíveis, também. É claro que por uma questão até humanitária, os trabalhadores que tinham salários atrasados, indenizações, e os aposentados e pensionistas do Aerus deveriam ter a preferência. Mas, temo que não seja bem assim.

O governo deverá, por obrigação de ofício, recorrer, mas não deverá mudar a essência do julgamento. Depois descerá para a primeira instância para cálculos. E há as ações da FRB e APVAR que solicitam o cancelamento da falência pois não obedeceu a regras legais.
Então, eu concluo que muita água vai passar por baixo dessa ponte antes de vermos a cor do dinheiro, se chegarmos a ver.

O juiz Ayoub é que vai decidir?
Não sei, acho que não, o circuito é outro, me parece. Mas se voltar para o Ayoub, não vai ser interessante para nós. Não tem a minha confiança.

Na verdade, amigo, se não houver espírito de justiça, o próprio governo, enquanto Fisco, e outros credores mais “rápidos”, vão colocar a mão na indenização antes dos empregados e aposentados da Varig, isso não foi dito por mim, mas por alguém que conhece…

Mas o Aerus não tem alguma prioridade, haja vista ter recebido como caução real o resultado dessa ação?
Quanto ao Aerus não sei. Não sei se a Varig poderia escolher o Aerus como sua preferida em pagar suas dívidas depois de falida.

O que aconteceu à TGV?
A TGV hibernou. Agora, hoje, com o resultado da ação as três associações iam se reunir para analisar o momento.

E o SNA na atualidade, hein?
O SNA, me informaram, que assumiu um comandante da Gol e que estaria havendo uma moralização.
Só não entendo é como os funcionários e aposentados da Varig continuam tendo que ouvir uma comissária da extinta Vasp. Não tem feeling, não merece a nossa confiança e é ligada ao PT e à turma que nos arruinou. Não tenho porque confiar nela, até porque já nos traiu uma vez.

E sobre o último presidente da Empresa, Marcelo Bottini, qual a lembrança?


Achei estranho a postura dele. Assim que a Varig foi doada ao Lap Chan foi para Miami e adquiriu uma grande e valiosa franquia.
 
Como está o Brasil?
O Brasil está lamentável. Estamos vivendo as lições de Gramsci. O comunismo está sendo instalado sem luta, lentamente, com a oposição muda. Estamos como a rã que, colocada num caldeirão, foi sentindo a água ficar quentinha até que ferveu.

As urnas são vulneráveis. O fabricante nos Estados Unidos foi multado em 118 mil dólares por fabricar urnas facilmente fraudáveis e ninguém fala nada no Brasil.

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6 comentários:

  1. Jonathas Filho
    Kirido Nelson Cirtoli, um bom tempo faz de todas essas recordações. Agora beiro os 69 anos, sem pilhérias é claro mas, quero deixar os meus parabéns à você que começou à trabalhar desde guri, igual a mim... com a responsabilidade de um homem já barbado. Ao ver tantas pessoas, principalmente homens que não fazem "porra" nenhuma e ainda se queixam da vida, vou levantar não só a aba do meu chapéu mas , todo ele. Esse nosso país não vai para frente porque temos "preguiça" de ser machos e irmos ambiciosamente à caça de melhores dias e combater... sim, combater àqueles que além de preguiçosos, aplicam a Lei de Gérson para se locupletar e se aproveitar dessa imensa massa ignorante chamada de brazucas, que se alimentam de circo pois pelo pão, preferem morrer à míngua do que amassar a massa nas escuras manhãs laborais, ficando na espera de mais uma bolsa que lhes será enviada, tornando-os cada vez mais indigentes e indignos pois não lutam por qualidade de vida. Parabéns prá vc, meu caro lutador e um forte abraço!!! Jonathas Filho

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  2. O companheiro (na real concepção da palavra, não esta implantada pelo PT) Cirtoli sempre foi o mais politizado dentre os seus pares. Ele foi o principal responsavel pela adesão da AMVVAR na luta que a co-irmã APVAR estava travando para salvar a Varig dos desmandos da FRB. Graças ao seu esclarecimento, conhecimento politico a AMVVAR entrou no lado correto desta luta. Sua perseverança e esforço em Assembleias e reuniões despertou colegas adormecidos/acomodados que vieram a aderir fortemente na batalha. Os aeronautas da Pioneira e principalmente os M/Vs devem muito do forte nome politico que a AMVVAR CONQUISTOU a este lutador. Desejo saude e vida longa a este amigo Dr. Nelson Cirtoli - Ass. M/V Oscar Burgel - TGV e Conselheiro AMVVAR

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  3. Cirtoli:
    Nesse imbróglio político(Varig x SNA) muito oportunismo e muitos interesses escusos.
    Interesse próprio então nem se fala. As vezes me sinto um idiota por não ter entendido
    que muitas vezes fui usado como "massa de manobra". Quando passar por Arroio do Sal
    dou uma paradinha para te dar um abraço. Vitão

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  4. Dr. Nelson Cirtoli: Quero dizer que sinto muitas saudades da época que voamos juntos, e eu sou testemunha do grande caráter altruísta que tens, até mesmo depois que te atraiçoaram no SNA, eu falei que ia sair também, me dissestes para ficar, porque se saíssem todas as boas pessoas, o SNA só teria maus para nos representar.
    Um abração do Weiss.

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  5. Prezado Cirtoli.
    Parabens por tua história de vida, que com certeza foi a base para a formação do teu bom caráter.
    Apóio totalmente o que falas sobre o atual SNA .
    Abraço com admiração.

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