A arte da previsão consiste em antecipar o que acontecerá e
depois explicar o porquê não aconteceu.
Churchill
Dará certo o governo Trump?
Quando o futuro for passado,
saberemos a resposta. Por ora, tudo é especulação, embora, como na previsão do
tempo, tenhamos algumas pistas.
A despeito disso, a imprensa e
a opinião pública brasileiras são quase unânimes em afirmar que tudo dará
errado. Se essa previsão estiver na mesma linha daquelas onze em cada dez que
previam a sua derrota, tudo dará certo.
A previsão do tempo tem grande
probabilidade de acerto nos dias que correm. Supercomputadores, modelos
matemáticos, satélites meteorológicos, boias oceânicas, históricos e
estatísticas meteorológicos, toda essa parafernália forma um conjunto de bons
instrumentos para dizer se vai chover, se vai haver tempestades, furacões,
secas inundações e toda e qualquer outra intempérie e, não menos importante, se
o tempo vai ser bom.
Apesar disso, há falhas
cômicas. Há alguns anos, com base nas tendências do aquecimento global (global warming), foi feita uma previsão
de que onze furacões se formariam, nove atingiriam os Estados Unidos, e seis
deles seriam devastadores. No ano dessa previsão, nada de anormal aconteceu.
Repetiram a previsão no ano seguinte, e nada. Pararam de fazer tais previsões
catastróficas. O ano passado foi o décimo primeiro sem um furacão devastador na
Florida, o que não quer dizer que a qualquer ano não apareça algum.
O que isso quer dizer? Quer
dizer que todas as previsões, mesmo aquelas baseadas em modelos científicos,
podem falhar.
No campo da política, onde não
se pode usar sofisticada tecnologia, devemos separar o que é uma previsão
razoável de uma torcida fanatizada.
Em política, sempre cético. Já
vi muita coisa, no Brasil e no mundo. Tendo sempre a não acreditar em promessas
eleitorais e nas intenções altaneiras dos políticos. Outra coisa que também me
faz sempre estar com um pé atrás é a certeza absoluta dos eleitores. É que toda
eleição, umas mais, outras menos, os ânimos se exacerbam e as pessoas tendem a
perder o senso crítico. Passadas as eleições, principalmente quando a disputa
foi acirrada, há sempre uma massa de derrotados inconformados com o revés
eleitoral e há uma tendência desse inconformismo se transformar em visões
apocalípticas.
Quando Trump saiu candidato a
imprensa dizia que não teria qualquer chance de ser escolhido pelo partido. Os
dezessete pré-candidatos do Partido Republicano foram, um após outro, ficando
pelo meio do caminho e Trump, contra todas as previsões, foi o ungido com uma
grande votação nas primárias. Feito candidato, sua vida empresarial e privada
foi alvo da mais profunda investigação. Só o jornal The Washington Post destacou mais de vinte jornalistas para virar
pelo avesso a sua trajetória, enquanto olhava para outro lado para não ver a da
Hillary. Descobriu-se – surpresa! - que
ele gostava de mulher, gabava-se disso e chegava a ter comportamento verbal,
nessa área, reprovável. Eu mesmo cheguei a estranhar uma conversa que ele teve
há mais de onze anos, quando usou do calão para descrever a sua técnica de
“pegador”. Contudo, foi uma conversa particular, sem consequência, mais para o
lado da bazófia e, a considerar, ele não era homem de vida pública, nunca
exercera cargo público, tendo sua vida toda centrada no mundo dos negócios, em
que sempre foi bem-sucedido. Chegou a fazer algumas observações desairosas em
relação a uma candidata a miss em cujo concurso ele estava envolvido
empresarialmente. Disse que ela estava gorda. Feitas todas as ponderações, não
configura absurdo dos absurdos um empresário, envolvido no certame, achar que é
desapropriado uma candidata a miss universo estar bem acima do peso ou se
exceder nos prazeres da mesa. Esse tipo de certame não é, sabidamente, para
mulheres que saiam de um determinado padrão corporal, por mais que isso nos
agrade.
Os mesmos órgãos e pessoas que
achavam esses defeitos capitais para um candidato à presidência eram os mesmos
que se perfilavam com a Hillary, cujo marido transformou o Salão Oval da Casa
Branca, de onde o presidente decide os destinos da nação, num verdadeiro
lupanar, recorrendo até a um charuto como instrumento sexual. Fizeram também
vistas grossas às perseguições da candidata às vítimas sexuais do seu marido.
Dentro desse comportamento de dois pesos e duas medidas (double standard), dirigiam comentários ovacionais àquela que foi um
fracasso como secretária de Estado, como também olharam para o lado para fingir
não ver os graves fatos de que era acusada a fundação dos Clintons e o uso do
alto cargo público por ela desempenhado para angariar recursos para tal
fundação.
Mas entendo e condescendo bem
com esses comportamentos, pois, sendo humano, entendo as paixões humanas. O
mesmo não posso dizer dos órgãos de imprensa cujo dever primordial é bem
informar com a maior isenção possível. No dia da eleição, tarde da noite para a
madrugada do dia seguinte, quando ficou evidente que Trump estava eleito,
apresentadores e comentaristas profissionais das redes de televisão americanas,
CNN e NBC na vanguarda, desabaram, perderam o controle emocional e qualquer
resquício de compostura, havendo comentários com vozes embargadas e, até,
lágrimas rolando. As máscaras, se ainda havia alguma, caíram. Entrem no YouTube
e vejam o que estou dizendo. A coisa não é trágica porque orça pela comicidade.
Os órgãos brasileiros de
imprensa só fizeram reproduzir, de forma ridícula e piorada, a campanha da
imprensa liberal americana (The New York
Times, Washington Post, CNN, ABC etc.), valendo salientar que a palavra
liberal designa a esquerda americana, que vive de braços dados com o Partido
Democrata, toda ela antirrepublicana. Merece ser repisado aqui que o vocábulo
liberal, em inglês, quando usado em política, não é cognato da palavra assim
também grafada em português; pelo contrário, tem significado diametralmente
oposto do propósito com que é aplicada no Brasil, significa esquerda.
Voltemos ao ponto inicial de
nossa conversa. Será que o governo Trump dará certo?
Se os Estados Unidos passarem
a crescer de forma forte, Trump começará a amealhar apoios de todas as partes
da sociedade, com exceção da esquerda, que essa é incurável. O povo quer saber
e sentir se sua vida está melhorando a um ritmo razoável; quer saber se o país
não está perdendo importância relativa em relação ao resto do mundo; quer saber
se o sistema de ensino melhora; se os empregos são melhores e mais bem
remunerados; se a política externa americana vai na direção certa, etc. Se tudo
isso acontecer, Trump será consagrado. Caso contrário, chegará ao fim do
mandato capengando e não será reeleito.
Iniciou sua primeira semana de
governo num ritmo de trabalho alucinante, começando a colocar em prática seu
amplo programa de governo. Até agora não se afastou dos compromissos assumidos.
E quais são esses compromissos? Melhorar a segurança do país, construir um muro
na divisa com o México para dificultar o ingresso de drogas e imigrantes
ilegais (já existe um muro em boa parte da fronteira), reduzir como nunca os
impostos, principalmente o imposto corporativo e o imposto de renda, criar
barreiras aos países que, direta ou indiretamente, criam barreiras aos produtos
americanos, revogar as regulamentações que atrapalham os negócios, revogar o
problemático e custoso Obamacare, reduzir despesas de pessoal e combater o
terrorismo islâmico, dentro de uma pauta extensa e importante.
Quase metade de seu gabinete
ainda não foi aprovado pelo Senado, inclusive o nome do Secretário do Tesouro,
equivalente, no Brasil, a ministro da fazenda, o que não o tem impedido de
trabalhar num ritmo nunca visto na Casa Branca. A oposição está aturdida com o
poder de iniciativa e de execução demonstrados. O homem saca e atira rápido.
Vou aguardar a política
econômico-fiscal que será adotada para edificar melhor a visão que tenho do seu
governo, atualmente limitada ao campo das promessas feitas na campanha. Gostei
do seu plano de governo, que estudei com a prudência de que gosto.
À proporção que as medidas
mais importantes sejam tomadas, farei um relato.
Por último, após consultar
toda a parafernália de previsão do tempo, emito um boletim sujeito a sessenta
por cento de acerto: Tempo nublado, nuvens pesadas no horizonte, pancadas de
chuva e ventos fortes no início, mas, no decorrer do período, o sol aparecerá e
teremos tempo bom.
Texto: Pedro Frederico Caldas,
27-1-2017
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