domingo, 3 de abril de 2016

Congresso do PSD – Sábado

Vitor Cunha
Muito mais que um acto de puro marketing político, considerei o tempo concedido pelo presidente do PSD – Pedro Passos Coelho – aos convidados como um gesto genuíno de confirmação da mensagem de um homem obstinadamente convicto da sua missão na oposição com os seus críticos pontuais sem o ónus de responsabilidades políticas. Se alguma mensagem nova saiu dessa reunião foi a da confirmação que Passos Coelho conquistou, contra as adversidades de um regime balofo, um rumo a uma estabilidade ténue agora posta em grande perigo com a geringonça: nomeadamente, a mensagem que Passos acredita, genuinamente, ter feito de tripas coração a uma situação minada à partida para uma progressiva transformação do regime político em direcção a uma normalidade que já tarda, isto após 42 anos da revolução que nos trouxe a Constituição de 296 artigos, 16 artigos por distrito.

Santana Lopes, sendo Santana Lopes, sem o excessivo cuidado de um discurso minuciosamente preparado, ilustrou o ridículo de uma eventual fuga de apoio ao líder que, contra todas as expectativas criadas ao longo de 4 longos anos nos média comprometidos com o status quo pachorrento de que “isto é tudo do PS”, ganhou mesmo as eleições.

Toda a diferença é facilmente desmontável. O leitor comprometido e deslumbrado com a desgraça dirá que “ganhou as eleições, mas isso já lá vai”. Porém, não só tal situação seria aceite pacificamente com o PS sem o viés esquerdista dos média – vide, 4 anos a repetir bujardas sobre a rejeição do PEC 4 -, como seria comumente aceite como o discurso oficial, o da reconquista do poder a qualquer custo, a qualquer preço. Pelo contrário, Passos Coelho considera que o governo da geringonça terá que cair sozinho e, esperamos todos, sem estragos demasiado profundos pelo caminho.

Desculpar-me-ão os que esperam que termine isto com um “mas”. Passos Coelho não se apresenta apenas como o melhor que se arranja; é o único, actualmente e nestas circunstâncias, disposto a aguentar com o desgastante discurso oligárquico para impedir, na medida do possível, que a alternativa da geringonça seja uma geringonça à lá grega. E isso não é nada poucochinho.
Título e Texto: Vitor Cunha, Blasfémias, 3-4-2016

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