Já foi emblema de equipas de hóquei e dos escuteiros britânicos. Faz agora 85 anos que a Coca-Cola ofereceu o símbolo como amuleto
André Barbosa
Em 1904, garimpeiros chegaram a uma região de Ontário, no Canadá, à procura de prata, mas encontraram ouro. À volta da mina floresceu uma cidade. Só faltava atribuir-lhe um nome. Não se sabe quem escolheu Swastika (suástica, em português), mas não podia ser mais apropriado: a palavra, que deriva do sânscrito, significa “boa sorte”, em tradução não literal.
Em finais dos anos 1930 foi o alvoroço na localidade: as autoridades queriam alterar o nome da terra para Winston (em homenagem ao primeiro-ministro britânico, Winston Churchill), porque a cruz se tinha tornado um símbolo dos horrores da Segunda Guerra Mundial. Foram colocadas placas nas estradas (“Hitler para o Inferno, o nosso nome estava primeiro”) e até o fabricante local de medicamentos criou rótulos onde se lia: “Hitler que se lixe, este é o nosso símbolo desde 1022”. Ainda hoje Swastika é Swastika.
Nos três mil anos anteriores, a cruz usada pelo Partido Nazi alemão (mas com os braços orientados no sentido inverso) significava sorte, vida e força, e era sagrada para hindus e budistas. Nas primeiras três décadas do século XX, o símbolo adornava anúncios, rótulos de garrafas de cervejas e pacotes de bolachas. Em 1925, a Coca-Cola ofereceu aos consumidores uma espécie de amuleto de quatro por quatro centímetros, feito em latão e com a forma de uma suástica. “Beba Coca-Cola e tenha sorte”, dizia um anúncio.
O escritor britânico Rudyard Kipling usava-a na capa dos livros e só a retirou quando começou a ser ligada aos nazis. Os escuteiros do Reino Unido também a usaram, entre 1911 e 1922. Foi ainda símbolo de uma equipa de hóquei em patins canadiana (The Edmonton Swastikas), e estava impressa nos passaportes do exército russo, nos rótulos da cerveja chinesa Tsingtao e até nos carros de uma lavandaria irlandesa fundada em 1912.
Tudo mudaria quando Hitler anunciou em 7 de Agosto de 1920, no congresso de Salzburgo, que a suástica seria a insígnia e a bandeira do partido nazi. No fim do século XIX, o arqueólogo alemão Heinrich Schliemann descobrira o símbolo entre as ruínas de Tróia e associara-o a um ramo da família indo-europeia, dos arianos. A cruz já tinha sido encontrada em olaria alemã antiga e rapidamente se ligou a cultura germânica à indo-europeia. Hitler acreditava que a suástica representava a identidade ariana.
A inversão de valor do símbolo só parece não ter surtido efeito no Oriente, onde ainda é usada – por exemplo, no Japão, onde serve para identificar templos e santuários. Em 2005, deputados alemães chegaram a sugerir que fosse banida de vez.André Barbosa, revista Sábado, 11 a 17-11-2010
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