terça-feira, 24 de setembro de 2019

[Aparecido rasga o verbo] Caixinha de Pandora

Aparecido Raimundo de Souza

CHEGAMOS DE VIAGEM e depois de umas duas horas mais ou menos, passamos a nos deparar com um barulho infernal. Parecia que alguém escancarara às portas dos quintos e tirado satanás das suas principais atribuições açoitando o senhor das profundas com seu próprio estridente cutucando, a duras estocadas, seu magro rabicó. Num segundo momento pensamos que os meninos das “togas cagadas...” Perdão, das “togas lavadas” do STJ, em Brazzzilia tivessem recebido uma graninha extra por debaixo dos panos, e soltado o inocente Lula aquele senhor dos cartéis, mandachuva do Partido dos Trambiqueiros.

Porém, assim que corremos e ligamos a televisão, descobrimos que se tratava de uma greve geral de ônibus. Nosso apartamento fica no centro da cidade, num prédio bem no coração da efervescência existente em todas as metrópoles que se prezam. As coisas, por essas bandas e nessas ocasiões, viram uma verdadeira praça de guerra. De repente voltamos no tempo e nos lembrarmos da revolução de 31 de março, com a diferença marcante que, naquele evento fabuloso, nenhum tiro foi disparado a não ser nas fuças dos trouxas. Embora nosso loft esteja no décimo oitavo andar de uma torre ligeiramente longe do nível da calçada, o barulho parecia que subia junto, não com os elevadores, atrelado, de lambuja, com o calor da arruaça e da baderna e batia, em cheio, no peitoril da veneziana do quarto como o gostoso do sol de quase meio dia beirando os píncaros dos quarenta graus.

Aventuramos a espiar lá para baixo, abrindo um pouco uma banda da janela enorme. O que vimos? De fato, ao vivo e em cores, as profundezas do Capiroto na melhor forma da sua evolução animalesca. Recordamos, de pronto, dos filhos da puta no plenário da “Câma’cama’ra dos depupuputatatados”, na Capital do país, comandado pelo seu representante maior, o picareta Rodrigo Maia, do DEM-RJ (Demônios Em Marcha-RJ) sorridente, a bunda e a cara gordas, em face da aprovação, na Casa da Mãe Joana, pelos seus asseclas, da nova lei do “Fundo Partidário”, ou “Lei das Imoralidades”, um calhamaço cheio de brechas e rombos (valendo já para as eleições de 2020), onde, em linhas gerais, o povaréu sofrido e esmagado, uma vez mais, se verá obrigado a sustentar esses larápios e bandoleiros ajudando a manter o “caixa dois”.

Essa nova praga votada na última quarta-feira, dia 18 de setembro, teve 252 votos favoráveis e 150 contrários. No geral, a recém-nascida imundície prevê, entre algumas aberrações, a compra de helicópteros e carros zero bala para os vagabundos que dizem nos representar trabalharem com mais afinco e perseverança.


Voltando à greve, uns cem, talvez mais, ônibus parados ao longo dos dois sentidos da avenida, todos sem passageiros. Misturados a eles, uma infinidade de carros particulares buzinando. No furdunço, motoqueiros, bicicleteiros e patineteiros fazendo ziguezagues para fugirem do olho do pandemônio.

Guardas de trânsito, com suas viaturas, fardados da polícia militar e da civil, com armas e cassetetes, munidos de spray de gás lacrimogênio, bombinhas de “defeito imoral”, e outros tantos de pimenta, e, claro, uma turba de desocupados com suas jaquetas de couro encimadas por uma tarja vermelha à altura do peito zanzando, para lá e para cá, desesperada, aturdida, tentando controlar o caos reinante. Lembram, vistos daqui de cima, aqueles moleques sapecas dos nossos bons tempos de criança, quando empinando incríveis pipas com as linhas imagináveis das balbúrdias estonteantes algazarreavam em ajuntamentos na praça da matriz.

Os gestos desses idiotas fardados com as mãos parecem incansáveis, como os sons de seus apitos estridentes. Essas desgraças provocam dentro de nosso cérebro, uma espécie de látego martirizante açoitando duramente os ouvidos, os tímpanos, a alma, o coração, o ego, a puta que pariu. Esse, senhoras e senhores, o quadro lastimoso, ou melhor, foi o quadro lastimoso com o qual nos deparamos logo às nove horas desta segunda, 23 de setembro, poucas horas após termos chegados de viagem. Como se não fosse pouco, avistamos também alguns homens à frente desses coletivos tentando armar uma espécie de barreira para não permitirem que os motoristas saíssem dos lugares onde estavam. “Nem para as necessidades fisiológicas”; gritava um babaca aloprado num carro com alto falante a todo volume com as insígnias do Sindicato dos Motoristas. 

Uma cena patética, hilariante. Ficamos a nos perguntar, indefinidamente: como pode um bando de seres humanos em juízo perfeito querer brecar com as mãos desnudas, os ônibus que tentam sair daquele pandemônio, segurando os pelos colarinhos, desculpem pela gafe, pelos para-choques dianteiros em nome de uma greve que eles nem sabem por que ou quem começou?! A que ponto, caríssimos amados chega à insensatez, à burrice e a falta de senso desses infelizes, de pegarem marretas e com pregos saírem furando pneus, jogando pedras nos para-brisas de carros particulares, enchendo as ruas de cacos de vidros e ameaçando motoristas, cobradores, os Zé Povinho, a arraia-miúda, os trabalhadores, as empregadas, em geral todos presos sem querer nessa orgia de última hora, armados até os dentes com pedaços de paus e estiletes? 

Meu Deus, em nome de quem? E por quê?!  Pelo diretor do setor de transportes? Pelo presidente de merda, de bosta, do sindicato dos motoristas? Queremos deixar claro, não somos contra as greves ou ajuntamentos de quem não têm coisa melhor a fazer. Igualmente não nos opomos a nada que vise reivindicar melhoras. Somos totalmente contrários às ações demagógicas, aos obstáculadores do estado normal do direito.  Mesmo chute nos colhões, nos insurgimos com os anarquistas com os desordeiros mascarados que são “machos pra burro”, ali, no meio de uma massa de pobretões amedrontada.  Entretanto, se escondem nos labirintos de panos e capacetes encobrindo seus verdadeiros semblantes de piratas de meia tigela.

Em face disso, contra-atacamos de maneira fulminante os que praticam a poluição visual e sonora com cenas bárbaras e chocantes. Somos pedra no caminho daqueles que combatem os inocentes, que massacram em nome de um movimento sem pé nem cabeça. Pelejamos duramente com a mesma garra em face dessa corja que alimenta uma anarquia de latrocidas, de ladrões e malfeitores que ninguém vê as suas bocas e dentaduras, nem conhece seus mentores. Estorvamos com veemência àqueles que esbravejam por um poderio medíocre, que se motinam por um punhado de insanidades, por demências doentias, por razões fracassadas e realidades nascituras. 

Que se façam greves, que se levantem paredistas, manifestações, sublevações, o diabo. Todavia, senhoras e senhores, que esses crápulas respeitem o povo, sobretudo, a raia miúda, os boçais, os caraminguados que trabalham que dão um duro desgraçado, que precisam ir e vir para seus respectivos serviços e nada têm em comum com esses despatriados, com esses sem vergonhas e sem caráter, metidos em terninhos e camisinhas de colarinhos brancos. Enfim, batemos de frente com os empresários veados e líderes sindicalistas (veados também), que escudados pelo cargo que ocupam, não dão a mínima ou não estão nem aí, e pior, não precisam fazer uso desse meio comum de transporte, o coletivo, grosso modo, o buzão.

Percebam que terminada as barafundas promovidas pelos velhacos do poder local, os coletivos seguirão normais pelas artérias da cidade. Transitarão cada vez mais superlotados, levando para cima e para baixo os famosos “rebanhões” de bois e vacas, cavalos e mulas. Em outras palavras, os cidadãos, que colocam e mantém esse brazzilzinho de bosta nos trilhos. Os pais de família, os pobres e comprimidos que viajam apertados “assediados” como sardinhas em latas, sentindo o tempo todo, o cheiro acre e esquisito dos sovacos malcheirosos em decorrência dos desodorantes vencidos.

Que esses párias tenham o discernimento de não empurrarem nos costados dos infelizes usuários, como os espertalhões do Epicentro, as suas incompetências, as suas sandices, as suas faltas de decoro e compostura. Se é que esses vermes da Cama desculpem, da Câmara saibam o que essas palavras realmente significam.  Na realidade, minha gente, na realidade, nua e crua, existe uma política forte e nojenta por detrás de tudo. Uma política que mais parece uma caixinha de pandora, cujos malefícios só tendem a vingar, quando abertas, e consequentemente, a estourar nas mãos e nos bolsos de todos nós, eternos contribuintes de um sistema antiquado e literalmente falido, mil perdões, FODIDO.
Título e Texto: Aparecido Raimundo de Souza, de Vitória no Espírito Santo, 23-9-2019

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