Notas
preliminares do Editor:
Fobia,
segundo o Houaiss: medo exagerado; falta de tolerância; aversão.
Em
francês, católico se escreve catholique.
E catolicismo, catholicisme.
Portanto,
quem tem aversão (fobia) ao catolicismo, sofre de cathofobie, que traduzi para catofobia,
pois não achei vocábulo correspondente em português.
Vamos
à matéria, ou melhor, ao editorial de Franz-Olivier Giesbert.
O Papa Francisco será o homem adequado, agora que a Igreja católica
cambaleia? Ele faz o que pode, mas, por enquanto, ele pouco pode.
Contra a pedofilia, que por
muito tempo gangrenou uma parte da Igreja, ele terá sido magistral. Mas, quanto
ao resto, o Soberano Pontífice esforça-se, sobretudo, por agradar à imprensa e,
contrariamente aos seus predecessores, ele vai conseguindo. De uma humildade
sulpiciana, ele quer mais é não perturbar/incomodar.
Daí o estranho silêncio papal sobre as últimas profanações de
igrejas em França, que certamente são imputáveis, em alguns casos, a
adolescentes. É um fenômeno que não comove nem um pouco a nossa imprensa,
apesar de, no ano passado, ter atingido 878 locais de culto católico. Imaginem
a onda de indignações se esses atos de vandalismo tivessem atingido mesquitas!
A política da igreja queimada
é corrente em terra do Islã. Incontáveis terão sido, nestes anos, os locais de
culto saqueados ou destruídos em alguns países muçulmanos como Nigéria,
Indonésia, Egito, onde a prática foi orquestrada pela Irmandade Muçulmana. Sem falar nos massacres de fiéis.
Muito vigilante sobre a islamofobia, que não hesita em condenar ao
lado do odioso Erdogan, que se orgulha de ser Irmão Muçulmano, o papa Francisco
é menos inclinado a protestar contra a catofobia ou a cristianofobia de que
foram vítimas, ultimamente, várias igrejas francesas, onde foram quebradas
cruzes e estatuetas.
Para onde foram os peticionários hemiplégicos, as organizações de
direitos-do-homem de sentido único? Silêncio total. Monsenhor Ginoux, bispo
de Montauban, foi uma das únicas pessoas, juntamente com os senhores Philippe1 e Wauquiez2,
a se escandalizar.
Inquieto sobre as “poucas reações” depois de “um ataque direto contra a fé católica”,
o prelado denunciou a “covardia” dos
que nos governam, preocupados, segundo ele, em não aparecer favoráveis à Igreja
católica.
A islamofobia é geralmente reprovada. Por que a catofobia seria
aprovada? É uma questão que a Igreja não pode eludir. Tudo será melhor para
a Igreja quando esta não tiver mais medo e ousará chamar um gato de gato.
Atualmente, ela fala tão baixo, tão baixinho que não se consegue ouvir. Por
isso ela faria melhor em se conformar a adjurações, como a de Bruno Frappat,
grande figura da imprensa católica.
Num artigo retumbante publicado
em “La Croix”, de 22-23 de fevereiro, Bruno Frappat celebra, a propósito de
antissemitismo, os “catos (católicos)
furiosos” que, como Léon Bloy ou o
extraordinário Georges Bernanos última safra, souberam “portar bem alto a tocha sagrada que às vezes é necessária perante os
acontecimentos e comportamentos” para “estigmatizar
os, como dizer?, sacos de merda”.
Estes denunciantes escreviam de maneira crua, sem filtro. Eles não
tinham o estilo compassado, gnangnan,
morno que prevalece na Igreja. “Existe
alguma maneira verdadeiramente cristã de dizer não à ignomínia?” se
pergunta Bruno Frappat, que lembra, en passant,
a fúria de Cristo perante os impostores, na escadaria do Templo de Jerusalém.
Mas para onde foi a fúria?
Sempre existe, em nosso caro
país, um velho fundo pétainiste3 que nos empurra para a negação, notadamente a
negação do antissemitismo, que, atualmente, expulsa os judeus dos bairros e os
obriga a deixar o país ou a se mudar de cidades como Estrasburgo. Sobre este
assunto como tantos outros que poderiam zangar, a Igreja tende a varrer a
poeira para debaixo do tapete. Não se deve estigmatizar, dirá. Coragem,
calemo-nos.
Desde há seis anos que Francisco chegou ao Vaticano, a Igreja
católica continua naufragando, lentamente, mas inegavelmente, enquanto que o
Islã e os evangélicos conquistam posições na maior parte dos continentes, o primeiro
na África, os segundos na América Latina. O papa conseguirá sair dessa?
As civilizações são mortais, as religiões também. A Igreja chegou a
um momento de sua história em que deve, a todo o custo, se refundar para
sobreviver. Já era tempo de ela ousar, enfim, tratar do problema de pedofilia.
Graças serão dadas ao papa Francisco por ter aberto a Caixa de Pandora e de ter
se expressado com vigor. Tratando por “ferramentas de Satã” os padres que se
entregam a essas práticas. Espera-se agora que ele comprove a mesma audácia em
outros temas como o celibato dos padres e o lugar da mulher no clero.
Há mais de um século que
grandes pensadores ocidentais, a começar por Nietzsche, anunciam a morte de
Deus. Por enquanto, é sobretudo a Igreja que não vai bem. Há já alguns anos ela
parece ter saído da história, da sua época. Bastar-lhe-á acreditar nela própria
para entrar de novo.
Título e Texto: Franz-Olivier Giesbert, em editorial na
Le Point,
nº 2426, 28-2-2019
Tradução e Digitação: JP, 9-3-2019
1 Édouard
Phillipe, primeiro-ministro da França.
2 Laurent Wauquiez, presidente
do partido Os Republicanos (Les Républicains).
3 Seguidores/simpatizantes
de Phillippe Pétain, chefe de estado da França de Vichy, de 1940 a 1944.
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