Lucas Berlanza
Quando o país se viu aturdido por uma paralisação nacional dos caminhoneiros e começou a se desenhar um cenário de protótipo de Venezuela, com desabastecimento de mercados, postos e até aeroportos, tudo parecia confuso e nebuloso.
Chegaram a ser aventadas
pautas positivas por parte de alguns dos “grevistas”, como o cumprimento da lei
do voto impresso e a liberdade de negociação com o governo sem a tutela de
nossos lamentáveis sindicatos. Porém, deixando de lado certos métodos de
reivindicação universalmente condenáveis, como bloqueios de estradas e queimas
de pneus, o movimento parece ter alcançado uma proporção tal que fica difícil
determinar uma única substância de princípios e pautas por trás de tudo.
Ainda assim, é forçoso
reconhecer que os últimos sinais, no momento em que escrevemos estas linhas, do
ponto de vista do caráter das bandeiras defendidas, não são muito animadores.
Uma reunião com representantes do governo e dos caminhoneiros – no caso,
sindicatos, contrariando a tal pauta da “livre negociação sem tutela” – definiu
um acordo mediante o qual o governo congelará (isso mesmo, congelará!) os
preços do diesel por trinta dias e promoverá um subvencionamento à Petrobrás
pelos enormes prejuízos que isso causará à empresa.
Em outras palavras, a velha
receita intervencionista do Estado-empresário: o governo controlará a economia
através da força da caneta e equilibrará as contas de uma empresa através da
verba do pagador de impostos. Até quando isso se sustentará, não sabemos;
talvez uma estratégia de um governo virtualmente acabado para empurrar tudo com
a barriga até as eleições.
O único grupo representativo
de caminhoneiros que se retirou da reunião e declarou insistir na paralisação
também não alegou nenhum grande motivo virtuoso para assim agir. Disse
simplesmente que só normalizarão as atividades quando a decisão de zerar a
alíquota do PIS-Cofins virar lei – o que será compensado, naturalmente, com
mais tributação em outras áreas, conforme a proposta apoiada pelo irresponsável
presidente da Câmara, Rodrigo Maia, prevendo “reoneração” da folha de pagamento
em diversos outros setores.
Aparentemente, os atores
principais não estão querendo soluções por alternativas que não orbitem o
“pensamento mágico” estatista. Alguns, como o Movimento Brasil Livre, propõem
as receitas certas: privatização da Petrobras, privatização de todas as
estatais, corte de supersalários, redução drástica da burocracia… Ou seja,
medidas que promovam uma redução profunda no tamanho do Estado e consequentemente
nos gastos públicos, não que apenas realizem uma ciranda na cobrança dos
impostos para trocar os setores sobre os quais eles incidirão. É por essas
medidas que o grosso dos caminhoneiros faz barulho nas ruas? Eis o que
infelizmente não transparece até o momento.
De todo modo, ninguém contesta
que o combustível está caro e sofremos tremendamente com altos impostos.
Ninguém contesta que há uma situação delicada a enfrentar no quadro econômico
do país, embora a equipe econômica do presidente Temer nos tenha conseguido
afastar da recessão. O grave erro estará em admitir o escárnio e o oportunismo
das extremas esquerdas e do lulopetismo e imputar ao governo atual a
responsabilidade pela criação desse cenário.
Alguns órgãos de imprensa
divulgaram que a ex-presidente (graças aos céus) Dilma Rousseff publicou em seu
Instagram, em plena “greve” que prejudica o abastecimento de combustíveis, um
vídeo antigo em que aparece andando em sua bicicleta, com as inscrições “Bike é
vida”, “Vida saudável” e “Presidenta eleita”. As matérias afirmam que a
publicação é uma forma de Dilma “debochar” do momento de dificuldade de seu
sucessor no Planalto.
Seremos precavidos e não
acusaremos a petista de estar escarnecendo de Temer. Admitamos que ela
simplesmente quis promover os exercícios físicos… De todo modo, é fundamental
que fique claro que a excelentíssima ex-presidente não tem qualquer condição
moral de destilar sarcasmo sobre a quadra de sofrimento e agudeza atravessada
pela nação, nem os descerebrados próceres do petismo estão em qualquer posição
de atribuir aos “paneleiros” e defensores do justíssimo impeachment os
tormentos da semana.
Dilma Rousseff é a responsável
mais direta por tudo que está acontecendo. Não haveria recessão alguma não
fosse por ela. Não haveria tanta dificuldade no manejo das contas públicas, não
fosse a aposta lulopetista de “maquiar contas” e brincar com o Tesouro. Não
haveria tamanha tragédia sem a malfadada Nova Matriz Econômica. Não estaríamos
como estamos se, nos treze anos de PT no governo federal, não tivéssemos
prejuízos da Petrobras estimados em cerca de R$ 42 bilhões. Se não houvesse as
obras superfaturadas, como as da refinaria Abreu e Lima.
Mais ainda, e talvez mais
conectado ao mote do problema em realce nesta paralisação: se Dilma não tivesse
sustentado artificialmente os preços da gasolina – exatamente como o governo
Temer agora se atreve a fazer – apenas para garantir sua reeleição, freando
reajustes, a conversa hoje seria outra.
Podemos, todos nós, criticar o
governo pelo que decidiu fazer agora. Todos, menos os petistas. Menos Dilma
Rousseff e seu exército de vis mentecaptos. O que eles deveriam fazer era pegar
seus trapos e abdicar de qualquer pretensão ao poder, de que se provaram
indignos ao atraiçoarem a pátria.
O que passamos hoje tem
responsáveis, com nome, sobrenome e carteira de identidade. Que eles não ousem
posar de heróis.
Título, Imagem e Texto: Lucas Berlanza, Instituto Liberal, 25-5-2018
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