sexta-feira, 24 de maio de 2019

Estátua 'Os Escoteiros' é roubada na Praça do Russel, na Glória

Segundo a Secretaria municipal de Conservação e Meio Ambiente, é o sétimo episódio de furto a monumentos registrado na cidade este ano

Paulo Assad e Johanns Eller

A estátua Os Escoteiros, localizada na Praça do Russel, na Glória, Zona Sul do Rio, foi furtada. Segundo membros do Centro Cultural do Movimento Escoteiro (CCME), o roubo ocorreu provavelmente entre a madrugada dos dias 21 e 22. No local, só sobraram os pés de bronze da figura do jovem escoteiro.

—  Descobrimos o sumiço somente ontem (quarta-feira), através de um chefe dos escoteiros que notou o desaparecimento. É um absurdo uma estátua dessas, com um valor histórico, ser levada e ninguém ficar sabendo — reclama André Torricelli, diretor do CCME.

Estátua "O Escoteiro", na Praça do Russel, na Glória, foi roubada por criminosos Foto: Fabiano Rocha/Agência O Globo
Segundo Torricelli, a estátua, que reproduz um menino escoteiro segurando uma bandeira e um chapéu, havia sido um presente de agradecimento de escoteiros chilenos após uma demonstração de solidariedade das suas contrapartes brasileiras. Em 1922, um terremoto de magnitude 8,5 na escala Ritcher atingiu a ex-colônia espanhola nas localidades de Vallenar e Huasco, na região do Atacama.

Ao sismo, seguiu-se um tsunami, o que aumentou a devastação: cerca de 1.500 morreram e outras 2.000 ficaram feridas no episódio. Os escoteiros brasileiros arrecadaram, então, uma grande quantidade de dinheiro doada para as crianças chilenas vítimas do tremor. Um ano depois, os escoteiros do Chile retribuíram com o dinheiro para a construção de uma estátua.

— Antigamente, a Praça do Russell era conhecida popularmente como Praça dos Escoteiros, pois aqui eram realizados nossos jogos anuais. Depois, em meados dos anos 1960, com a expansão do Aterro do Flamengo, os eventos passaram a serem realizados lá — explica Torricelli.

Estátua foi presente de escoteiros chilenos e estava no local desde 1923. Foto: Divulgação CCME

Por uma coincidência inconveniente para o CCME, a edição 2019 do Grande Jogo Regional dos escoteiros ocorrerá no próximo domingo, no próprio Aterro. A estátua ficava entre as árvores de um canteiro próximo a um ponto de ônibus, próximo ao Memorial Getúlio Vargas. Moradores do entorno da Praça do Russel afirmam que, por conta da falta de segurança, o local fica vazio, especialmente durante a noite. Eles denunciam o abandono do local e temem que o patrimônio da Glória volte a ser flagelado.

— A praça precisa de mais segurança. Há muito patrimônio por aqui e tudo pode acabar roubado, como a estátua dos escoteiros — afirma José Geraldo, que mora em frente à praça, oficialmente chamada Praça Luís de Camões.

Para Eduardo Teixeira, que também vive nos arredores do local, o serviço Aterro Presente não é suficiente para coibir atos criminosos, uma vez que os agentes encerram o expediente às 22 horas:

— Falta uma patrulha mais frequente da Guarda Municipal, como havia há alguns anos. Está tudo abandonado. Apesar dos moradores de rua, não acho que tenha sido obra deles. A estátua era muito pesada.

Os pés da estátua, que teria sido serrada, ficaram presos à base, que é aparafusada. Foto: Fabiano Rocha/Agência O Globo

Waldyra Pereira, que mora na Rua do Russel, se diz triste com o roubo de um patrimônio tão emblemático.

— Toda criança gostava da estátua. Eu levava meus filhos para brincarem com ela e tirar foto com o chapéu — recorda.

Agentes do Aterro Presente avaliaram que, pelo porte da estátua, ela muito provavelmente foi serrada. Os pés, presos à base, foram deixados para trás. O furto possivelmente contou com a ação de mais de um criminoso. Moradores e comerciantes da região ouvidos pelo GLOBO afirmam que não viram movimentações suspeitas nem ouviram barulhos. A escultura ficava a mais de cem metros dos prédios da Rua do Russel, escondida entre muitas arvores.

Em nota, a Secretaria de Conservação (Seconserva) confirmou o furto da estátua. Ainda nesta quinta-feira, a Gerência de Chafarizes e Monumentos, que cuida dos 1.374 monumentos e chafarizes públicos da cidade, deve registrar um boletim de ocorrência para que a polícia investigue o caso:

"A reposição de peças em bronze, por furto ou vandalismo, não faz parte do contrato anual de conservação. Cada vez que um monumento é danificado ou vandalizado, é preciso fazer a elaboração de um projeto com previsão orçamentária independente, sendo necessária a abertura de licitação para o restauro e/ou reposição. Por isso, não há valor estimado do prejuízo com vandalismo de monumentos".
Título e Texto: Paulo Assad e Johanns Eller, O Globo, 23-5-2019

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