Nestes dias sombrios com essa crise sanitária em que a ordem é: “fique em
casa” por causa de um vírus insidioso e perigoso, lembrei-me do filósofo
Pascal, aquele que prefere apostar que Deus existe, ao invés de apostar em sua
não existência, pois se Deus existe terá um ganho infinito e se não existir
terá apenas uma perda finita...
E Pascal era um amante do pensamento; daí sua obra principal
“Pensamentos” onde filosofa sobre o homem e sua miséria, a fragilidade desse
ser-homem, a ignorância que o domina em não poder debelar suas misérias.
No caso da situação sanitária mundial do momento, podemos ficar atônitos
de não haver ainda uma solução para exterminar esse minúsculo vírus que nos
ameaça de morte...
Assim, nessa quarentena prisional somos instados também a pensar sobre o
que nos rodeia: morte e miséria. Mas, pode nos surgir a Ideia: não seria melhor
deixar de lado o pensar e nos dedicar a uma coisa mais aprazível?
Que tal sair e divertir-nos ao invés de ficar pensando na miséria humana?
O divertimento, ao menos, nos daria prazer, pois o pensar em misérias dói e nos
leva a loucura; queremos ser felizes…
Mas, ledo engano diz-nos Pascal: furtar-se de pensar e entregar-se ao
divertimento é uma atitude pouco louvável, pois o divertimento é uma atitude de
fuga do homem perante a miséria que lhe é próprio; e procura, então, ocupar-se
por todas as formas e distrair-se e deixar de pensar sobre sua miséria... quer
ocupar-se, divertir-se, pois lhe é insuportável e penoso ficar em pleno repouso
sem paixões, sem nada fazer, sem divertimento; sente seu nada, o seu abandono,
a sua insuficiência, a sua dependência, a sua impotência, o seu vazio. Por isso
o tédio, a tristeza, o desgosto, o desespero…
É, meus amigos, este coronavírus nos abriu os olhos de nossa condição de
fragilidade e miséria e nos confinou ao isolamento social, sem as nossas
distrações e lazeres gostosos.
Mas, para Pascal, a miséria do homem fá-lo despertar para sua nua e crua
realidade de ente miserável que é, perambulando neste mundo inóspito.
A única alternativa do homem é entregar-se ao pensamento no que ele é,
donde vem, para onde vai. O divertimento não nos traz a felicidade; não é a
alternativa própria e digna do homem.
O homem não deve fechar os olhos e deixar de pensar sobre sua miséria,
porque desse modo renuncia ao seu único privilégio e à sua dignidade: a de
pensar.
O homem através do pensar chega ao reconhecimento explícito de sua
condição de indigente e miserável; tal reconhecimento fá-lo conduzir
diretamente a Deus, diz Pascal que era cientista, um racionalista e adepto da
religião cristã...
Temos pois o isolamento social como ocasião de dar asas ao pensamento e
colaborar para uma saída dessa grave situação pandêmica, mesmo que seja apenas
seguir as orientações dos cientistas que se debatem para debelar o intruso
coronavírus que veio modificar o usual e normal comportamento humano em
sociedade, obrigando o distanciamento social para que as mortes sejam minimizadas…
A aposta de Pascal de que há uma força superior que pode nos resgatar da escuridão
poderá ser também nossa aposta… mesmo que essa força seja oriunda do trabalho
uníssono dos cientistas.
Título e Texto: Valdemar Habitzreuter, 17-5-2020
Colunas anteriores:
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-