sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

[Aparecido rasga o verbo] Rejeição desnecessária

Aparecido Raimundo de Souza

Com o surgimento atabalhoado da Espécie Humana, os espaços na terra passaram a ser uma questão de pura sobrevivência. Foi uma merda só. Entrou em cena o salve-se quem tiver a pica grossa. Pois bem. Na atualidade, mais que uma competição degringolou feio. Essa disputa acirrada, vamos assim classificá-la, pode ser e, de fato é, pelo alimento, pelo território, pelo emprego, pela escola, pelo trabalho, enfim, por um cargo público, por um emprego vantajoso, pela fêmea que queremos enfiar o cacete na bunda, pelo macho...

Logo, estamos sinalizando, sem medo de falhas, que a disputa pode acontecer entre a mesma espécie (intraespecífica) ou de conjuntos diferentes (interespecíficas). Em qualquer um dos casos, esse tipo de interação favorece, acode, ampara, apadrinha e dá vida e forma a um processo seletivo que culmina, geralmente, com a preservação das formas de vida mais bem adaptadas ao meio ambiente e com a extinção de indivíduos com baixo poder aquisitivo. Para não passar em brancas nuvens, os de baixo poder aquisitivo são os fodidos, os manés, os descamisados, os que vivem não à margem da sorte, todavia, aquelas criaturas desassistidas, metidas até os colhões, dentro da linha infame da pobreza mais degradante.   

Foto: Autoria não identificada

Iríamos mais longe. Diríamos, surgiria uma verdadeira guerra sem precedentes. Luta louca e insana, a golpes de mão armada, onde o ato do exercício desproporcional do poder de sobrevivência do homem se voltaria em face do mesmo ser humano que vive e peleja ao seu lado, diariamente, ombro a ombro. Nessa guerra entorpecida, ficaria vivo o que fosse mais forte e tivesse melhores condições de botar com força no cu do outro.

Vindo ao mundo pelas suas mãos e em sua forma mais original, ignora ser ele (o homem comum) seu maior inimigo, e o que lhe reserva a marcha estafante, rumo ao aprendizado, mercê de sua iniciativa, inteligência, astúcia e coragem, na busca incessante de um futuro melhor e mais confortável. Entenderam? Nós também não!

Almejamos todos um porvir, de preferência sem pedras e outros tropeços, durante a fadigosa jornada que necessitaremos enfrentar sem medos e receios. Todos nós, entretanto, e sem exceção, carregamos algo em comum na porra da mala de viagem, não importando a direção que tomaremos logo adiante. Queiramos ou não, esse caralho grosso e duro estará enroscado na nossa sombra, colado em nosso calcanhar, como uma desgraça iminente. Por Deus, que caralho é esse? Não é bem um caralho, porém, uma velha e degradante verdade: a negra e desconfortante velhice.

Foto: Autoria não identificada

Pois bem. Das espécies com vida em nosso planeta, o ser vivente é o único bicho que definitivamente não sobrevive sozinho. Precisa coabitar em sociedade. Formar família. Trepar, comer a mulherada, trair o vizinho, o amigo. Do seu nascimento até a derradeira hora de embarcar na canoa de Caronte, a morte material, o ser vivente se meterá  numa caminhada ímpar, por intermináveis e intrépidos  carreiros abertos, hora após hora,  se fornicando com o suor de seu rosto. Num todo, trilhos, cortes e sendas essas, onde vivenciarão as calmarias e tormentas, alegrias e tristezas, vitórias e derrotas, prazeres e dores.

Seu aprendizado nessa lida é extremamente doloroso, sua ânsia pelo saber se torna massacrante. Chega a torná-lo, ou a deixá-lo ousado e curioso em relação ao futuro ainda por vir. Nesse pisar incerto, o estágio se apresenta lento e vagaroso. Em certos momentos, quase parando. Tem momentos em que o sujeito, puto da vida, dá vontade de enfiar o dedo no cu, rasgar as pregas, ou enfiar na cara do primeiro político que encontrar à sua beira uma bala certeira e fazê-lo ver o diabo mais cedo. 

Muitas vezes o esforço empregado se torna improdutivo, sem qualidade, por mais que o camarada se esforce para que sua vontade férrea vá em frente e tenha vida própria. Via igual, o tempo inexorável continua passando. Nesse mudar de posição contrária ao homem, gerações novas simplesmente substituem as antigas e, por ser assim, e não de outra forma, galeras diferentes, sem a oportunidade de uma convivência harmoniosa surgem a cada novo piscar de olhos. Como baratas saindo de um bueiro em Brasília, ou mais precisamente do banheiro do Palácio da Alvorada, por terem visto o Michel Jackson Temer sentado na bacia da sua privada particular cagando as tristezas de todo um  povo brasileiro.   

Entendemos que uma leva de gente deveria vir em auxílio da outra ou, simplesmente, ambas em apoio mútuo, se associarem entrelaçando as inexperiências e vitalidades juvenis irmanadas às experiências dos mais velhos, formando, nesse contexto, um único e coeso quadro coerente. Uma parceria indestrutível, confiável, sobretudo de ousadia, com lucidez, para juntos, de comum acordo, alcançarem surpreendentes resultados que deixassem boquiabertos e com caras de boiolas, os famigerados que acreditavam encontrá-los humilhados nas valas comuns da puta que pariu.

Não achamos, senhoras e senhores, ser correto justo ou perfeito, discriminar as pessoas, apenas e tão somente pelo fato de serem mais velhas, ou porque já não possuem a juventude plena dos dias primevos. Rejeitarmos essas criaturas é o mesmo que desprezarmos o aprendizado que elas trazem consigo. 

Os homens, em sua maioria, se deixam abraçar pela insensatez e egoísmo, desamparam, desarrimam, repudiam, renegam, se esquecendo que esse sentimento de rejeição mais cedo ou mais tarde, lhes será devolvido com maior quantidade de violência e intensidade.

Londres, foto: Autoria não identificada

Sendo, pois, a experiência nossa maior instrutora, mormente grande aliada,  não podemos, de forma alguma, ou sobre qualquer pretexto, postergar, desassistir, refugar, jogar por terra esses ensinamentos. Não importa se o nosso “próximo”, morador do lado, de frente, de banda, de cima, de baixo, de qualquer procedência (nosso irmão, portanto, preto, branco, amarelo, azul, cor de rosa) jamais deveremos abandoná-lo à sorte, ao léu, sobre hipótese nenhuma.

Levando em conta o que acima dissemos, senhoras e senhores, respeitemos os de mais idade, os que já viveram anos a fio em busca de sonhos e dias melhores.  De coração nos orgulhemos por essas criaturas que se embrenharam por desvios, pistas e rastros, e conseguiram com fé e coragem, chegar até aqui. Até nós.

Necessário se faz, em patamar idêntico, levarmos em conta, e não só em conta, em alta consideração, igualmente, o fato de que foram eles, o que, indubitavelmente, hoje somos. Por derradeiro, tenhamos em mente, uma verdade simples, mas que define tudo o que aqui foi dito: amanhã, infalivelmente, seremos o que são eles, agora. O nosso próprio espelho na velhice indigesta e enrugada do tempo. E o tempo, até onde sabemos, não perdoa, fode e arregaça com força. 

Lisboa, foto: Autoria não identificada

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Título, Imagens e Texto: Aparecido Raimundo de Souza, jornalista, Vila Velha, Espírito Santo, 30-12-2016

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