Alberto Gonçalves
Camiões que atropelam nas
esplanadas de Nice. Machados que retalham nos comboios da Baviera. Punhais que
esfaqueiam nas estâncias dos Alpes. Metralhadoras que disparam em Munique. Por
algum motivo que escapa à análise mais cuidada, toda a sorte de utensílios
desatou a atacar, e frequentemente a matar, transeuntes despreocupados.
Se ao menos houvesse um factor
comum à revolta dos objectos inanimados, poderíamos identificá-lo e, quem sabe,
combatê-lo. Mas não há. Ou melhor: há, mas não se pode dizer. Só um racista e
um xenófobo da pior espécie seria capaz de notar que, atrás do volante ou das
peças de cutelaria, existem sujeitos de carne, osso e convicções fortemente
orientadas por uma religião em particular. Sejamos francos: queremos um mundo
fundamentado na desconfiança? É justo discriminar uma crença pacífica apenas
porque uma quantidade razoável dos seus praticantes costuma ser vista nas
imediações de traquitanas usadas na chacina de inocentes? Vamos confundir o
islão com os atentados que animam as notícias e, aos poucos, modificam o nosso
quotidiano?
Não contem comigo. Quando me
apetece afligir com a intolerância religiosa, aflijo-me com as escolas que
penduram crucifixos, com o "In God We Trust" que enfeita as notas de
dólar, com as cautelas securitárias do "estado judaico" e com os
pares de mórmones que às vezes passeiam na rua ao lado. Isso sim, é grave e
susceptível de arrasar um modo de vida. Os muçulmanos encontrados na
extremidade de machados e do que calha são uma conversa diferente. E polémica.
Para muitos, esses muçulmanos não representam as comunidades a que pertencem, tão sossegadas que, para não criar rebuliço, até evitam denunciar os elementos "radicalizados" à polícia ou pendurá-los preventivamente num poste. Para outros - ou para os mesmos, consoante os dias -, esses muçulmanos são de certeza vítimas de deficiências na integração social, fruto do desemprego, do descontentamento face ao T3 de renda técnica e de atrasos no rendimento mínimo. Para um terceiro grupo de pensadores, esses muçulmanos limitam-se a vingar, e bem, a opressão exercida por regimes imperialistas e capitalistas.
Para muitos, esses muçulmanos não representam as comunidades a que pertencem, tão sossegadas que, para não criar rebuliço, até evitam denunciar os elementos "radicalizados" à polícia ou pendurá-los preventivamente num poste. Para outros - ou para os mesmos, consoante os dias -, esses muçulmanos são de certeza vítimas de deficiências na integração social, fruto do desemprego, do descontentamento face ao T3 de renda técnica e de atrasos no rendimento mínimo. Para um terceiro grupo de pensadores, esses muçulmanos limitam-se a vingar, e bem, a opressão exercida por regimes imperialistas e capitalistas.
Para mim, até estes argumentos
sofrem de discriminação enviesada. O islão, religião de paz, nada tem a ver com
a violência acidental que assola a Europa. O problema são os islamofóbicos que,
aposto, subornam bugigangas diversas para incriminar muçulmanos. Se a ideia é
perseguir uma ameaça real, persiga-se islamofóbicos. Ou gambozinos. Ou
Pokémons.
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