(Esta pandemia, e consequente isolamento social, nos estimula a leituras
e reflexões)...
O termo romantismo deriva da palavra romance, cunhada na literatura
medieval pelas novelas ou romances de cavalaria cheios de aventuras e amores.
Na filosofia, é um movimento caracterizado pelo sentimento de cunho
idealista ou espiritual que se opôs ao rígido conceito da razão nos seus
limites de alcance do Infinito que Kant estabeleceu em sua obra criticista.
(Crítica da Razão Pura).
O sentimento, para os românticos, vai além dos limites da razão; tem um
valor de alcance ilimitado; é capaz de alcançar as coisas superiores e divinas
que a razão pura não consegue alcançar. Este movimento romântico começou na
Alemanha no final do século XVIII e teve seu auge nas primeiras décadas do
século XIX.
Portanto, o romantismo dá outro viés à razão e passa a entendê-la como
força infinita e onipotente que habita e domina o mundo, firmando-se, por assim
dizer, pela fé e intuição mística.
A razão passa, então, a ser a própria substância do mundo. Nesse sentido,
o romantismo desembocou no idealismo alemão cujos principais filósofos foram:
Fichte, Schelling e Hegel.
Todos eles têm a razão como Princípio Infinito que deu a origem do mundo.
Pode ser chamado de Eu Infinito (Fichte), de Absoluto (Schelling) ou Ideia
(Hegel). O princípio Infinito era entendido por eles como consciência,
atividade, liberdade, criação incessante.
No entanto, há duas vias de se interpretar o romantismo filosófico: o
Infinito como sentimento e o Infinito como Razão Absoluta.
Como sentimento, o romantismo - que teve suas raízes na literatura
aventuresca e amorosa -, estendeu-se à Filosofia em que o Infinito revela-se em
atividades humanas ligadas à religião, à poesia e à arte.
Na religião, o sentimento é uma aspiração ao infinito, “tornar-se uma só
coisa com o infinito; estar, no entanto, no finito. Ser eterno num momento do
tempo, tal é a imortalidade da religião” (Schleiermacher)...
Na poesia há a transfiguração do homem no infinito e no eterno; portanto,
a sua função também é essencialmente religiosa: “Toda relação do homem com o
Infinito é religião…” (Schlegel). Ainda, na poesia a natureza é
espiritualizada, enaltecendo-se a força criadora que perpassa o mundo e que o
homem pode e deve coincidir com ela...
A arte, como sentimento, é a expressão do Infinito e vê o mundo como uma
obra de arte do Absoluto. Portanto, a experiência estética é a melhor via de
acesso à compreensão do Absoluto. Mas, “só pode ser artista aquele que tem uma
religião, uma intuição original do Infinito” (Schlegel)...
E pela segunda interpretação do romantismo, a Filosofia é tida como a
mais elevada revelação do Infinito como Razão Absoluta.
Neste sentido, os três representantes do idealismo alemão, Fichte,
Schelling e Hegel, cada qual a seu modo, elaboraram seus sistemas filosóficos
tendo como pano de fundo a infinitude da razão, sem os limites atribuídos a
ela, apregoados por Kant...
Neste sentido, se quisermos nos valer dessa filosofia romântica idealista
para nossas vidas em particular seria apropriado deixar-nos levar pela intuição
intelectual, intuição mística, e estabelecer-nos no Ser, e perceberemos que nos
identificamos com o Absoluto, somos engolidos pelo Infinito abissal.
Título e Texto: Valdemar
Habitzreuter, 30-7-2020
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