Aparecido Raimundo de Souza
NA SEGUNDA FEIRA, Luciana, uma das vendedoras de sapatos, logo que entrou no banheiro da
empresa para deixar a bolsa, a sacola com a marmita e colocar o uniforme para
mais um dia de labuta, encontrou a Vera Lucia, uma loiraça de fechar o
comércio. Vera Lucia estava pronta, radiante como sempre. Porém, vendo à amiga
e colega meio jururu e desanimada, indagou curiosa:
Vera Lucia
- O que foi amiga? Parece abatida, pra baixo?
Luciana
- Dá pra perceber?
Vera Lúcia
- Está visível em seu rosto...
Luciana se olhou no espelho. De fato. Parecia cansada, o semblante
lançado por terra, o rosto pálido e sem cor.
Luciana
- Caramba! Empresta pra mim um de seus batons?
Vera Lucia
- Claro. Fique a vontade. Diz ai, amiga, o que houve?
Luciana
- Nada!
Vera Lúcia
- Vamos, abra o jogo. Você nunca chegou assim aqui no trabalho. Credo!
Parece que não dormiu direito.
Luciana
- Sempre há uma primeira vez em que a gente não consegue conciliar o
sono. Esse final de semana não foi dos melhores.
Vera Lúcia
- Problemas com o Jurandir?
Luciana
- Pior que não. O Jurandir era gente fina!
Vera Lúcia
- Era?
Luciana
- Desculpe. Jurandir está fora. Quase dois meses. Conheci o Galdes e
começamos a ter um casinho. Como não gosto de ficar sozinha... Pra enfiar o
gato no meu quarto...
Vera Lúcia
- Amiga você dá um chute no traseiro do Jurandir e não me fala nada?
Luciana
- Pra você ver. Correria. Essa historia de bater meta, está me deixando
fora de foco...
Vera Lúcia
- Eu também bato meta, está lembrada? Estamos no mesmo barco. Pra seu
governo, ainda falta um bocado para eu alcançar o ranking desse mês. Mas
esquece a nossa bateção de metas. Se abra. Por que deixou o Jurandir?
Luciana
- Muito chato. Bebia demais e fumava feito um condenado. Empesteou minha
casa, do banheiro ao quarto, sem falar que eu fumava junto.
Vera Lúcia
- Nossa amiga. Que pena! Sinto muito. Sinto mesmo, de verdade. Mas
acredite, estou feliz. Espero que o Gaulês não tenha na manga da camisa um
desses pequenos vícios. Ei, ainda temos tempo. Me fale dele. Como é o Gaulês?
Luciana
- Galdes, Vera Lúcia, Galdes.
Vera Lúcia
- Não importa. Quero saber tudo da nova pessoinha.
Luciana
- Sexta-feira, completamos um mês. Até agora Galdes tem se mostrado um
cavalheiro. Gentil, educado, atencioso... Solta um amontoado de palavras
bonitas no meu escutador de novelas...
Vera Lúcia
- Do tipo?
Luciana
- Lu (ele me chama de Lu). Lú,
você e o rio que atravessa o deserto do meu coração. Sem você sou terra
infértil, livro em branco, copo sem vinho, janela sem vista para a rua. Essas
coisas bobas que nós mulheres, gostamos de ouvir para alegrar o final de noite.
Vera Lúcia
- E na cama?
Luciana
- Sensacional.
Vera Lúcia
Uau!
Luciana
- Só tem um detalhe que está me intrigando...
Vera Lúcia
- Um detalhe? Que detalhe?
Luciana
- Nessa sexta-feira, como lhe falei, ao completarmos um mês, ele chegou
lá em casa, por volta das nove horas, com um lindo buquê de flores. Das que
mais gosto. Rosas vermelhas. Rosas vermelhas, amiga, nossa, na hora pirei o
cabeção.
Vera Lucia
- Que romântico! Ah, se o Ferreira fosse assim... Nunca me trouxe uma
margarida... Bom de cama, bomba maravilhosamente, entretanto, no quesito
romantismo, o que, aliás, ajudaria a apimentar a relação, o besta passa ao
largo... Desculpe. Estávamos no buquê. E então? Deve ter sido uma noite
fenomenal... Memorável...
Luciana
- Quem dera!
Vera Lúcia
- Não foi? Qual o motivo? Você não gosta de flores? Toda mulher gosta de
flores... Ainda mais rosas vermelhas. Eu, por exemplo, amo receber flores. O meu Ferreira, em relação a chegar junto, eu
não tenho o que reclamar. Todavia, em
romantismo... Tá legal. Me perdoa. Termine. Chegou com o buquê de flores...
Rosas vermelhas. E depois?
Luciana
- Depois começou o meu calvário.
Vera Lúcia
- Que isso, amiga? Por causa de quê?
Luciana
- Culpa do buquê. Acredite minha amiga, eu tive que passar o final de
semana inteirinho com as pernas abertas. Imagine amiga, a minha situação. Com
as pernas abertas... Está me doendo até agora... Chegou a dar câimbras... Até
para me locomover está sendo penoso...
Vera Lúcia nesse momento de tão abismada e chocada, de repente ficou mais
loira do que aparentava quando saia literalmente do seu estado normal:
Vera Lúcia
- Sério? Com as pernas abertas?
Luciana
- Arreganhadas... Diametralmente arreganhadas...
Sem saber, de fato, o que responder, por fim encarou a amiga e enquanto
se dirigiam para o local onde ficava o relógio de ponto, a beldade loira, como
não poderia deixar de ser, abrilhantou a sua imbecilidade, finalizando o bate
papo soltando essa pérola:
Vera Lúcia
- Amiga, Luciana, valha-me Deus! Que coisa horrível. Será possível que
não tinha nenhum vaso na sua casa?!
Título e Texto: Aparecido
Raimundo de Souza, de São
Paulo, Capital. 10-9-2019
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