domingo, 14 de novembro de 2010

A empresa Portugal

Como é que cada um de nós enfrenta uma crise pessoal ou financeira? Há os que se culpam a si próprios pelo que lhes sucedeu e que tentam uma saída para a situação em que se encontram; os que olham para o lado à espera de que alguém lhes resolva o problema; e os que, culpando os outros e o sistema, se deixam abater e não saem da cepa torta. Este é o momento em que o País precisa de gente que faça um mea culpa e que ande para a frente, que não se deixe tolher ou amedrontar pela crise e que encontre nela um estímulo para começar de novo.
Começar de novo. É ou não assim que pensamos quando as coisas correm mal? São inúmeros os exemplos de pessoas que já viveram dias de grande dificuldade, que apostaram nas suas próprias capacidades para refazer as suas vidas e que encontraram um novo caminho. Se pensarmos em Portugal como o país das oportunidades ,talvez saibamos sair do marasmo e da depressão em que estamos actualmente submersos. Ocorre-me sempre o exemplo de uma fábrica do Norte que, depois de o patrão ter fugido, ficou nas mãos de um grupo de trabalhadoras que decidiram constituir uma cooperativa e fizeram desta um caso de sucesso.

Na semana que passou, um homem sábio e certeiro, que tem surpreendido pela franqueza das suas palavras, veio dizer algo a que poucos tomaram a devida atenção e que serve para ilustrar a necessidade de olharmos para o País com outros olhos. Carlos Costa, governador do Banco de Portugal, afirmou que "as responsabilidades futuras do País têm de estar no balanço da empresa chamada Portugal" e que "não vale a pena culpar os mercados" por um "problema que é estrutural".
Aqui chegados, com um percurso de uma década que em nada abona a nosso favor, em que perdemos competitividade, fomos cúmplices da gulodice do Estado e vivemos acima das nossas possibilidades, gastando o que tínhamos e não tínhamos, olhemos então para a empresa Portugal e decidamos o que queremos dela. Levá-la à falência, contraindo mais dívidas e fazendo gastos supérfluos? Ou ajudá-la a sair da crise com mais e melhor produção, eficiência e racionalização das despesas, definindo as prioridades das prioridades?
Esta é a grande questão a que temos de responder. Se esperarmos que os líderes políticos nos apontem o caminho, já percebemos que voltaremos a dar uma volta sobre nós mesmos, como faz o cão de cada vez que se quer deitar, e que acordaremos exactamente na mesma posição. A vontade de cada um em mudar é neste momento determinante para um virar de página. Chegou a vez de a cidadania mostrar se quer ou não quer resolver a crise em que se meteu.
Maria de Lurdes Vale, Diário de Notícias, 14-11-2010

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