sábado, 9 de março de 2019

A catofobia, novo mal francês

Notas preliminares do Editor:
Fobia, segundo o Houaiss: medo exagerado; falta de tolerância; aversão.

Em francês, católico se escreve catholique. E catolicismo, catholicisme.

Portanto, quem tem aversão (fobia) ao catolicismo, sofre de cathofobie, que traduzi para catofobia, pois não achei vocábulo correspondente em português.

Vamos à matéria, ou melhor, ao editorial de Franz-Olivier Giesbert.

O Papa Francisco será o homem adequado, agora que a Igreja católica cambaleia? Ele faz o que pode, mas, por enquanto, ele pouco pode.

Contra a pedofilia, que por muito tempo gangrenou uma parte da Igreja, ele terá sido magistral. Mas, quanto ao resto, o Soberano Pontífice esforça-se, sobretudo, por agradar à imprensa e, contrariamente aos seus predecessores, ele vai conseguindo. De uma humildade sulpiciana, ele quer mais é não perturbar/incomodar.

Daí o estranho silêncio papal sobre as últimas profanações de igrejas em França, que certamente são imputáveis, em alguns casos, a adolescentes. É um fenômeno que não comove nem um pouco a nossa imprensa, apesar de, no ano passado, ter atingido 878 locais de culto católico. Imaginem a onda de indignações se esses atos de vandalismo tivessem atingido mesquitas!

A política da igreja queimada é corrente em terra do Islã. Incontáveis terão sido, nestes anos, os locais de culto saqueados ou destruídos em alguns países muçulmanos como Nigéria, Indonésia, Egito, onde a prática foi orquestrada pela Irmandade Muçulmana. Sem falar nos massacres de fiéis.


Muito vigilante sobre a islamofobia, que não hesita em condenar ao lado do odioso Erdogan, que se orgulha de ser Irmão Muçulmano, o papa Francisco é menos inclinado a protestar contra a catofobia ou a cristianofobia de que foram vítimas, ultimamente, várias igrejas francesas, onde foram quebradas cruzes e estatuetas.

Para onde foram os peticionários hemiplégicos, as organizações de direitos-do-homem de sentido único? Silêncio total. Monsenhor Ginoux, bispo de Montauban, foi uma das únicas pessoas, juntamente com os senhores Philippe1 e Wauquiez2, a se escandalizar.

Inquieto sobre as “poucas reações” depois de “um ataque direto contra a fé católica”, o prelado denunciou a “covardia” dos que nos governam, preocupados, segundo ele, em não aparecer favoráveis à Igreja católica.

A islamofobia é geralmente reprovada. Por que a catofobia seria aprovada? É uma questão que a Igreja não pode eludir. Tudo será melhor para a Igreja quando esta não tiver mais medo e ousará chamar um gato de gato. Atualmente, ela fala tão baixo, tão baixinho que não se consegue ouvir. Por isso ela faria melhor em se conformar a adjurações, como a de Bruno Frappat, grande figura da imprensa católica.

Num artigo retumbante publicado em “La Croix”, de 22-23 de fevereiro, Bruno Frappat celebra, a propósito de antissemitismo, os “catos (católicos) furiosos” que, como Léon Bloy ou o extraordinário Georges Bernanos última safra, souberam “portar bem alto a tocha sagrada que às vezes é necessária perante os acontecimentos e comportamentos” para “estigmatizar os, como dizer?, sacos de merda”.

Estes denunciantes escreviam de maneira crua, sem filtro. Eles não tinham o estilo compassado, gnangnan, morno que prevalece na Igreja. “Existe alguma maneira verdadeiramente cristã de dizer não à ignomínia?” se pergunta Bruno Frappat, que lembra, en passant, a fúria de Cristo perante os impostores, na escadaria do Templo de Jerusalém. Mas para onde foi a fúria?

Sempre existe, em nosso caro país, um velho fundo pétainiste3 que nos empurra para a negação, notadamente a negação do antissemitismo, que, atualmente, expulsa os judeus dos bairros e os obriga a deixar o país ou a se mudar de cidades como Estrasburgo. Sobre este assunto como tantos outros que poderiam zangar, a Igreja tende a varrer a poeira para debaixo do tapete. Não se deve estigmatizar, dirá. Coragem, calemo-nos.

Desde há seis anos que Francisco chegou ao Vaticano, a Igreja católica continua naufragando, lentamente, mas inegavelmente, enquanto que o Islã e os evangélicos conquistam posições na maior parte dos continentes, o primeiro na África, os segundos na América Latina. O papa conseguirá sair dessa?

As civilizações são mortais, as religiões também. A Igreja chegou a um momento de sua história em que deve, a todo o custo, se refundar para sobreviver. Já era tempo de ela ousar, enfim, tratar do problema de pedofilia. Graças serão dadas ao papa Francisco por ter aberto a Caixa de Pandora e de ter se expressado com vigor. Tratando por “ferramentas de Satã” os padres que se entregam a essas práticas. Espera-se agora que ele comprove a mesma audácia em outros temas como o celibato dos padres e o lugar da mulher no clero.

Há mais de um século que grandes pensadores ocidentais, a começar por Nietzsche, anunciam a morte de Deus. Por enquanto, é sobretudo a Igreja que não vai bem. Há já alguns anos ela parece ter saído da história, da sua época. Bastar-lhe-á acreditar nela própria para entrar de novo.
Título e Texto: Franz-Olivier Giesbert, em editorial na Le Point, nº 2426, 28-2-2019
Tradução e Digitação: JP, 9-3-2019

1 Édouard Phillipe, primeiro-ministro da França.
2 Laurent Wauquiez, presidente do partido Os Republicanos (Les Républicains).
3 Seguidores/simpatizantes de Phillippe Pétain, chefe de estado da França de Vichy, de 1940 a 1944.

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