Carlos Lúcio Gontijo
Se verdade é que o STF deseja
fazer história correndo o risco de materializar a jurisprudência do domínio do
fato, sinônimo de onisciência e onipresença de quem dirige ou comanda qualquer
grupo de pessoas, gerando uma perigosa jurisprudência, tomamos a liberdade de
sugerir que esse procedimento seja, democrática e urgentemente, estendido ao
mensalão de Minas Gerais (que antecede ao mensalão petista), à lista de Furnas,
às operações Satiagraha e Castelo de Areia, e ainda à “Privataria Tucana”, nos
quais tem muita gente com o pleno domínio dos fatos e, portanto, alvo em
potencial para condenação sem prova, uma vez que dar sinais de simplesmente
parecer que é passou a ser alicerce inarredável de indício contra todo e
qualquer réu.
É indubitável que alguns
integrantes do Partido dos Trabalhadores (PT) erraram e devem pagar pelo que
fizeram, uma vez que não se pode transigir nem amenizar a atitude dos que optam
pelo exercício da corrupção ativa. Contudo e infelizmente, se tal instrumento
de exceção se transformar em jurisprudência, Brasil e instâncias da Justiça
afora, a guilhotina e a câmara de gás hitleriana com que se pretende castigar
os que ousam malversar verbas e recursos públicos serão em breve, ao vivo e na
cor de sangue, apresentadas aos cidadãos comuns que, distantes dos holofotes da
grande mídia partidarizada dos dias de hoje, poderão assistir à chegada de
tempos tenebrosos legalmente constituídos.
Confessamos, depois de ter
passado 30 anos de nossa vida dentro da redação de jornal, não termos qualquer
motivação para escrever sobre política, que é território movediço em que alguns
poucos representantes do povo conseguem caminhar sem se afundar no lamaçal, mas
ainda assim não são menos culpados, pois são maculados pela desonestidade de
seus pares. Aos que juram honestidade apesar da comprometedora convivência
congressual, fica agora o alerta: vocês têm pleno domínio do fato e podem ser
arrolados perante a denúncia de todos os famigerados e contínuos escândalos que
acontecerem a partir deste instante, onde as provas cometem o milagre de
desaparecer junto com o dinheiro público, que nunca é resgatado.
Temos por hábito circular por
todos os lugares. Tudo o que somos na vida aprendemos com leitura e convivência
com as classes menos privilegiadas, nicho do que nos resta de moral – nada a
ver com a moralidade dos abastados –, que nos últimos anos obtiveram alguma
ascensão, aproximando-se de conta bancária, cartão de crédito, automóvel e
moradia, constituindo a louvada classe C, que elevou a capacidade de consumo do
mercado interno brasileiro. São brasileiros que dão um duro danado e tudo o que
têm é à força do próprio braço. Ou seja, eles precisam de saúde, sem a qual não
podem levar o pão de cada dia para suas famílias. Por isso, não existe perdão
para os que corroboram para o desvio de recursos destinados à área da saúde,
como se deu no caso das ambulâncias superfaturadas, que não deu em nada, pois
ali o fato era de domínio de outros nascidos em berço de pompa e luzidio
pedigree; da mesma forma que também se dera na propalada compra de votos para a
reeleição de Fernando Henrique Cardoso ou na falta de provas que levou o STF a
absolver o ex-presidente Fernando Collor das acusações que conduziram o Congresso
a votar pela cassação de seu mandato.
Enfim, não sabemos com que
quem está ou aonde reside a definitiva razão, se é que ela mora em algum lugar!
Apenas somos tomados pela certeza de que a conta do vale tudo é sempre muito
alta para a sociedade e temos em mente o ensinamento religioso de que quem não
precisa de prova de domínio do fato para ser apontado como onipresente e
onisciente de tudo (e sobre tudo) é Deus. Mas como nos diz Adoniran Barbosa, no
tombamento musical da Saudosa Maloca: “Os homis tá cá razão”. Quem somos nós,
leigos em matéria jurídica, para protestar. Cabe-nos a sábia decisão de pegar
as nossas coisas e irmos para o meio da rua “apreciá a demolição”.
Título e Texto: Carlos Lúcio Gontijo, 09-10-2012
Poeta, escritor e
jornalista
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-