quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

A Varig, a Petrobras e o bug do milênio


José Manuel
Sobre a Varig, pouco se sabe, e não tenho ilusões de que algum dia  o chorume venha à tona, pois o fizeram muito bem feito, muitos ficaram ricos, com o ‘toma lá dá cá’ das concessões de slots, linhas, malha internacional, o retalho a varejo de uma grande empresa e outros ativos suadamente trabalhados por seus funcionários ao longo de oitenta anos. 

Mas a Varig não era uma estatal, apesar de que muitos idiotas de carteirinha a consideravam, tal o desconhecimento que tinham e têm de um setor complexo como o aéreo. E por não ser uma estatal, portanto, não pertencente ao povo, a sociedade não se deu conta que um crime estava sendo perpetrado.

A Petrobras sim, sempre souberam, e agora mais ainda com o que foi feito dela, pois os intestinos podres da empresa estão sendo expostos, por homens que o Brasil terá um dia que agradecer e render homenagens.

Mas não é bem para explicar um e outro crime, que estamos aqui e agora, pois pelo menos o suficiente, o trivial, a fraca imprensa capitaneada por um ou dois expoentes, está se incumbindo de o fazer.

No dia 3 de dezembro, em plena discussão no Congresso Nacional sobre o PL-31, para sabermos se  ratificavam ou não vidas humanas, um deputado pegou o microfone e disse em alto e bom som que a Varig era a Petrobras do ar.

Isso está gravado e foi dito dentro de um Congresso, portanto, a força dessas palavras ditas com emoção é o que norteará a nossa leitura.

Ora, quando uma declaração desse tipo é feita por um representante do povo, nada melhor do que passar a refletir melhor, sem os chavões jurídicos já tão decantados, sem manchetes bombásticas do dia a dia, sem as notícias policialescas de terceira categoria, mas tentando entender o que representa de real valor essa frase para o país.

A Varig nasceu em 27 de maio de 1927, a Petrobras em 3 de outubro de 1953.

Durante um século, uma não podia se dissociar da outra, porquanto a primeira era excelência nas alturas dos céus, a segunda  o era na terra, mais precisamente nas profundezas do solo.

Ambas sempre foram auriverde, puros de origem e esse amálgama de altas tecnologias com ideais sempre simbolizaram a pátria brasileira perante os espelhos do mundo.

Pensar em Brasil, para um turista desavisado em pleno século XX, logo depois da sua natureza privilegiada, das suas mulheres bonitas, vinha em primeiro lugar a Varig que o havia transportado para cá com classe e simpatia, e em segundo a constatação explícita das suas riquezas minerais através de uma empresa do porte internacional como a Petrobras.

Era a pujança da tecnologia forjada por idealistas honestos, cuja única ambição foi dizer ao mundo que o país poderia ser adulto e competir de igual para igual com nações desenvolvidas.

Pois é, chegamos finalmente ao século XXI, que prioriza as altas tecnologias, a informação nunca foi tão longe e tão rápida e a um toque, num clique, essa mesma informação está na palma das nossas mãos.

Em 1º de janeiro de 2003, portanto, apenas dois anos após o término do século de ouro do Brasil em que não só a Varig e a Petrobras eram expoentes de uma indústria em ascensão, mas outras grande indústrias também o representaram, e com louvor, o "Bug do milênio", aquilo que todos aguardaram com ansiedade e não se sabia o que poderia ocorrer na virada do século com a informação, com a informatização, finalmente se instalou e se mostrou em todo o seu esplendor, mas de maneira inversa ao esperado, no palácio da Alvorada, conseguindo a proeza de em apenas onze anos,  e contrariando um século de realizações, acabar com a Varig privada e arrasar com a Petrobras estatal.

Isto merece um "Oscar" pelo conjunto da obra, principalmente pelo antagonismo como ocorreu na história de um país.

Enquanto na tão execrada dita dura, os brasileiros conscientes de suas responsabilidades para com a pátria, colocavam generais que jamais enriqueceram no exercício do poder, para administrar, gerenciar com mão de ferro, os cofres e riquezas da Petrobras, cereja e caramelo do bolo chamado Brasil, chegada a dita mole a era "paz e amor", da política furada, irresponsável, colocou nesses mesmos postos gerenciais, quadrilheiros profissionais com o intuito única e exclusivamente de enriquecer à custa de uma propriedade do povo, várias gerações de suas famílias pobres de espirito, pobres de tudo.

Duas coisas ficam muito claras nesta história de tragédias sociais e perdas materiais:
Uma, é de que finalmente se descobre o que é e como funciona o Bug do milênio, e que o fato só ocorreu, e como ocorreu, aqui na pátria amada.

A outra, é a pergunta de como quadrilhas inteiras se apossaram de um país. Pelo voto?

Não com o meu, e o meu sono apesar de todo o lamentável, é tranquilo pois a minha consciência não me persegue, tampouco me assombra. 
Título e Texto: José Manuel, ex-tripulante Varig, 18-12-2014

Um comentário:

  1. Manuel, parabéns pelo excelente trabalho que vens fazendo de forma incansável na batalha pelos nossos direitos, suas mensagens semanais tem um conteúdo de qualidade e que merece a sua atenção quanto a um "pequeno" livro de memórias a ser composto para o amanhã.
    Forte abraço
    Thomaz Raposo

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