Cesar Maia
1. Sua posse como presidente será um enorme alívio nas relações
internacionais. Nos Estados Unidos e União Europeia há uma sensação além de
alívio e até de euforia. Na Argentina e na Colômbia idem. A escolha certa do
ministro de relações internacionais, por Temer, completará esse quadro. Chefes
de Estado e de Governo europeus devem ter acompanhado a votação e comemorado.
2. Com um período curto de governo – iniciado sob o manto do
curtíssimo prazo – Temer não seria ingênuo de publicar um plano de governo.
Seria o pretexto para ser cobrado aqui e acolá. Tende a apresentar umas três ou
quatro medidas de impacto nas áreas fiscal, previdenciária e federativa,
lastreadas numa política externa aberta (o abraço em Macri será para valer). A
euforia trará um forte fluxo de capitais para obter ganhos futuros de um ciclo
positivo.
3. Temer foi deputado federal seis vezes, presidente da Câmara duas
vezes, e secretário estadual de segurança pública em S.Paulo. E vice-presidente
duas vezes. Como jurista, não precisa de detalhes para despachar decretos. Terá
uma relação fluída com o Poder Judiciário, fundamental agora. Dilma nunca havia
sido sequer vereadora. Não sabia – e não sabe nada – da arte da política. Como
ministra e como presidente aprofundou esse desentendimento, por arrogância e
autoritarismo.
4. Pelo fato de ter sido secretário de Segurança Pública do Estado
de São Paulo, coisa que de Getúlio à Dilma nenhum presidente foi e nenhum viveu
essa experiência, abrirá um campo de diálogo em matéria crítica para os Estados
nesse momento. E para as Olimpíadas. Saberá se assessorar. Dilma viveu como
presidente um trauma permanente por ter sido presa política e uma enorme
dificuldade de dialogar com policiais e militares. De longe, e de perto,
lembrava esse trauma.
5. As articulações políticas desenvolvidas por Temer como
vice-presidente e aprofundadas na crise política que se seguiu à eleição de
2014 construíram relações de confiança e impediram quaisquer dependências
partidárias. Isso será fundamental agora. Dilma vivia a esquizofrenia das
relações com o PT.
6. Temer não terá superego político e econômico. O PSDB
enfraqueceu-se na crise política, terá que dialogar horizontalmente como os
demais, sem barões e cardeais. Excluindo PMDB, o bloco de três partidos
médios-grandes com o qual Temer vem trabalhando têm mais que o dobro da bancada
do PSDB. E todos têm quadros técnicos ou contatos extraparlamentares para
qualquer função.
7. Os Jogos Olímpicos, que começam em pouco mais de três meses,
vinham sofrendo desgaste contínuo com as reações figadais de Dilma. Aberta ou
reservadamente, mostrava sua antipatia com o presidente do COB/CO-2016. Nos
dias que antecederam a votação do Impeachment, autoridades olímpicas mostravam
seu desconforto com Dilma. O futebol brasileiro – em destaque a CBF – era
tratado de forma generalizada por Dilma, como uma máfia. Trauma das vaias da
Copa do Mundo de 2014. As relações serão recompostas. Temer voltará a
recebê-los.
8. A força de pressão da tradicional “sociedade civil organizada”
não é a mesma hoje, no mundo todo e ainda mais no Brasil. As ruas têm mostrado
isso no Brasil todo, há quatro anos. No Brasil – ao contrário do que tem
ocorrido em outros países – as redes sociais impulsionando as ruas reais e
virtuais, não têm inspiração populista. Não têm interlocução partidária
preferencial. Aqui, hoje, são redes sociais livres, não manipuladas
(desierarquizadas, horizontais e de agregação individual). E as redes sociais
têm consciência que foram parte fundamental da mobilização de opinião e da
vitória. Temer terá uma carência de pelo menos nove meses por parte delas. Se
estão na origem do impeachment, é natural e humano que queiram que as coisas
caminhem bem: são parte da vitória.
Título e Texto: Cesar Maia, 19-4-2016
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