Cesar Maia
1. O jornal Le Monde, avaliando as eleições
municipais deste último fim de semana, afirmou que elas invertem o sentido das
eleições desde De Gaulle. “Há tempos que se afirma que no primeiro turno se
escolhe e no segundo se elimina. Agora deve acontecer o contrário: no primeiro
turno se elimina e no segundo se
escolhe.”
2. No Brasil, as eleições
presidenciais de 2014 tiveram um claro sentido das eleições francesas desde De
Gaulle. No segundo turno, a votação de Aécio não foi para ele, para seu partido
e para suas propostas. Foi contra Dilma. Naquele momento, o país ficou
dividido. Após as eleições, com o descontrole e a sensação de estelionato
eleitoral, a rejeição à Dilma e ao PT aumentou, mas isso não significou, até
aqui, que alguma força política tenha entrado no vácuo e assumido a liderança
alternativa com suas ideias e propostas.
3. Quando o Datafolha recente
nos informou que 74% dos que foram à manifestação de 15 de março nunca tinham
ido e que a não identificação com qualquer partido atingiu um recorde próximo a
80%, e aquela com PT caiu a menos da metade ficando com um dígito, isso tudo
ficou claro.
4. O PMDB, por sua maior
experiência e líderes expressivos mais espalhados regionalmente, soube ocupar
esse vácuo com maior capacidade. Fixou-se na rejeição à Dilma e não entrou no
debate de alternativas em nível econômico e social, que são as mais
compreendidas pelo eleitor. Capitalizou a rejeição parlamentar, abrindo espaço
àqueles que saem de suas bases pressionados pela rejeição à Dilma, mas que não
querem se assumir como oposição para não perderem espaço.
5. Nesse sentido, o PMDB –
ampliado – tem hoje maioria absoluta na Câmara de Deputados. Mas o tempo vai
colocá-lo numa encruzilhada: apresenta ou respalda alternativas ou vai entrar
no coro do “Fora Dilma”. No segundo caso, o PMDB voltaria a seu tamanho
parlamentar. O PSDB se iludiu e se ilude imaginando-se a referência da
oposição, trazendo à memória a “banda de música” dos juristas da UDN com a
atual “banda de música” dos cientistas sociais (sociólogos, politólogos e
economistas).
6. Demandas difusas são
características das redes: descontentamento. Como responder? Como organizar?
Como decidir caminhos? Certamente o PMDB não cumprirá esse papel. E os demais?
O PT também não, porque as redes sociais substituem e rivalizam com os
movimentos sociais (sindicatos, associações...) que o PT comanda.
7. Uma visita de alguns
parlamentares ao Podemos e Cidadãos, que saíram das redes e se constituíram
como forças politico-partidárias na Espanha, como opção de poder, ajudaria. Ou
– para citar a Espanha – propor para o Brasil, aqui e agora, um novo “Pactos de
Moncloa”, que poderia dar aos partidos políticos protagonismo. Mas quem seria o
Rei ou Adolfo Suárez, para propor e aglutinar?
Título e Texto: Cesar Maia,
23-3-2015
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