Como eu afirmei ao comentar este artigo trarei para o leitor alguns trechos que selecionei do
livro. Embora o livro se dedique à imprensa francesa, o leitor reconhecerá,
nesses trechos, ‘Jornalistas’ de Portugal, dos EUA, da Espanha e do Brasil.
Curiosamente, os ‘Jornalistas’
são muito ‘aguerridos’ quando entrevistam gente de Direita e/ou que defende
valores tradicionais.
Citei o Brasil por último
porque não me lembro de ter visto tanta agressividade por parte de
entrevistadores… disse entrevistadores, não comentadores.
Vamos ao primeiro trecho selecionado.
Tudo o que quero dizer aqui se
encontra exemplificado em uma entrevista organizada por Yann Barthès [foto], em
15 de outubro de 2015, no Canal Plus. Barthès recebe Philippe Verdier, chefe do
Serviço de Meteorologia de France 2 (canal televisivo) para falar do livro no
qual ele denuncia as estratégias de comunicação elaboradas em volta da questão
do aquecimento climático.
O convidado começa uma frase: “Eu fui acusado de ser climatocético desde o princípio, fui alvo de uma campanha de difa…” Yann Barthès interrompe: “Você não é?”.
O convidado começa uma frase: “Eu fui acusado de ser climatocético desde o princípio, fui alvo de uma campanha de difa…” Yann Barthès interrompe: “Você não é?”.
Ele poderia ter adotado uma
postura de observador e perguntar “o que você responde aos que o acusam de ser
climatocético?”.
Pelo seu olhar, a brutalidade
da sua interrupção, o tom da sua pergunta e a forma, Yann Barthès encarna o
Jornalista por excelência, versão moderna do inquisidor. “Sou vítima de
difamação: desde o início, fui acusado de bruxo…” – “Você não é?” Tem que ser
vista esta entrevista. (http://dai.ly/x39so8z).
Sem sombra de dúvida, se Yann
Barthès tivesse o poder de condenar Philippe Verdier, ele o faria
independentemente do que este dissesse em sua defesa. E o faria com o
sentimento de cumprir o seu dever, retirando de um indivíduo perigoso sua capacidade
destrutiva.
Quando assisti a esta emissão,
tinha acabado de ler Em nome da rosa.
A semelhança entre os dois homens me saltou aos olhos: eu olhava para Yann
Barthès e via Bernardo Gui.
A noção de inquisição
midiática é um leitmotiv na boca daqueles
que essa mesma inquisição classifica – sem dúvida por essa mesma razão – de
“extrema-direita” ou designa como pessoas “controvertidas”. De fato, a priori, essa expressão não é nada
elogiosa. Quando se decreta que a imprensa é a nova inquisição, critica-se a
sua propensão a perseguir o pensamento desviante que se afasta do
“politicamente correto”, denuncia-se seus métodos totalitários e as posturas
homogêneas e dogmáticas dos jornalistas. Foi dentro dessa perspectiva acusadora
que Francis Puyalte, ele mesmo jornalista, redigiu um livro cujo título é
justamente A Inquisição midiática.
Mas, refletindo bem, os jornalistas devem se ofender com esta comparação e recebê-la
como insulto?
Sabemos que os nossos
antepassados preferiam, muito mais, ser julgados pelos tribunais da Santa
Inquisição do que pela justiça real. Em frente aos inquisidores, é possível se
arrepender, se retratar, beijar a Cruz e prometer que doravante não mais se
contestará o dogma. O inquisidor é tão somente aquele que coloca as questões. É para o braço secular que
se remete o acusado, se necessário, para submetê-lo à questão, do latim quæstio
(o recurso à tortura era raríssimo). E é ao braço secular que se entrega o
acusado, a fim de ser pronunciada a sentença e o castigo. Da mesma maneira, o
Jornalista não tem o poder de manter sob custódia, nem de enviar para a prisão
aquele que derroga a doxa
obrigatória. Assim como o inquisidor, ele é aquele que interroga o suspeito; e
faz as mesmas perguntas que ele: “você está consciente da gravidade das suas
afirmações?”, “está arrependido de ter dito isso?” São questões que não
deveriam estar na boca do Jornalista se ele se encarregasse somente de
transmitir as informações, pois que são falsas questões.
Quando o Jornalista pergunta
ao seu interlocutor: “que número você estima de pessoas atingidas pelo vírus,
atualmente?”, está colocando uma verdadeira questão. Quando ele pergunta: “você
se arrepende de ter feito tais afirmações?”, ele não está procurando uma
informação, ele quer conferir a adesão ao dogma, ele faz uma pergunta que tem
valor moral, dando ao acusado a ocasião para se retratar, de refutar as suas
próprias palavras e de voltar para o grupo.
O Jornalista acha ridícula e
excessiva esta comparação com o inquisidor. Porque ele define o inquisidor como
um monstro sanguinário e obtuso, a encarnação do obscurantismo ao qual se contrapõe,
justamente, o livre acesso à informação.
Mas, salvo exceção, o
inquisidor não é uma pessoa má. É um homem de convicção ao serviço de uma ideologia.
Como o Jornalista. E como este, ele mantém sempre a consciência tranquila.
Título e Texto: Ingrid Riocreux, in “La langue des
médias – Destruction du langage et fabrication du consentement”, páginas 32, 33
e 34.
Tradução: JP
Tradução: JP
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