Tenho uma amiga que ficou desempregada há uns tempos – por opção, saiu da empresa em que trabalhava – e que, nas múltiplas tentativas para encontrar uma nova oportunidade profissional, se tem desdobrado em respostas a anúncios de emprego e contactos em diversas direcções. Disposta a trabalhar numa área que não aquela para a qual estudou tentou, inclusive, candidatar-se para trabalhar numa loja de roupa. Não foi aceite porque, segundo a conhecida marca cujo nome começa em Z e acaba em A, a minha amiga seria demasiado baixa para o cargo. Não sei ao certo qual é altura da minha amiga, mas sei que ela é desembaraçada e grande em iniciativa. E pergunto-me que raio de tempos são estes em que, para trabalhar numa loja de roupa, é mais valorizada a altura – como se os portugueses típicos fossem todos altos e espadaúdos e descendentes de escandinavos – do que as competências de comunicação, o perfil atencioso e a capacidade e seguir em frente perante as adversidades.

Esteja-se ou não de braço dado com este movimento, há algo de podre no reino do mercado de trabalho. Há quem diga que as pessoas não têm nada que protestar e que têm mais é que aplicar, em prol do desenvolvimento das empresas e do país, aquilo que aprenderam nas universidades. Há quem diga que, por muito que se estude, se trabalhe e se tente triunfar, os incentivos e reconhecimento são poucos ou nenhuns, e que com 600 euros por mês a recibos verdes não há grande margem de manobra para se pagar as contas e contribuir para o desenvolvimento do quer que seja.
Opiniões há muitas, e nem todas cheiram bem. Tal como muitos dos anúncios de emprego com os quais nos deparamos diariamente – basta fazer uma breve incursão pelos principais sites e jornais – que parecem saídos da mente de um comediante com um sentido de humor duvidoso. Já me deparei com anúncios a pedir estagiários não remunerados com viatura própria, com empresas a solicitar profissionais para trabalho não remunerado e, claro, empregadores que consideram qualquer pessoa acima dos 28 anos demasiado velha (!).
Mudando radicalmente a direcção deste raciocínio, ontem estava eu a chegar a casa quando, na rua, dou de caras com três tipos desconhecidos num animado diálogo. Não faço ideia de qual seria a conversa, mas um deles, com ar meio tresloucado, começou a afastar-se dos outros, a esbracejar e a gritar: «O qu’é que queres, pá? Tens de ser forte! Ninguém luta por ti. Tu é que tens de lutar, pá!»
Mudando radicalmente a direcção deste raciocínio, ontem estava eu a chegar a casa quando, na rua, dou de caras com três tipos desconhecidos num animado diálogo. Não faço ideia de qual seria a conversa, mas um deles, com ar meio tresloucado, começou a afastar-se dos outros, a esbracejar e a gritar: «O qu’é que queres, pá? Tens de ser forte! Ninguém luta por ti. Tu é que tens de lutar, pá!»
E é isto.
Laura Alves, Directora Editorial Mundo Universitário, Sábado, 04-03-2011
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Os "Homens da Luta" também lá estarão!
ResponderExcluirhttp://www.youtube.com/watch?v=R5qIjmseZ3I