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José Eduardo Cardozo, foto: Adriano Machado/Reuters |
Cesar Maia
1. Os especialistas em comunicação, os cursos de telegenia que se
multiplicaram com jornalistas e atores, os sociólogos de comunicação política,
textos e livros…, explicam que um mesmo conteúdo muda seu impacto conforme o
veículo e o público. Num palanque ou na tribuna de um parlamento, o discurso
deve ser enfático, incisivo, “soltando a voz nas estradas”, forçando a
gesticulação, colocando alma no que diz e lastreando com feições, caras e bocas
relativas. É assim desde sempre.
2. Em grande medida, a comunicação política pelo Rádio segue essa
lógica. Embora sem as feições, caras e bocas, e sem gesticulação, o político
que comunica, fala e discursa pelo Rádio deve soltar a voz, deve adjetivar com
ênfase e colocar alma no que diz. É assim desde os anos 30, quando o Rádio
passou a ser o principal veículo de comunicação política.
3. Com a TV, o estilo de comunicação política muda. A voz deve ser
escandida, as feições tranquilas, voz baixa para atrair a atenção, um leve sorriso
indefinido como Blair, ou uma feição um pouco mais séria como Clinton, quando
necessário, mas nunca de forma raivosa. A comunicação política pela TV com a
mesma lógica do Rádio é um desastre, anula o conteúdo e gera reação negativa
das pessoas que veem.
4. Como deve fazer um político na frente de um batalhão de
gravadores e câmeras? Falar para o Rádio ou para a TV? Alegrar seus papagaios
de pirata em volta? Depende de seu objetivo. Em geral, o aconselhável seria a
preferência de falar para a TV pelo alcance que se consegue nos telejornais.
Quando o político se esquece disso e fala pela lógica do Rádio, consegue, para
o público maior, efeito contrário ao conteúdo que defende.
5. Nos últimos anos surgiu um problema adicional. Em casos de
grande repercussão, os depoimentos, os discursos de tribuna, julgamentos no
judiciário..., passam a ser transmitidos ao vivo, ou amplamente repetidos pelos
noticiários de TV. O público que assiste ao vivo é muito reduzido. Por mais que
o orador ou depoente impacte esse público, sua repercussão pública é mínima. A
tendência geral – nesses casos- é priorizar a lógica do Rádio e do palanque
nesses depoimentos e discursos. Pode até convencer o entorno, mas sem alcance
ou – pior- com alcance negativo.
6. Dilma, desde a instalação da comissão de impeachment, tem feito
comícios para a TV no Palácio do Planalto. É o objetivo de seu publicitário. Os
telejornais, preocupados com o equilíbrio na cobertura, repercutem. Mas,
bisonhamente, Dilma tem usado a voz, as feições, a gesticulação, nessas
reuniões-comício, como se o objetivo fosse aquele público e, assim, usado a
lógica de palanque e do Rádio.
7. Nos cinco depoimentos na Comissão de Impeachment, os defensores e
críticos do processo de impeachment de Dilma têm se preocupado com o público
presente, os 65 deputados: “soltam a voz nas estradas”. Isso é natural e
esperado. Mas deveriam pensar que o conteúdo dos depoimentos não convence
nenhum desses 65 deputados, todos com a cabeça feita. Dessa forma, a ênfase
para a comissão não serve de nada. O mais importante são as reproduções nos
telejornais.
8. Vendo e revendo cada um
desses 5 depoimentos nos telejornais, especialmente o JN, de maior audiência,
fica claro que o discurso do ministro José Eduardo Cardozo foi um desastre. De
longe o pior de todos. Falou como se estivesse num palanque. Caras raivosas,
ênfases nervosas, tom de voz agressivo. Conseguiu nos telejornais o contrário
do que pretendia. Imagine-se as reproduções de uns trechos curtos e raivosos de
seu depoimento nas Redes Sociais. Um desastre para Dilma. Se se tivesse um
medidor simultâneo com o expectador marcando de 1 a 10 suas reações se teria
quantificado o desastre.
9. Bem, para “não dizer que não falei de flores”, há que se
destacar quem se saiu melhor dentro da lógica da TV. Claro e de longe a jurista
Janaina Paschoal. Independente do conteúdo, sua calma e tranquilidade e feições
relativas foram convincentes e agradaram quem viu. Independente do conteúdo.
Título e Texto: Cesar Maia, 6-4-2016
Prezados, o "Rapaz" como seu chefe o chama, não é mais Ministro, simplesmente Avdg da União!
ResponderExcluirEle pensa que está dando aulas na PUC para jovens estudantes de Direito!
Eu acompanhei sua Defesa quase que na íntegra, como mero cidadão, e lhes digo, foi muita fraca, explicando leis e artigos que na finalidade nada somaram, realmente foi um tiro no pé. Eu o tinha em maior conta como Advg.
Mas para estar aí no PT, não poderia ser grande coisa mesmo! Prezado Cesar Maia, se perdermos esta, para este bando de incompetentes e desonestos, não sei onde vamos parar, mais, quase três anos, estaremos no fundo do poço! Sinceramente, se o STF, estiver envolvido aí …
Heitor Volkart