João Pereira Coutinho
Depois da verborreia, Marcelo descobriu
finalmente as virtudes do silêncio. Se o Presidente é tão arguto como dizem, já
percebeu que é mais importante cair nas graças do país do que nas desgraças do
governo
NO INÍCIO ERA O VERBO. Falo do verbo que o Presidente da República
usava com abundância – para comentar, festejar, dar palpites e proteger o
governo de gripes e constipações. Entende-se. A economia não afundara; o País
estava na moda; os portugueses tinham dinheiro no bolso; e o acordo das
esquerdas sempre dava para os gastos. Se o futuro era radioso, Marcelo queria
associar-se a ele.
Em poucas semanas, a fantasia
ruiu: dos mortos de Pedrógão Grande à roubalheira de material militar em
Tancos, os portugueses confrontam-se com um Estado ruinoso, inapto e até leta.
E agora, com três secretários de Estado na rua e um governo paralisado e
agónico, quem, em juízo perfeito, quer associar o seu nome a este espetáculo
grotesco?
Depois da verborreia, Marcelo
descobriu finalmente as virtudes do silêncio. Será para manter? Mistério. Uma
coisa é certa: se o Presidente é tão arguto como dizem, ele já percebeu que é
mais importante cair nas graças do país do que nas desgraças do governo.
Texto: João Pereira Coutinho, SÁBADO, nº 689,
de 13 a 19 de julho de 2017
Título e Digitação: JP
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