terça-feira, 15 de abril de 2014

Aeropolis e seu reino animal

Francisco Barros
Viviam no mesmo reino animal de Aeropolis:
O Leão, o Lobo, a Hiena, a Ave de Rapina e o Camelo.

Eles viviam felizes e em harmonia, e sobreviviam da seguinte forma:
O Leão caçava, comia a parte nobre da caça, e o restante era distribuído pelos demais animais, com exceção do Camelo que, não sendo carnívoro, pastava tranquilamente, em paz, sem incomodar ninguém. Essa sociedade vivia assim feliz, muito feliz…

Até o dia em que Sua Majestade, o Leão, ficou doente, não podia mais caçar!
Formou-se o distúrbio, e a confusão entre os animais se agravava em decorrência da fome.

O Lobo então, faminto e preocupado com a sua situação, procurou o médico veterinárioe apelou:
"Como está o Leão, doutor? O senhor precisa recuperá-lo com a máxima urgência.”
O doutor veterinário, após olhar o relatório médico, respondeu:
“Senhor Lobo, o que a medicina pode fazer, já fez. O Leão já foi atendido, encontra-se extremamente debilitado e precisa rapidamente se alimentar, caso contrário ele vai morrer!”

O Lobo correu para a toca do Leão, e apavorado assim falou:
“Majestade, Majestade, estamos muito preocupados com a sua saúde.
O veterinário alertou que vossa majestade precisa, com urgência, se alimentar, caso contrário, vai falecer!"
O Leão, muito depauperado, com dificuldade até para falar responde: “Mas como eu vou me alimentar, se eu não posso caçar?"
O Lobo retrucou prontamente: “Permita-me uma sugestão Majestade?”
O Leão prontamente responde com certa dificuldade: “Claro que sim senhor Lobo!”
O Lobo, então, sugere: “Por que o senhor não come o Camelo, majestade?"
Contrariado, respondeu, o Leão: "Alto lá, isso é um ato de traição, deslealdade! Isso eu não permito na minha comunidade! Traição, jamais! Esteja certo disso, senhor Lobo!"
O Lobo: “Um momento, Majestade, um momento, e se ele se oferecer como pasto?”
O leão calou-se. E, como quem cala consente…

No dia seguinte, o Lobo foi para a toca do Leão, desta vez liderando toda a bicharada, e se expressou:
“Majestade, refleti muito sobre a nossa conversa de ontem e preocupadíssimo com a vossa recuperação cheguei à seguinte conclusão:
Eu, Lobo quero ter a honra e o privilégio de me oferecer como pasto, para a recuperação de Vossa Majestade!”

Imediatamente a Hiena contestou, gritando:
"Para! Você não, Lobo! Quem vai ter essa glória serei eu."

 A Ave de rapina, prontamente, retrucou aos berros:
"Nenhum de vocês! Quem vai ter essa honra e glória serei eu que tenho a carne mais tenra”.

O Camelo, vendo tanto gesto de altruísmo e bravura, não querendo ficar para trás, emocionado, falou:
“Majestade, eu gostaria de ter o privilégio de servir como pasto para a vossa recuperação!”
Era que o Lobo esperava e prontamente deu um bote certeiro e fatal no pescoço do Camelo, atirou-o aos pés do Leão, e falou vitorioso:
"Viu, Majestade, viu, Majestade… o Camelo se ofereceu! Viu, Majestade, o Camelo se ofereceu!”

Isso é política!
Alerta:
Em Aeropolis o Leão está doente. Tem muito Lobo rondando, atento. Cuidado para você não servir de Camelo.
Título, Imagens e Texto: Francisco Barros, ex-aeroviário da VARIG e aposentado do AERUS, 15-04-2014

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Um comentário:

  1. Gostei muito da criatividade do nosso amigo Francisco Barros! Fez-me logo lembrar uma fábula de Monteiro Lobato, que aproveitando o ensejo, transcrevo-a para conhecimento de todos:

    ** O LEÃO, O LOBO E A RAPOSA **
    Um leão muito velho e já caduco andava morre não morre. Mas, apegado à vida e sempre esperançado, deu ordem aos animais para que o visitassem e lhe ensinassem remédios.
    Assim aconteceu. A bicharada inteira desfilou diante dele, cada qual com um remédio ou ou conselho.
    Mas, e a raposa? Por que não vinha?
    - Eu sei - disse um lobo intrigante, inimigo pessoal da raposa. Ela é uma finória, acha que Vossa Majestade morre logo e é bobagem andar a perder tempo com cacos de vida.
    Enfureceu-se o leão e mandou buscar a raposa debaixo de vara.
    - Então é assim que me trata, oh vilíssimo animal? Esquece de que eu sou o rei da floresta?
    A raposa interrompeu-o:
    - Perdão, Majestade! Se não vim até agora é que andava em peregrinação pelos oráculos, consultando-os a respeito da doença que abate o ânimo do meu querido rei. E não perdi a viagem, visto que trago a única receita capaz de produzir melhoras na real saúde de Vossa Majestade.
    - Diga lá o que é - ordenou o leão, já calmo.
    - É combater a frialdade que entorpece os vossos membros com um "capote de lobo."
    - Que é isso?
    - Capote de lobo é uma pele ainda quente de lobo escorchado na horinha. E como está aqui mestre lobo, súdito fiel de Vossa Majestade, vai ele sentir um prazer imenso em emprestar a pele ao seu real senhor.
    O leão gostou da receita, escorchou o lobo, embrulhou-se na pele fumegante e ainda por cima lhe comeu a carne.
    A raposa, vingada, retirou-se, murmurando:
    - Toma! Para intrigante, intrigante e meio...
    -------------------------------------
    Espero que nas eleições de outubro próximo, os aposentados sejam a raposa. Que o governo federal seja o lobo esquartejado, e nos os eleitores vingados, sejamos o leão...
    Almir Papalardo.

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