Cesar Maia
1. A história ajuda a projetar o cenário pós votação do impeachment
de Dilma. A começar pela vitória do General Pirro em 280 a.C. contra os
romanos. Foram tantas baixas que Pirro cunhou a frase: “Mais uma vitória dessas
e estamos arruinados”. Dilma enfrenta o impeachment com a votação do baixo
clero. Se impedir o impeachment será a vitória da tropa de choque de Severino
Cavalcanti, presidente da Câmara por curto período, renunciando em 2005 após um
pequeno pixuleco por prestador de serviço no restaurante da Câmara.
2. Se a base aliada, a partir da eleição de 2014, não garantia mais
nada na Câmara, imagine-se o que seria a base aliada após um resultado apertado
na votação do impeachment? Dilma, desde o início de seu segundo mandato, não
tem tido base para aprovar leis ordinárias e menos ainda leis complementares e
emendas constitucionais. As vitórias em plenário têm sido na contramão do que
Dilma queria ou propunha.
3. Conseguir uma minoria de pouco mais de 1/3 dos votos e das
ausências sequer resolve a necessidade de votos para emendas constitucionais
que são aprovadas com 60% dos votos e leis complementares com 50% e das leis
ordinárias.
4. O dia seguinte seria trágico com a certeza da ingovernabilidade
agravada, do refluxo ainda maior de investimentos, de repique inflacionário,
explosão da taxa de câmbio, desmonte da bolsa, queda ainda mais acentuada do
PIB, estados e municípios indo a pique, mais desemprego e necessidade de taxas
de juros extravagantes. Isso tudo com a coreografia e a exposição internacional
das Olimpíadas. Por cima da vaidade e do orgulho de Dilma, sua renúncia – ou
pedido de licença por tempo indeterminado – seriam os caminhos racionais para
conquistar o reconhecimento futuro pelo sacrifício.
5. Pior é sua saída pela porta dos fundos. Num exemplo recente, na
Ucrânia, entre dezembro de 2013 e março de 2014, o presidente eleito Yanukovych
cometeu um enorme estelionato eleitoral. Comprometeu-se em assinar o acordo de
comércio com a União Europeia e por isso elegeu-se. Mas no dia seguinte foi
visitar Putin, seu parceiro, e abandonou o compromisso de campanha gravado na
TV.
6. Conseguiu atrair os deputados com os conhecidos favores e
pixulecos e a Câmara de Deputados o respaldou com votações simbólicas num
simples levantar dos braços, sem nominá-los com registros, para não
desgastá-los.
7. Iniciou-se um movimento de protesto na praça principal com não
mais que 300 pessoas. E foi crescendo, crescendo. Era um protesto cumulativo e
permanente na praça. Yanukovych achou que resolvia com repressão e a
mobilização só crescia com adesão completamente apartidária dos cidadãos, das
Igrejas, de artistas e da opinião pública internacional. Solidariedade presente
e ativa. O presidente Yanukovych resistiu – a ferro, fogo e sangue – por 90
dias, até que num início de noite saiu sorrateiramente no helicóptero
presidencial para se asilar na Rússia, deixando sua renúncia com a Câmara de
deputados, que girou 180 graus e marcou eleições para maio de 2014.
8. Dilma poderia entrar no NetFlix e assistir ao documentário
“Winter on fire Ukraine’s Fight for Freedom”, legendado.
Título e Texto: Cesar Maia, 5-4-2016
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