Segundo a Secretaria municipal de
Conservação e Meio Ambiente, é o sétimo episódio de furto a monumentos
registrado na cidade este ano
Paulo Assad e Johanns Eller
A estátua Os Escoteiros,
localizada na Praça do Russel, na Glória, Zona Sul do
Rio, foi furtada. Segundo membros do Centro Cultural do Movimento Escoteiro (CCME),
o roubo ocorreu provavelmente entre a madrugada dos dias 21 e 22. No local, só
sobraram os pés de bronze da figura do jovem escoteiro.
— Descobrimos o sumiço
somente ontem (quarta-feira), através de um chefe dos escoteiros que notou o
desaparecimento. É um absurdo uma estátua dessas, com um valor histórico, ser
levada e ninguém ficar sabendo — reclama André Torricelli, diretor do CCME.
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Estátua "O
Escoteiro", na Praça do Russel, na Glória, foi roubada por criminosos
Foto: Fabiano Rocha/Agência O Globo
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Segundo Torricelli, a estátua,
que reproduz um menino escoteiro segurando uma bandeira e um chapéu, havia sido
um presente de agradecimento de escoteiros chilenos após uma demonstração de
solidariedade das suas contrapartes brasileiras. Em 1922, um terremoto de
magnitude 8,5 na escala Ritcher atingiu a ex-colônia espanhola nas localidades
de Vallenar e Huasco, na região do Atacama.
Ao sismo, seguiu-se um tsunami,
o que aumentou a devastação: cerca de 1.500 morreram e outras 2.000 ficaram
feridas no episódio. Os escoteiros brasileiros arrecadaram, então,
uma grande quantidade de dinheiro doada para as crianças chilenas vítimas do
tremor. Um ano depois, os escoteiros do Chile retribuíram com o dinheiro para a
construção de uma estátua.
— Antigamente, a Praça do
Russell era conhecida popularmente como Praça dos Escoteiros, pois aqui eram
realizados nossos jogos anuais. Depois, em meados dos anos 1960, com a expansão
do Aterro do Flamengo, os eventos passaram a serem realizados lá —
explica Torricelli.
Por uma coincidência inconveniente
para o CCME, a edição 2019 do Grande Jogo Regional dos escoteiros ocorrerá no
próximo domingo, no próprio Aterro. A estátua ficava entre as árvores de um
canteiro próximo a um ponto de ônibus, próximo ao Memorial Getúlio Vargas.
Moradores do entorno da Praça do Russel afirmam que, por conta da falta de
segurança, o local fica vazio, especialmente durante a noite. Eles denunciam o
abandono do local e temem que o patrimônio da Glória volte a ser flagelado.
— A praça precisa de mais
segurança. Há muito patrimônio por aqui e tudo pode acabar roubado, como a
estátua dos escoteiros — afirma José Geraldo, que mora em frente à praça,
oficialmente chamada Praça Luís de Camões.
Para Eduardo Teixeira, que
também vive nos arredores do local, o serviço Aterro Presente não é suficiente
para coibir atos criminosos, uma vez que os agentes encerram o expediente às 22
horas:
— Falta uma patrulha mais
frequente da Guarda Municipal, como havia há alguns anos. Está tudo abandonado.
Apesar dos moradores de rua, não acho que tenha sido obra deles. A estátua era
muito pesada.
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Os pés da estátua, que teria
sido serrada, ficaram presos à base, que é aparafusada. Foto: Fabiano Rocha/Agência
O Globo
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Waldyra Pereira, que mora na
Rua do Russel, se diz triste com o roubo de um patrimônio tão emblemático.
— Toda criança gostava da
estátua. Eu levava meus filhos para brincarem com ela e tirar foto com o chapéu
— recorda.
Agentes do Aterro Presente
avaliaram que, pelo porte da estátua, ela muito provavelmente foi serrada. Os
pés, presos à base, foram deixados para trás. O furto possivelmente contou com
a ação de mais de um criminoso. Moradores e comerciantes da região ouvidos pelo
GLOBO afirmam que não viram movimentações suspeitas nem ouviram barulhos. A
escultura ficava a mais de cem metros dos prédios da Rua do Russel, escondida
entre muitas arvores.
Em nota, a Secretaria de
Conservação (Seconserva) confirmou o furto da estátua. Ainda nesta
quinta-feira, a Gerência de Chafarizes e Monumentos, que cuida dos 1.374
monumentos e chafarizes públicos da cidade, deve registrar um boletim de
ocorrência para que a polícia investigue o caso:
"A reposição de peças em
bronze, por furto ou vandalismo, não faz parte do contrato anual de
conservação. Cada vez que um monumento é danificado ou vandalizado, é preciso
fazer a elaboração de um projeto com previsão orçamentária independente, sendo
necessária a abertura de licitação para o restauro e/ou reposição. Por isso,
não há valor estimado do prejuízo com vandalismo de monumentos".
Título e Texto: Paulo Assad e
Johanns Eller, O Globo, 23-5-2019
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