terça-feira, 9 de outubro de 2012

"Os homis tá cá razão"

Carlos Lúcio Gontijo
Se verdade é que o STF deseja fazer história correndo o risco de materializar a jurisprudência do domínio do fato, sinônimo de onisciência e onipresença de quem dirige ou comanda qualquer grupo de pessoas, gerando uma perigosa jurisprudência, tomamos a liberdade de sugerir que esse procedimento seja, democrática e urgentemente, estendido ao mensalão de Minas Gerais (que antecede ao mensalão petista), à lista de Furnas, às operações Satiagraha e Castelo de Areia, e ainda à “Privataria Tucana”, nos quais tem muita gente com o pleno domínio dos fatos e, portanto, alvo em potencial para condenação sem prova, uma vez que dar sinais de simplesmente parecer que é passou a ser alicerce inarredável de indício contra todo e qualquer réu.
É indubitável que alguns integrantes do Partido dos Trabalhadores (PT) erraram e devem pagar pelo que fizeram, uma vez que não se pode transigir nem amenizar a atitude dos que optam pelo exercício da corrupção ativa. Contudo e infelizmente, se tal instrumento de exceção se transformar em jurisprudência, Brasil e instâncias da Justiça afora, a guilhotina e a câmara de gás hitleriana com que se pretende castigar os que ousam malversar verbas e recursos públicos serão em breve, ao vivo e na cor de sangue, apresentadas aos cidadãos comuns que, distantes dos holofotes da grande mídia partidarizada dos dias de hoje, poderão assistir à chegada de tempos tenebrosos legalmente constituídos.
Confessamos, depois de ter passado 30 anos de nossa vida dentro da redação de jornal, não termos qualquer motivação para escrever sobre política, que é território movediço em que alguns poucos representantes do povo conseguem caminhar sem se afundar no lamaçal, mas ainda assim não são menos culpados, pois são maculados pela desonestidade de seus pares. Aos que juram honestidade apesar da comprometedora convivência congressual, fica agora o alerta: vocês têm pleno domínio do fato e podem ser arrolados perante a denúncia de todos os famigerados e contínuos escândalos que acontecerem a partir deste instante, onde as provas cometem o milagre de desaparecer junto com o dinheiro público, que nunca é resgatado.
Temos por hábito circular por todos os lugares. Tudo o que somos na vida aprendemos com leitura e convivência com as classes menos privilegiadas, nicho do que nos resta de moral – nada a ver com a moralidade dos abastados –, que nos últimos anos obtiveram alguma ascensão, aproximando-se de conta bancária, cartão de crédito, automóvel e moradia, constituindo a louvada classe C, que elevou a capacidade de consumo do mercado interno brasileiro. São brasileiros que dão um duro danado e tudo o que têm é à força do próprio braço. Ou seja, eles precisam de saúde, sem a qual não podem levar o pão de cada dia para suas famílias. Por isso, não existe perdão para os que corroboram para o desvio de recursos destinados à área da saúde, como se deu no caso das ambulâncias superfaturadas, que não deu em nada, pois ali o fato era de domínio de outros nascidos em berço de pompa e luzidio pedigree; da mesma forma que também se dera na propalada compra de votos para a reeleição de Fernando Henrique Cardoso ou na falta de provas que levou o STF a absolver o ex-presidente Fernando Collor das acusações que conduziram o Congresso a votar pela cassação de seu mandato.
Enfim, não sabemos com que quem está ou aonde reside a definitiva razão, se é que ela mora em algum lugar! Apenas somos tomados pela certeza de que a conta do vale tudo é sempre muito alta para a sociedade e temos em mente o ensinamento religioso de que quem não precisa de prova de domínio do fato para ser apontado como onipresente e onisciente de tudo (e sobre tudo) é Deus. Mas como nos diz Adoniran Barbosa, no tombamento musical da Saudosa Maloca: “Os homis tá cá razão”. Quem somos nós, leigos em matéria jurídica, para protestar. Cabe-nos a sábia decisão de pegar as nossas coisas e irmos para o meio da rua “apreciá a demolição”.
Título e Texto: Carlos Lúcio Gontijo, 09-10-2012
Poeta, escritor e jornalista

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