Rui Ramos
O PSD é, neste regime, a grande
alternativa ao PS, ou então não é nada: quem é que precisa de uma “equipa B” do
PS? O PSD está, por isso, destinado a gerar ideias contrárias à actual
governação.
No fim do congresso do PSD, as
televisões cercaram o representante do PCP. O comentário saiu como deve ter
sido ensaiado no comité central: “o PSD não aprendeu nada com a derrota de 4 de
Outubro”. Resume perfeitamente o problema: é que o PSD, para azar de todos, não
perdeu a 4 de Outubro. Perdeu a 10 de Novembro, o que é muito diferente, e
aprendeu então tudo o que tinha a aprender.
Tudo isto faz muita confusão à
oligarquia. Ainda não percebeu porque é que Passos Coelho, depois de quatro
anos de ajustamento, só perdeu a maioria, mas não as eleições. E também ainda
não percebeu o que, depois de ganhar as eleições, mas perder o governo, ele
pode fazer na oposição. Por isso, a nova maioria trata-o como o espectro no
banquete de Macbeth. Gostaria que ele se fosse embora. Inventa-lhe rivais,
escolhe-lhe sucessores. Os oligarcas têm medo. Como explicar que o PS não tenha
ganho as eleições, que o BE e o PCP tenham tido em 2015 menos votos do que em
2009, e que as sondagens não pareçam estar a premiar o “fim da austeridade”?
Estará a opinião pública, depois da bancarrota de 2011, menos susceptível ao
velho “modelo” do consumo, tanto mais que, sob a vigilância europeia e com o
presente nível de endividamento, são improváveis os extremos do passado? E
nesse caso, que poderá acontecer se as coisas correrem mal, ou simplesmente não
correrem brilhantemente?
Passos não é um demagogo, um
espalha-brasas. No seu discurso de encerramento do congresso, desconvocou
qualquer “querela constitucional”, e até tirou o chapéu aos “senhores doutores
juízes”. Gastou imenso tempo com as autárquicas e com os Açores, em homenagem
aos mandachuvas locais do partido. Mas Passos não tem escolha, tal como nenhum
outro líder do PSD teria: vai ser obrigado a produzir uma alternativa à maioria
social-comunista.
Por isso, a discussão sobre a
“social-democracia” do PSD é ridícula. Politicamente, o PSD é, com o CDS, a
alternativa ao PS e à esquerda, ou então não é nada: quem é que precisa de uma
“equipa B” do PS? O PSD está, por isso, condenado a desenvolver ideias
contrárias à actual governação. No momento actual, é a ideia de que a melhor
estratégia é criar confiança para atrair investimento, e diminuir a carga
fiscal e burocrática do Estado, “como forma de libertar o potencial de
crescimento da economia portuguesa”. A questão é se saberá dar-lhe o devido
protagonismo e eloquência.
Intermitentemente, o PSD e o
CDS também significaram outra coisa: um desafio aos interesses instalados. Foi
assim no fim da década de 1970, nos tempos da reforma agrária, das
nacionalizações e do conselho da revolução. E poderá ser assim também agora,
quando o equivalente das terras e das fábricas ocupadas são as escolas e os
transportes públicos entregues pelo governo PS aos sindicatos comunistas. Por
enquanto, o dinheiro do BCE mantém os mercados à distância e viabiliza o modelo
do consumo e o apaziguamento do PCP. Mas até quando?
Um rei forte não faz forte a
fraca gente. Mesmo no tempo de Sá Carneiro, uma grande parte da liderança do
PSD não se entusiasmou com o papel de desmancha-prazeres. Sim, talvez fosse
mais cómodo chegar-se ao PS, ajudar a melhorar a gestão do que existe. O lugar
de suplente da actual maioria, para votar o que o BE e o PCP não quiserem, está
disponível. Mas todas as lideranças que submeteram o PSD à estratégia do PS
acabaram por falhar: Sousa Franco em 1978, ou Mota Pinto em 1983-1985. Com ou
sem Passos, o PSD não pode escapar ao seu destino. A menos que decida
desaparecer.
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