domingo, 17 de maio de 2020

[Para que servem as borboletas?] Na quietude da quarentena… o pensar se impõe...

Valdemar Habitzreuter

Nestes dias sombrios com essa crise sanitária em que a ordem é: “fique em casa” por causa de um vírus insidioso e perigoso, lembrei-me do filósofo Pascal, aquele que prefere apostar que Deus existe, ao invés de apostar em sua não existência, pois se Deus existe terá um ganho infinito e se não existir terá apenas uma perda finita...

E Pascal era um amante do pensamento; daí sua obra principal “Pensamentos” onde filosofa sobre o homem e sua miséria, a fragilidade desse ser-homem, a ignorância que o domina em não poder debelar suas misérias.

No caso da situação sanitária mundial do momento, podemos ficar atônitos de não haver ainda uma solução para exterminar esse minúsculo vírus que nos ameaça de morte...

Assim, nessa quarentena prisional somos instados também a pensar sobre o que nos rodeia: morte e miséria. Mas, pode nos surgir a Ideia: não seria melhor deixar de lado o pensar e nos dedicar a uma coisa mais aprazível?

Que tal sair e divertir-nos ao invés de ficar pensando na miséria humana? O divertimento, ao menos, nos daria prazer, pois o pensar em misérias dói e nos leva a loucura; queremos ser felizes…

Mas, ledo engano diz-nos Pascal: furtar-se de pensar e entregar-se ao divertimento é uma atitude pouco louvável, pois o divertimento é uma atitude de fuga do homem perante a miséria que lhe é próprio; e procura, então, ocupar-se por todas as formas e distrair-se e deixar de pensar sobre sua miséria... quer ocupar-se, divertir-se, pois lhe é insuportável e penoso ficar em pleno repouso sem paixões, sem nada fazer, sem divertimento; sente seu nada, o seu abandono, a sua insuficiência, a sua dependência, a sua impotência, o seu vazio. Por isso o tédio, a tristeza, o desgosto, o desespero…

É, meus amigos, este coronavírus nos abriu os olhos de nossa condição de fragilidade e miséria e nos confinou ao isolamento social, sem as nossas distrações e lazeres gostosos.

Mas, para Pascal, a miséria do homem fá-lo despertar para sua nua e crua realidade de ente miserável que é, perambulando neste mundo inóspito.

A única alternativa do homem é entregar-se ao pensamento no que ele é, donde vem, para onde vai. O divertimento não nos traz a felicidade; não é a alternativa própria e digna do homem.

O homem não deve fechar os olhos e deixar de pensar sobre sua miséria, porque desse modo renuncia ao seu único privilégio e à sua dignidade: a de pensar.

O homem através do pensar chega ao reconhecimento explícito de sua condição de indigente e miserável; tal reconhecimento fá-lo conduzir diretamente a Deus, diz Pascal que era cientista, um racionalista e adepto da religião cristã...

Temos pois o isolamento social como ocasião de dar asas ao pensamento e colaborar para uma saída dessa grave situação pandêmica, mesmo que seja apenas seguir as orientações dos cientistas que se debatem para debelar o intruso coronavírus que veio modificar o usual e normal comportamento humano em sociedade, obrigando o distanciamento social para que as mortes sejam minimizadas…

A aposta de Pascal de que há uma força superior que pode nos resgatar da escuridão poderá ser também nossa aposta… mesmo que essa força seja oriunda do trabalho uníssono dos cientistas.
Título e Texto: Valdemar Habitzreuter, 17-5-2020

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