João Marques de Almeida
Durão Barroso [foto] é um político
para tempos difíceis. Nunca o dirá em público, mas até António Costa
concordaria que se algum dia estiver em São Bento, seria muito melhor tê-lo em Belém
do que Nóvoa.
Com o anúncio da candidatura
de Sampaio da Nóvoa a Belém, as presidenciais entraram na agenda política –
mesmo que Marcelo Rebelo de Sousa queira adiar o calendário. Aliás há um
paradoxo interessante entre o anúncio de Nóvoa e o calculismo de Rebelo de
Sousa. O primeiro proclama-se independente, mas quer o apoio do PS. O segundo é
do PSD, mas não quer fazer campanha com o seu partido.
Nenhum dos dois tem as
qualidades para ser o Presidente que Portugal precisa nos próximos cinco anos. O
país necessita acima de tudo de um político disciplinado e que saiba resistir
aqueles apelos e sentimentos populares que acabam por ser prejudiciais aos
portugueses. Há momentos na história em que um país necessita de um
anti-populista, que tenha a frieza e a disciplina para tomar as decisões
certas, mesmo que não sejam populares. Sobretudo um Presidente da República
deve manter uma racionalidade que não perca de vista os grandes objectivos do
país. O pior para Portugal, neste momento, seria um Presidente que se perdesse
nos populismos tácticos e não aguentasse a pressão de não ser popular.
A política, sobretudo nos
tempos de crise, é uma actividade ingrata e muito exigente. Não é um concurso
de popularidade, como infelizmente muitos políticos nacionais julgam. Mais do
que um bom Presidente, Cavaco Silva foi o Presidente que o país precisou nos
últimos quatro anos. Espero que um dia a história seja justa para o seu
contributo – absolutamente decisivo – para o país ter saído da crise para a
qual foi arrastado pelo “populismo” de Sócrates.
Pelo que se viu na
apresentação da sua candidatura e por outras declarações públicas, Sampaio da
Nóvoa não tem as qualidades exigidas a um político para tempos difíceis. Nunca
apresenta ideias políticas concretas, refere-se apenas a sonhos e a ilusões. O
seu discurso é o exemplo perfeito do populismo político. Não faz a mínima ideia
do contexto europeu e internacional em que Portugal está inserido, e dos quais o
seu bem-estar económico e social depende absolutamente. Não tem qualquer
experiência política. Sampaio da Nóvoa em Belém seria o caminho para a
instabilidade permanente. Seria uma espécie de Syriza na Presidência da
República. E António Costa sabe-o muito bem. Aliás, a sua estratégia parece
clara. Deixar que Sampaio da Nóvoa se derrote a si próprio. Eis o drama
presidencial de Costa: com a desistência de Guterres, não tem candidato.
Sem Guterres, Durão Barroso é
o político mais bem preparado para ser Presidente da República. Tirando Mário
Soares e Cavaco Silva, ninguém em Portugal tem a sua experiência política. Tem
além disso as qualidades necessárias para o cargo em tempos de crise:
disciplinado, determinado e racional. É o que o país precisa num Presidente da
República. E depois de dez anos em Bruxelas, em crise permanente, ninguém tem
dúvidas que Barroso é um político para tempos difíceis. Nunca o dirá em
público, mas até António Costa concordaria que se algum dia estiver em São
Bento, seria muito melhor ter Barroso em Belém do que Nóvoa.
Mais importante, Durão Barroso
goza de uma experiência internacional que mais ninguém possui em Portugal. Nos
próximos cinco anos, a questão central continuará a ser a manutenção de
Portugal no Euro. Convinha que a nossa classe política não fosse vulnerável a
duas ilusões. Em primeiro lugar, a crise não acabou, em grande medida por causa
do governo grego. Nos próximos meses, é possível que o problema da Grécia traga
a instabilidade de regresso aos mercados financeiros. Em segundo lugar, a
Alemanha não vai pagar para algum país ficar no Euro sem fazer reformas. Não
vale a pena acreditar nisso. Ora, neste contexto Barroso tem acesso imediato a
todos os líderes europeus, como ninguém tem em Portugal. Quem já esteve no
governo sabe que isso representa um capital político raro.
Num momento em que o bem-estar
dos portugueses exige novos mercados para as exportações portuguesas, e de
investimento externo, mais uma vez os contactos de Barroso nos Estados Unidos,
na China, no Brasil, em África seriam preciosos. Para um país como Portugal, a
experiência internacional de Barroso constitui um capital político único. E se
quiserem ser honestos, aqueles que usaram este argumento no caso de Guterres,
também o devem reconhecer no caso de Barroso.
Resta no entanto saber um
ponto essencial. Se Durão Barroso estará disposto a convencer os portugueses de
que é o político português com melhores condições para ser Presidente nos
próximos cinco anos. Seria uma luta política difícil. Mas em democracia, são
essas as lutas que têm valor e que marcam a história de um país.
Durão Barroso, de maoista a social-democrada foi um pulo, de 'traidor' - quando o País mais precisava - a Bruxelas, fou outro pulo. Para Belém, sería o 'pulo do lobo'!
ResponderExcluirPortugal não precisa de profissionais da política.
Precisa de gente honesta!
Carlos Ferreira
Quem serão os "gente honesta"??
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