terça-feira, 21 de maio de 2019

[Daqui e Dali] O gestor prudente

Humberto Pinho da Silva

Conheci – já passaram algumas décadas, – gestor considerado exemplar. Sempre, que trabalhador era levado à sua presença, para ser repreendido, inteirava-se, primeiro, da influência que aquele tinha entre os “seus “.


Após averiguações, obtidas facilmente, consultando “espias”, traçava a sentença:

Se era trabalhador, educado, cumpridor, e nada dado a politiquices, mas, infelizmente, por descuido, errara ou prevaricara, lançava, sobre ele, severa reprimenda, e castigava-o, com pena leve ou pesada, consoante a gravidade.

Dizia ele, enfaticamente: “Era para dar o exemplo…”

Mas, se descobria que era influente sindicalista ou militante ativo de partido buliçoso, amaciava a voz, e aconselhava-o com prudência, concluindo: que tivesse cuidado, porque para a próxima, não sairia dali só com palavras amigas, mas com pesada pena.

Era prudente, como D. Afonso de Aragão, que sempre foi generoso com seus detratores. Certa ocasião – conta Manuel Bernardes – os amigos, estanhando a razão do insólito comportamento, inqueriram:
“Por que dá benesses a quem não lhe é fiel?”
Ao que este respondeu:
Aos cães, dá-se-lhes sopa, para que não ladrem nem mordam.”

Assim agia o nosso astuto gestor, premiando os operários, não pelo saber ou dedicação, mas pela influência política e amizades que contavam.

Havia na fábrica trabalhador, que por mais que se esforçasse, nunca era premiado por mérito. Bem via, com tristeza, que sempre havia recompensa para os que não sendo exemplares, eram membros de núcleos políticos, da empresa; mas, para ele, apenas havia… promessas e mais promessas…

Cansado de esperar, assentou inscrever-se na secção de certo partido, e enchendo-se de coragem, deitou “faladura”.

Todos ficaram estupefatos, e aplaudiram o neófito, que prometia lutar, defendendo os “seus”.

Soube atônito, o gestor, do sucesso. Mandou-o chamar, e com palavras mansas, declarou: que chegara a sua vez, por ter sido leal e bom trabalhador…

Como o rei de Aragão, deu-lhe “sopa”, para que não viesse, depois, a ladrar… e morder…; até o promoveu por mérito!
Título e Texto: Humberto Pinho da Silva

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