Vitor Cunha
Muito mais que um acto de puro
marketing político, considerei o tempo concedido pelo presidente do PSD – Pedro
Passos Coelho – aos convidados como um gesto genuíno de confirmação da mensagem
de um homem obstinadamente convicto da sua missão na oposição com os seus
críticos pontuais sem o ónus de responsabilidades políticas. Se alguma mensagem
nova saiu dessa reunião foi a da confirmação que Passos Coelho conquistou,
contra as adversidades de um regime balofo, um rumo a uma estabilidade ténue
agora posta em grande perigo com a geringonça: nomeadamente, a mensagem que
Passos acredita, genuinamente, ter feito de tripas coração a uma situação
minada à partida para uma progressiva transformação do regime político em
direcção a uma normalidade que já tarda, isto após 42 anos da revolução que nos
trouxe a Constituição de 296 artigos, 16 artigos por distrito.
Santana Lopes, sendo Santana
Lopes, sem o excessivo cuidado de um discurso minuciosamente preparado,
ilustrou o ridículo de uma eventual fuga de apoio ao líder que, contra todas as
expectativas criadas ao longo de 4 longos anos nos média comprometidos com o
status quo pachorrento de que “isto é tudo do PS”, ganhou mesmo as eleições.
Toda a diferença é facilmente
desmontável. O leitor comprometido e deslumbrado com a desgraça dirá que
“ganhou as eleições, mas isso já lá vai”. Porém, não só tal situação seria
aceite pacificamente com o PS sem o viés esquerdista dos média – vide, 4 anos a
repetir bujardas sobre a rejeição do PEC 4 -, como seria comumente aceite como
o discurso oficial, o da reconquista do poder a qualquer custo, a qualquer
preço. Pelo contrário, Passos Coelho considera que o governo da geringonça terá
que cair sozinho e, esperamos todos, sem estragos demasiado profundos pelo
caminho.
Desculpar-me-ão os que esperam
que termine isto com um “mas”. Passos Coelho não se apresenta apenas como o
melhor que se arranja; é o único, actualmente e nestas circunstâncias, disposto
a aguentar com o desgastante discurso oligárquico para impedir, na medida do
possível, que a alternativa da geringonça seja uma geringonça à lá grega. E
isso não é nada poucochinho.
Título e Texto: Vitor Cunha, Blasfémias,
3-4-2016
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