segunda-feira, 2 de novembro de 2015

As Flores de Lótus

Pode uma ideia mudar o mundo?
O século XX nasce, e com ele germinam as sementes do autoritarismo. Da Europa à Ásia, as ondas de choque irão abalar a humanidade e atingir em cheio quatro famílias.

Depois de assistir à queda da monarquia, o capitão Artur Teixeira vê as esperanças da República afundarem-se num caos de instabilidade. Adere à revolução militar e recebe uma missão: convencer Salazar a tornar-se ditador.

Satake Fukui cresce num Japão dilacerado entre a tradição e a modernidade. O seu confronto com o militarista Sawa reflete um braço de ferro que ameaça mergulhar o país, e o mundo, numa catástrofe sem precedentes.

A chinesa Lian-hua nasce com olhos azuis, os mesmos que veem a China arrastada para um choque titânico entre os nacionalistas, os comunistas e os japoneses. Apanhada no fogo cruzado, é raptada por um radical comunista: o jovem Mao Tse-tung.

Os bolcheviques acabam de conquistar a Sibéria e batem à porta da pequena quinta dos Skuratov. Estaline iniciou as coletivizações e a família de Nadezhda é lançada num ciclo de medo, fome e sofrimento.

Quatro histórias. Quatro famílias. Quatro destinos.

Senhor de uma prosa lúcida e poderosa, José Rodrigues dos Santos embarca connosco e com figuras históricas como Salazar e Mao Tse-tung numa viagem arrebatadora que nos leva de Lisboa a Tóquio, de Irkutsk a Changsha, do comunismo ao fascismo. Com As Flores de Lótus nasce uma das mais ambiciosas obras da literatura portuguesa contemporânea.

«Um dos pesos pesados da literatura lusófona»
Historia, França

Excerto
O olhar de Salazar desviou-se momentaneamente para a janela do automóvel. Caíam lá fora os primeiros pingos de chuva, provenientes da treva, que deslizavam em ziguezague pelos vidros como se a noite despejasse lágrimas, mas logo surgiram nos passeios as luzes amareladas dos candeeiros noturnos, sinal seguro de que entravam em Lisboa.

“Para que se fez esta revolução se é para ficar tudo na mesma?”

“Na mesma?”, admirou-se o general Carmona. “O que quer o senhor dizer com isso?”

“O problema do país, senhor general, são os partidos!”, exclamou Salazar, a voz a ganhar veemência. “Os partidos, está vossa excelência a entender? Foi justamente a ação nefasta dos políticos e dos partidos que pôs o país onde ele está, senhor general. Ao contrário do que apregoam aos quatro ventos, os partidos não existem para servir o povo, mas para servir as suas clientelas. Fingindo servir a população, os partidos servem-se a si mesmos e apenas deixam ao país umas migalhas do banquete que engorda as suas gentes. Essa é que é a raiz do problema!”

José Rodrigues dos Santos - Lançamento de «As Flores de Lótus», 24-10-15, foto: Salvador Esteves/Lux
José Rodrigues dos Santos nasceu em 1964 em Moçambique. Abraçou o jornalismo em 1981, na Rádio Macau, tendo ainda trabalhado na BBC e sido colaborador permanente da CNN.

Doutorado em Ciências da Comunicação, é professor da Universidade Nova de Lisboa e jornalista da RTP. Trata-se de um dos mais premiados jornalistas portugueses, galardoado pelo Clube Português de Imprensa e pela CNN.

‘As Flores de Lótus’ é o seu décimo quarto romance.

Um livro muito bom. Li-o com inexcedível interesse.
Antes do mais, permita-me, generoso leitor, trazer à baila esta curiosa curiosidade:

A começar pelo próprio livro, que traz na orelha da capa esse excerto transcrito aqui em cima sobre Salazar, na pesquisa que fiz na web só vi referências a Salazar… ora, a parte que se refere a Salazar [foto] é a reconstituição do tempo anterior à sua (segunda) nomeação como ministro das Finanças em 1928, e não traz nada de novo, no meu entendimento.

Se percebo a intenção mercadológica na citação de Salazar na orelha do livro, editado em Portugal para leitores portugueses – afinal, quer se queira ou não, que se goste ou não, António Oliveira Salazar é a maior figura portuguesa do século XX – não percebi a intenção dos ‘resenhadores’ e jornalistas em repetir esse excerto. 

Na verdade verdadeira, percebi sim: resido em um país cuja oligarquia ‘senatorial’, incensada por doutrinados e infiltrados esquerdeiros, martela a opinião dela como se se tratasse da única verdadeira. Que os seus puxa-sacos apregoam, nos seus castelos tomados, como opinião da… sociedade. E seguem o jogo ‘construindo’ essa opinião.

Well, voltando ao livro.

Como disse, gostei muito. Não julgo que seja um romance, li-o como um ótimo ensaio histórico. Vou mais longe, penso que foi essa a intenção do autor. Juntou quatro nomes (quatro histórias – quatro famílias – quatro destinos) para não assustar o provável leitor, nem maçar o já leitor.

José Rodrigues dos Santos nos mostra como e porquê nasceram o bolchevismo, na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas e o fascismo na Itália, de Benito Mussolini.

Aprendi bastante na leitura. Recomendo vivamente aos interessados em saber quem pariu um e outro.
Muito provavelmente o leitor vai entender, definitivamente, porque os comunistas adoram cuspir em quem discorda deles e/ou lhes faz oposição o epíteto “FASCISTA”.

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