quarta-feira, 6 de abril de 2016

Impeachment: se ficar o bicho pega, se correr o bicho come. “Winter on fire... Fight for freedom.”

Cesar Maia       
1. A história ajuda a projetar o cenário pós votação do impeachment de Dilma. A começar pela vitória do General Pirro em 280 a.C. contra os romanos. Foram tantas baixas que Pirro cunhou a frase: “Mais uma vitória dessas e estamos arruinados”. Dilma enfrenta o impeachment com a votação do baixo clero. Se impedir o impeachment será a vitória da tropa de choque de Severino Cavalcanti, presidente da Câmara por curto período, renunciando em 2005 após um pequeno pixuleco por prestador de serviço no restaurante da Câmara.
       
2. Se a base aliada, a partir da eleição de 2014, não garantia mais nada na Câmara, imagine-se o que seria a base aliada após um resultado apertado na votação do impeachment? Dilma, desde o início de seu segundo mandato, não tem tido base para aprovar leis ordinárias e menos ainda leis complementares e emendas constitucionais. As vitórias em plenário têm sido na contramão do que Dilma queria ou propunha.
       
3. Conseguir uma minoria de pouco mais de 1/3 dos votos e das ausências sequer resolve a necessidade de votos para emendas constitucionais que são aprovadas com 60% dos votos e leis complementares com 50% e das leis ordinárias.
         
4. O dia seguinte seria trágico com a certeza da ingovernabilidade agravada, do refluxo ainda maior de investimentos, de repique inflacionário, explosão da taxa de câmbio, desmonte da bolsa, queda ainda mais acentuada do PIB, estados e municípios indo a pique, mais desemprego e necessidade de taxas de juros extravagantes. Isso tudo com a coreografia e a exposição internacional das Olimpíadas. Por cima da vaidade e do orgulho de Dilma, sua renúncia – ou pedido de licença por tempo indeterminado – seriam os caminhos racionais para conquistar o reconhecimento futuro pelo sacrifício.
       
5. Pior é sua saída pela porta dos fundos. Num exemplo recente, na Ucrânia, entre dezembro de 2013 e março de 2014, o presidente eleito Yanukovych cometeu um enorme estelionato eleitoral. Comprometeu-se em assinar o acordo de comércio com a União Europeia e por isso elegeu-se. Mas no dia seguinte foi visitar Putin, seu parceiro, e abandonou o compromisso de campanha gravado na TV.

6. Conseguiu atrair os deputados com os conhecidos favores e pixulecos e a Câmara de Deputados o respaldou com votações simbólicas num simples levantar dos braços, sem nominá-los com registros, para não desgastá-los.
          
7. Iniciou-se um movimento de protesto na praça principal com não mais que 300 pessoas. E foi crescendo, crescendo. Era um protesto cumulativo e permanente na praça. Yanukovych achou que resolvia com repressão e a mobilização só crescia com adesão completamente apartidária dos cidadãos, das Igrejas, de artistas e da opinião pública internacional. Solidariedade presente e ativa. O presidente Yanukovych resistiu – a ferro, fogo e sangue – por 90 dias, até que num início de noite saiu sorrateiramente no helicóptero presidencial para se asilar na Rússia, deixando sua renúncia com a Câmara de deputados, que girou 180 graus e marcou eleições para maio de 2014.
           
8. Dilma poderia entrar no NetFlix e assistir ao documentário “Winter on fire Ukraine’s Fight for Freedom”, legendado. 
Título e Texto: Cesar Maia, 5-4-2016

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