sábado, 16 de outubro de 2010

Dilma nas cordas

Tal qual uma pugilista acuada, a candidata petista mostra à plateia ter sentido os golpes do adversário. Lula, porém, ainda está próximo ao ringue e tenta vez por outra desferir um sopapo

Cassius Clay e George Foreman na célebre luta, em 1974. Foto: Arquivo/AP
Se a missão dos assessores tucanos é resumir a campanha ao Palácio do Planalto a temas de liberdade individual, eles pelo menos já conseguiram deixar a petista Dilma Rousseff nas cordas — para usar uma expressão do pugilismo. É claro, ainda falta levar José Serra a liderar as pesquisas de intenção de votos, mas isso é outra história, cada vez mais factível, diriam os marqueteiros do PSDB.
Voltemos ao boxe, pois. A expressão “nas cordas” é usada no pugilismo para verbalizar o momento que em o lutador está na defensiva, a segurar os golpes do adversário. É o instante crítico do embate, aquele em que percebe-se claramente quem está no ataque. Serra ocupa essa função. E Dilma não consegue sair dar cordas ou mesmo evitar os golpes do tucano. As últimas pesquisas de intenção de votos mostram como o favoritismo da petista minguou. E ninguém do núcleo da campanha consegue apontar uma saída para Dilma deixar o canto do ringue por conta própria.

Falsa percepção
Talvez porque ninguém — nem mesmo Luiz Inácio Lula da Silva, considerado o maior marqueteiro em atuação no país — imaginasse que assuntos como descriminalização do aborto e união gay iriam embaralhar a eleição brasileira. Havia uma falsa percepção de que tais temas pudessem influenciar o voto de apenas meia dúzia de fundamentalistas. E havia uma confiança de que nenhum político com força eleitoral para governar o Brasil seria capaz de usar nos programas eleitorais assuntos tratados como dogmas por religiosos. Deu no que deu.
A pesquisa Ibope divulgada na noite de quarta-feira mostra a influência do voto religioso na eleição, a ponto de ter impedido a vitória de Dilma no primeiro turno. Agora, os petistas rezam — desculpe o trocadilho — para que a transferência de votos relacionados à religião em favor de Serra tenha batido no teto. Sim, para sair das cordas, a petista terá agora de esperar. Enquanto isso, Lula, próximo ao ringue, tenta vez por outra desferir um sopapo, como fez ontem, durante evento oficial em Teresina. “A quantidade de vezes que tive de responder sobre aborto, sobre coisas que eram de responsabilidade da Presidência, é enorme”, disse Lula, e continuou: “Diziam que ia fechar a igreja evangélica, que ia fazer isso ou aquilo, que não ia cuidar dos pobres.”
Conta própria
Nada demais Lula ser acionado pela campanha de Dilma. Nada muito diferente do que ocorreu no primeiro turno. Ou alguém é capaz de acreditar que a petista chegou em primeiro lugar por conta própria? O problema é que se esperava uma reação, mas todos os movimentos até o momento se mostraram nulos ou até mesmo prejudiciais à campanha. O último desses movimentos foi a tal carta em que Dilma se comprometerá em não enviar ao Congresso projeto de lei que mude a atual legislação contra o aborto e não propor nada referente ao casamento religioso entre pessoas do mesmo sexo.
Dilma até tentou fazer uma separação entre o casamento religioso e o civil, “um assunto de Estado, não de religião”. O problema é que mais uma vez tal separação é difícil de ser entendida. É um debate árido para qualquer candidato entrar. O fato é que a duas semanas do segundo turno, Dilma ainda precisa de Lula. Resta saber se, como no caso da transferência de votos religiosos para Serra, a capacidade de Lula de interferir na eleição também já bateu no teto.
Leonardo Cavalcanti, Correio Braziliense, 15-10-2010

Um comentário:

  1. Justamente por estar "nas cordas" é que o pau vai comer! Vem chumbo grosso por aí! Para o PT e asseclas José Serra não pode ganhar!!
    (Que se dane o país!)

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