sexta-feira, 17 de maio de 2019

[Pensando alto] “Dará certo o governo Trump?”, perguntava Pedro Caldas, em janeiro de 2017

Pedro Frederico Caldas

A arte da previsão consiste em antecipar o que acontecerá e depois explicar o porquê não aconteceu.
Churchill

Dará certo o governo Trump?

Quando o futuro for passado, saberemos a resposta. Por ora, tudo é especulação, embora, como na previsão do tempo, tenhamos algumas pistas.

A despeito disso, a imprensa e a opinião pública brasileiras são quase unânimes em afirmar que tudo dará errado. Se essa previsão estiver na mesma linha daquelas onze em cada dez que previam a sua derrota, tudo dará certo.

A previsão do tempo tem grande probabilidade de acerto nos dias que correm. Supercomputadores, modelos matemáticos, satélites meteorológicos, boias oceânicas, históricos e estatísticas meteorológicos, toda essa parafernália forma um conjunto de bons instrumentos para dizer se vai chover, se vai haver tempestades, furacões, secas inundações e toda e qualquer outra intempérie e, não menos importante, se o tempo vai ser bom.

Apesar disso, há falhas cômicas. Há alguns anos, com base nas tendências do aquecimento global (global warming), foi feita uma previsão de que onze furacões se formariam, nove atingiriam os Estados Unidos, e seis deles seriam devastadores. No ano dessa previsão, nada de anormal aconteceu. Repetiram a previsão no ano seguinte, e nada. Pararam de fazer tais previsões catastróficas. O ano passado foi o décimo primeiro sem um furacão devastador na Florida, o que não quer dizer que a qualquer ano não apareça algum.

O que isso quer dizer? Quer dizer que todas as previsões, mesmo aquelas baseadas em modelos científicos, podem falhar.

No campo da política, onde não se pode usar sofisticada tecnologia, devemos separar o que é uma previsão razoável de uma torcida fanatizada.

Em política, sempre cético. Já vi muita coisa, no Brasil e no mundo. Tendo sempre a não acreditar em promessas eleitorais e nas intenções altaneiras dos políticos. Outra coisa que também me faz sempre estar com um pé atrás é a certeza absoluta dos eleitores. É que toda eleição, umas mais, outras menos, os ânimos se exacerbam e as pessoas tendem a perder o senso crítico. Passadas as eleições, principalmente quando a disputa foi acirrada, há sempre uma massa de derrotados inconformados com o revés eleitoral e há uma tendência desse inconformismo se transformar em visões apocalípticas.

Quando Trump saiu candidato a imprensa dizia que não teria qualquer chance de ser escolhido pelo partido. Os dezessete pré-candidatos do Partido Republicano foram, um após outro, ficando pelo meio do caminho e Trump, contra todas as previsões, foi o ungido com uma grande votação nas primárias. Feito candidato, sua vida empresarial e privada foi alvo da mais profunda investigação. Só o jornal The Washington Post destacou mais de vinte jornalistas para virar pelo avesso a sua trajetória, enquanto olhava para outro lado para não ver a da Hillary.  Descobriu-se – surpresa! - que ele gostava de mulher, gabava-se disso e chegava a ter comportamento verbal, nessa área, reprovável. Eu mesmo cheguei a estranhar uma conversa que ele teve há mais de onze anos, quando usou do calão para descrever a sua técnica de “pegador”. Contudo, foi uma conversa particular, sem consequência, mais para o lado da bazófia e, a considerar, ele não era homem de vida pública, nunca exercera cargo público, tendo sua vida toda centrada no mundo dos negócios, em que sempre foi bem-sucedido. Chegou a fazer algumas observações desairosas em relação a uma candidata a miss em cujo concurso ele estava envolvido empresarialmente. Disse que ela estava gorda. Feitas todas as ponderações, não configura absurdo dos absurdos um empresário, envolvido no certame, achar que é desapropriado uma candidata a miss universo estar bem acima do peso ou se exceder nos prazeres da mesa. Esse tipo de certame não é, sabidamente, para mulheres que saiam de um determinado padrão corporal, por mais que isso nos agrade.

Os mesmos órgãos e pessoas que achavam esses defeitos capitais para um candidato à presidência eram os mesmos que se perfilavam com a Hillary, cujo marido transformou o Salão Oval da Casa Branca, de onde o presidente decide os destinos da nação, num verdadeiro lupanar, recorrendo até a um charuto como instrumento sexual. Fizeram também vistas grossas às perseguições da candidata às vítimas sexuais do seu marido. Dentro desse comportamento de dois pesos e duas medidas (double standard), dirigiam comentários ovacionais àquela que foi um fracasso como secretária de Estado, como também olharam para o lado para fingir não ver os graves fatos de que era acusada a fundação dos Clintons e o uso do alto cargo público por ela desempenhado para angariar recursos para tal fundação.

Mas entendo e condescendo bem com esses comportamentos, pois, sendo humano, entendo as paixões humanas. O mesmo não posso dizer dos órgãos de imprensa cujo dever primordial é bem informar com a maior isenção possível. No dia da eleição, tarde da noite para a madrugada do dia seguinte, quando ficou evidente que Trump estava eleito, apresentadores e comentaristas profissionais das redes de televisão americanas, CNN e NBC na vanguarda, desabaram, perderam o controle emocional e qualquer resquício de compostura, havendo comentários com vozes embargadas e, até, lágrimas rolando. As máscaras, se ainda havia alguma, caíram. Entrem no YouTube e vejam o que estou dizendo. A coisa não é trágica porque orça pela comicidade.

Os órgãos brasileiros de imprensa só fizeram reproduzir, de forma ridícula e piorada, a campanha da imprensa liberal americana (The New York Times, Washington Post, CNN, ABC etc.), valendo salientar que a palavra liberal designa a esquerda americana, que vive de braços dados com o Partido Democrata, toda ela antirrepublicana. Merece ser repisado aqui que o vocábulo liberal, em inglês, quando usado em política, não é cognato da palavra assim também grafada em português; pelo contrário, tem significado diametralmente oposto do propósito com que é aplicada no Brasil, significa esquerda.

Voltemos ao ponto inicial de nossa conversa. Será que o governo Trump dará certo?

Se os Estados Unidos passarem a crescer de forma forte, Trump começará a amealhar apoios de todas as partes da sociedade, com exceção da esquerda, que essa é incurável. O povo quer saber e sentir se sua vida está melhorando a um ritmo razoável; quer saber se o país não está perdendo importância relativa em relação ao resto do mundo; quer saber se o sistema de ensino melhora; se os empregos são melhores e mais bem remunerados; se a política externa americana vai na direção certa, etc. Se tudo isso acontecer, Trump será consagrado. Caso contrário, chegará ao fim do mandato capengando e não será reeleito.

Iniciou sua primeira semana de governo num ritmo de trabalho alucinante, começando a colocar em prática seu amplo programa de governo. Até agora não se afastou dos compromissos assumidos. E quais são esses compromissos? Melhorar a segurança do país, construir um muro na divisa com o México para dificultar o ingresso de drogas e imigrantes ilegais (já existe um muro em boa parte da fronteira), reduzir como nunca os impostos, principalmente o imposto corporativo e o imposto de renda, criar barreiras aos países que, direta ou indiretamente, criam barreiras aos produtos americanos, revogar as regulamentações que atrapalham os negócios, revogar o problemático e custoso Obamacare, reduzir despesas de pessoal e combater o terrorismo islâmico, dentro de uma pauta extensa e importante.

Quase metade de seu gabinete ainda não foi aprovado pelo Senado, inclusive o nome do Secretário do Tesouro, equivalente, no Brasil, a ministro da fazenda, o que não o tem impedido de trabalhar num ritmo nunca visto na Casa Branca. A oposição está aturdida com o poder de iniciativa e de execução demonstrados. O homem saca e atira rápido.

Vou aguardar a política econômico-fiscal que será adotada para edificar melhor a visão que tenho do seu governo, atualmente limitada ao campo das promessas feitas na campanha. Gostei do seu plano de governo, que estudei com a prudência de que gosto.

À proporção que as medidas mais importantes sejam tomadas, farei um relato.

Por último, após consultar toda a parafernália de previsão do tempo, emito um boletim sujeito a sessenta por cento de acerto: Tempo nublado, nuvens pesadas no horizonte, pancadas de chuva e ventos fortes no início, mas, no decorrer do período, o sol aparecerá e teremos tempo bom.
Texto: Pedro Frederico Caldas, 27-1-2017

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