Cesar Maia
1. A imprensa informa que a ordem de votação na Câmara de
Deputados, relativa ao Impeachment de Dilma, será pelos Estados e de Sul em
direção ao Nordeste. Segundo essas matérias, como os votos a favor do
impeachment são maiores no Sul e assim por diante e menores no Nordeste, a
votação avançaria com vantagem para os pró-impeachment. E assim criaria um
ambiente favorável e estimulante para aqueles que ainda estiverem indecisos.
2. Um importante antecedente a respeito aconteceu na convenção do PSD
de 10 de fevereiro de 1955 para a escolha do candidato a presidente. JK,
governador de Minas Gerais, surgia como candidato. Mas o líder mineiro Benedito
Valadares, ex-governador, espalhava ruído nos bastidores que não era o
candidato ideal.
3. JK foi um governador muito próximo ao presidente Getúlio Vargas.
Mesmo após o suicídio de Getúlio essa marca se mantinha. A polarização
Getulistas x AntiGetulistas alcançou o auge em 1954, até seu suicídio. O nome
de JK, colocado como pré-candidato a presidente, gerou reações dentro e fora do
PSD.
4. O jornal O Globo publicou editoriais sistemáticos -de capa-
assinados por seu controlador, tentando mostrar os riscos de uma candidatura de
JK, pois esta seria a continuidade explícita de Getúlio Vargas.
5. O resultado futuro da Convenção do PSD continuava indefinido, mesmo com a Convenção muito próxima. O presidente do PSD – Amaral Peixoto – genro de Getúlio Vargas e íntimo deste, naturalmente assumiu a candidatura de JK. Mas a insegurança em relação aos VOTOS ABERTOS na Convenção era muito grande.
6. O fator decisivo era o voto de Benedito Valadares e dos
delegados de Minas Gerais que o acompanhavam. Como os adversários de JK não
eram de Minas Gerais, Amaral Peixoto adotou uma tática para levá-lo à vitória.
Em vez da votação ser por Estado – que independente do sentido colocava Minas
Gerais no meio da votação – Amaral Peixoto, com seu poder de presidente do PSD,
abriu a sessão.
7. Ao definir as regras para a votação, surpreendeu e disse que a
votação nominal seria delegado a delegado independente do Estado, e obedeceria
a ordem alfabética. Dessa forma, Benedito Valadares seria dos primeiros a votar
e não poderia votar contra o candidato de Minas Gerais. Fechou a cara e votou
por JK. Isso levou todos os delegados mineiros a acompanhar seu voto. Não havia
como realizar reuniões paralelas no meio da votação. Criou-se o ambiente de
vitória para JK.
8. Venceu JK, que passou a ser candidato a presidente pelo PSD.
Amaral Peixoto narra este episódio no livro Amaral Peixoto, editado pela FGV. A
partir daí as regras da sequência dos votos nas Convenções e no Legislativo
passaram a ser elemento significativo para o resultado de votações indefinidas.
Título e Texto: Cesar Maia, 12-4-2016
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