segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Já notou que o verde está a ficar na moda?

Al Gore


A transformação em 1998 de Joschka Fischer, um ex-cabecilha de revolucionários de rua, em chefe da diplomacia alemã e a ajuda de Ralph Nader em 2000 à derrota de Al Gore nas presidenciais americanas são os pontos altos de uma versão anedótica da história dos verdes. Mas o melhor é levar a sério os partidos ecologistas que pululam mundo fora, pois nos últimos dias a brasileira Marina Silva obteve quase 20% dos votos nas presidenciais enquanto uma sondagem da Stern dá aos verdes alemães 24%. Aliás, 2010 tem sido um belo ano para quem tem a defesa do ambiente como prioridade política: em Maio, a britânica Caroline Lucas tornou-se na primeira verde na Câmara dos Comuns; um mês depois, nas presidenciais colombianas, o ecologista Antanas Mockus alcançou 27% dos votos. E 2009 também não fora ruim, afinal a lista ecologista francesa de Daniel Cohn-Bendit,o ruivo do Maio de 68, teve 16% nas europeias.

Os primeiros partidos verdes datam da década de 1970, com o teste das urnas a acontecer na Austrália, na Nova Zelândia e no Reino Unido. Em Portugal surgiram em 1982 e até hoje existem à sombra dos comunistas. Mas foi com a criação dos verdes alemães em 1980 que os ecologistas começaram a dar nas vistas. Nas fileiras juntavam-se anticapitalistas, pacifistas e genuínos defensores do ambiente. Da entrada nos parlamentos à participação nos governos tardou um pouco, porém em 1995 a Finlândia tinha já um ministro ecologista, exemplo seguido por outros países nórdicos e bálticos, mas também pela França. Em 2004, a Letónia chegou mesmo a ter como primeiro-ministro Endulis Emsis, dos verdes, mas o seu governo de coligação só durou dez meses. O caso alemão merece de novo destaque porque entre 1998 e 2005 os Grünen participaram no governo da terceira potência económica mundial, tendo de dar provas de pragmatismo no nuclear e na política externa. Fischer era ministro dos Negócios Estrangeiros quando os aviões do seu país bombardearam a Sérvia.
Os Grünen detinham também até 3 de Outubro o recorde absoluto de votos na causa ecologista. Pondo de lado as diferenças populacionais, os seus 4,6 milhões nas legislativas de 2009 batiam os 2,8 milhões de Nader nos Estados Unidos e mesmo os 3,5 milhões de Mockus na Colômbia. Mas agora Marina conseguiu 19,6 milhões de votos e comprovou que a natureza consegue mobilizar o eleitorado, sobretudo se o programa dos verdes incluir, como acontece cada vez mais, um modelo de desenvolvimento sustentado que tenta manter os pés na terra sem desistir da utopia. Não é provável, porém, que nesta era de crise os partidos ecologistas comecem a ganhar eleições. Só é provável que o seu lugar na história esteja ainda a começar a ser construído. 
Leonídio Paulo Ferreira, Diário de Notícias, 11-10-2010

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