Conheço meu amigo João desde o
dia em que fomos para o Quartel de Campo Grande, em Lisboa.
Era um jovem do Alto Minho,
que trabalhara duramente para conseguir o almejado quinto ano.
Começara a mourejar na
lavoura. Depois, veio para o Porto, como marçano. Fazia recados e entregas.
Paralelamente, estudava à
noite. Com esforço e força de vontade, concluiu o Curso Geral do Liceu.
Com o certificado na mão,
concorreu para lugar público e como era ambicioso, esperto e inteligente, foi subindo,
até obter o pomposo cargo de Chefe.
Sua cultura nunca passara dos
elementares conhecimentos das disciplinas básicas do liceu, e da leitura de
jornais e “Selecções de Reader’s Digest”, que comprava num alfarrabista, da
Praça de Monpilher.
Após a reforma, reformou-se
igualmente da leitura: jamais leu, fosse o que fosse… nem a Bíblia, apesar de
ser católico praticante…
Quase semanalmente o encontro,
e raro é o dia que não vamos almoçar juntos, num pacato restaurantezinho da
baixa.
Sua presença me é agradável,
apesar do ar doutoral. Convenceu-se – ou quer-me convencer – que tudo sabe; tal
qual alguns políticos da nossa praça.
Se comento artigo que li, logo
replica: ”Não é bem assim!”
De indicador em riste, inicia preleção,
com autoridade de professor, declarando que me encontro redondamente enganado.
O espírito de sabichão
incomoda-me. Cheguei a esquivar-me. Descobri, anos há, que para perfilhar a
minha opinião bastava dizer-lhe o contrário do que penso…
Dia destes fiquei banzado: não
havia corrido muitas semanas que abordamos Camilo e a infeliz Ana Plácido.
Atalhou, para me dizer, que estava equivocado; e desbobinou, arenga, que só por
educação, aceitei.
Ora, no último encontro, veio
novamente à baila Camilo e seus amores. Fiquei estupefato, quando escutei,
tintim por tintim, o que lhe tinha dito e que reputara de confusão minha…
Como o João há muitos, que
pretendem parecer intelectuais. Asseveram, a pés juntos, o que não sabem.
Acontece em todas as áreas,
desde a literatura ao futebol.
Ao comentar a ocorrência, o
Silvério – com a experiência de muito ter vivido - acrescentou:
“Não é de admirar: outrora
havia ‘espertos’ para cada assunto. Agora, os comentaristas, da TV, criticam
tanto Literatura como Música; tanto entendem Futebol como Economia!
São enciclopedistas…
Título e Texto: Humberto Pinho da Silva
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