Sérgio Pinto Monteiro
A data de 30 de agosto de 1977
certamente não será lembrada na grande mídia nacional, hoje mais dedicada às
“comemorações” do número crescente de vítimas da trágica pandemia que ora nos
assola. Naquele dia, a nação viu partir mais um dos heróis brasileiros, cujo
supremo sacrifício para salvar uma vida permanecerá nas brumas do esquecimento
da imprensa e do meio acadêmico, como o de tantos outros mártires da pátria.
Naquele 27 de agosto, há 43
anos, um militar brasileiro, o jovem Sargento Sílvio Delmar Hollenbach [foto], de
apenas 33 anos, juntamente com a esposa Eni Teresinha e os quatro filhos do
casal, na época com idades entre 1 e 7 anos, deixaram a residência em Brasília
para um programa típico das famílias dos brasileiros mais simples. O Jardim
Zoológico, que certamente iria encantar as crianças. A crueldade do destino
submeteu-os à visão de uma cena dantesca, que três dias após uma indescritível
agonia no Hospital das Forças Armadas, levaria o militar à morte.
Deslocando-se
de carro no interior do Zoológico, o Sargento Hollenbach viu quando o menino
Adilson Florêncio da Costa, de 13 anos, caiu no interior do tanque das
ariranhas.
Sua família, horrorizada, não pôde impedir que o bravo Sargento abandonasse o veículo e se atirasse no poço para resgatar a infeliz criança. Foram minutos de intenso pavor, onde o heroico militar teve que enfrentar as ferozes ariranhas, recebendo mais de uma centena de mordidas e arranhões por todo o corpo.
Ao conseguir resgatar o menino e salvar-lhe a vida, o Sargento Hollenbach cumpriu a sua mais nobre missão na Terra. Os esforços das equipes médicas do Hospital das Forças Armadas não conseguiram preservar-lhe a vida. Morreu como um bravo. Lamentavelmente, o seu sacrifício pouco ou quase nada será lembrado neste 30 de agosto.
Em homenagem ao militar, o zoo
de Brasília passou a se chamar, oficialmente, Jardim Zoológico Sargento Sílvio
Delmar Hollenbach. Além disso, o gesto de coragem foi eternizado na construção
de um pequeno monumento, com o busto de bronze do herói desaparecido.
Nascido
em Cerro Largo, Rio Grande do Sul, o Segundo-Sargento do Exército Silvio Delmar
Hollenbach sentou praça em 15 de maio de 1962. No ano seguinte foi promovido a
Cabo. Chegou à graduação de 3º Sargento em 29 de novembro de 1965 e de 2º
Sargento em 30 abril de 1970. Quando faleceu, o Sargento Hollenbach, do Serviço
de Intendência do Exército, servia no Hospital das Forças Armadas.
O filho mais velho do
sargento, o médico Sílvio Delmar Hollenbach Júnior, fez residência no Hospital
das Forças Armadas, onde seu pai faleceu. Certamente optou pela medicina
inspirado na sublime motivação do pai em salvar vidas. Seu irmão, Paulo
Henrique, é analista de sistemas no Banco Regional de Brasília. Bárbara
Cristine é advogada em Porto Alegre. Débora Cristina é professora na
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Há ruas com o nome do herói em Santo André (SP), Cascavel (PR), Bertioga
(SP), Rio de Janeiro (RJ), Porto Alegre (RS), Recife (PE) e em Blumenau (SC),
sendo que, nesta última cidade, o logradouro leva o nome de Tenente Sílvio
Delmar Hollenbach. Em Cerro Largo (RS), sua cidade natal, foi homenageado no
município com o nome de uma Escola Estadual. O auditório do Hospital das Forças
Armadas, em Brasília, recebeu seu nome como homenagem póstuma.
E o que aconteceu com a criança salva pelo
Sargento Hollenbach, com o sacrifício da própria vida? Tristemente, ao que se
sabe, Adilson Florêncio da Costa, hoje com 56 anos, foi preso em 2016
pela Polícia Federal acusado de corrupção na Operação Recomeço. Conforme
noticiado na ocasião, ele responderia por desvios no fundo de pensão Postalis,
dos Correios, onde foi Diretor Financeiro. “Um dos alvos da Polícia Federal na
investigação que apura um rombo de R$ 6 bilhões no fundo de pensão dos
funcionários dos Correios é Adilson Florêncio da Costa, o menino resgatado aos
13 anos pelo sargento Sílvio Delmar Hollenbach, que, em 27 de agosto de 1977,
se jogou no tanque das ariranhas para salvá-lo no Jardim Zoológico de Brasília.
Essa é a segunda vez que os investigadores miram em Adilson. Ele foi preso em
junho de 2016, por supostamente integrar um esquema que desviou R$ 90 milhões
do Postalis e da Petros, os fundos de pensão dos funcionários dos Correios e da
Petrobras.”
No entanto, e apesar desses
fatos lamentáveis, a família Hollenbach não duvida que Sílvio ajudasse o menino
novamente, mesmo se soubesse do destino de Adilson. “Não importa quem seria.
Ele viu uma criança precisando de ajuda e se esforçou para ajudá-la, afirmou o
filho médico, Hollenbach Júnior”. Adilson e a família do homem que salvou sua
vida nunca se encontraram e ela jamais recebeu dele um simples
agradecimento.
Neste 30 de agosto de 2020, a
lembrança do heroico Sargento Hollenbach e do seu sublime sacrifício nos remete
ao enorme “apagão” cívico e cultural imposto ao Brasil e à nossa juventude, por
anos a fio de degradação provocada por sucessivos governos impatrióticos e
corruptos. Juntos, haveremos de reinstalar no país os princípios e valores que
forjaram a nacionalidade, onde bravos como o Sargento Sílvio Delmar Hollenbach
não sejam esquecidos.
MISSÃO CUMPRIDA, HEROICO SARGENTO HOLLENBACH! MINHA CONTINÊNCIA!!
Título e Texto: Sérgio
Pinto Monteiro, Oficial da Reserva Não-Remunerada do Exército. É fundador,
ex-presidente e Patrono do Conselho Nacional de Oficiais da Reserva. Membro da
Academia de Brasileira de Defesa, da Academia de História Militar Terrestre do
Brasil e do Instituto Histórico de Petrópolis.
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