terça-feira, 19 de março de 2013

A burrice do governo

Francisco Vianna
 
Conta uma piada, dos tempos do governo militar do Gal. Figueiredo, que, ao receber a visita do Papa João Paulo II, este teria perguntado ao presidente se não era um exagero ele governar com doze ministérios. O general teria dito ao Sumo Pontífice que “assim como Jesus Cristo tinha doze apóstolos para divulgar sua igreja pelo mundo, o Brasil tinha doze ministros para construir uma nação-potência. Riso de ambas as partes e a coisa, felizmente, parou por aí. 
A piada foi readaptada para os dias atuais, contando que o Presidente Obama, dos EUA, teria perguntado à Presidente Dilma se “não era um exagero ela governar com trinta e nove ministérios?”. A resposta da presidente teria sido a de que “assim com Ali Babá chefiava quarenta ladrões, ela já estaria chegando quase lá”...
Agora, leio na Folha de São Paulo, uma entrevista concedida ao jornal pelo empresário Jorge Gerdau dizendo que “O Brasil está no limite da burrice governamental, com um estado paquidérmico, ineficiente, travado pela corrupção e pela incompetência e falta de competitividade e produtividade”.
O empresário Jorge Gerdau Johannpeter é filho de Curt Johannpeter e Helda Gerdau Johannpeter. É bisneto de Hugo Gerdau, fundador da Gerdau. Atualmente é o presidente do Conselho de Administração da Empresa e trabalha na Organização desde 1954. Em 1983, assumiu o cargo de diretor-presidente da empresa. Sob sua liderança, a Companhia iniciou seu processo de internacionalização.
Jorge Gerdau Johannpeter também tem forte atuação na busca pela eficiência e qualidade da gestão nos setores público e privado. Atualmente participa do Movimento Brasil Competitivo (MBC), resultando em aumento de produtividade e melhoria da capacidade de gestão em diversas organizações públicas do Brasil, e é membro da Academia Brasileira da Qualidade (ABQ). Além disso, foi coordenador da Ação Empresarial, um dos mais ativos movimentos para a busca da execução de reformas estruturais necessárias para o crescimento brasileiro.
Nas áreas de educação e cultura, é presidente do Conselho de Governança do Movimento Todos Pela Educação, voltado para melhoria da qualidade da educação básica no Brasil. Preside a Fundação Iberê Camargo, o Conselho da Fundação Bienal do MERCOSUL e é membro do Conselho da Fundação Bienal de São Paulo.
É membro do Conselho do Instituto Aço Brasil, do qual foi presidente durante duas gestões. Faz parte do Conselho de Administração e Comitê de Sucessão e Remuneração da Petrobras, do Conselho Superior Estratégico da FIESP e do Conselho da Parceiros Voluntários. A partir de 2009, passou a integrar o conselho consultivo do escritório brasileiro do David Rockfeller Center for Latin American Studies, mantido pela Universidade de Harvard. Além disso, é presidente da Câmara de Políticas de Gestão, Desempenho e Competitividade do Governo Federal.
Gerdau sabe, pois, muito bem das coisas que acontecem no submundo da política nacional e, mais especificamente, na política de Brasília. Há quase dois anos à frente da “Câmara de Politicas de Gestão”, Jorge Gerdau diz que o trabalho mais pesado foi feito na Casa Civil com o PAC, uma estrutura que se propunha a trabalhar dentro da Casa Civil, mas acabou indo, burocraticamente, para o Ministério do Planejamento. Foi preciso reorganizar tudo pa­ra dar condições de gerência eficaz e para que a presidente pudesse acompanhar a execução de todos os projetos. O PAC está totalmente informatizado e sofreu avanço em diversas áreas, tais como a da saúde, da logística, da compra de remédios, na de transportes, etc.
Questionado sobre os resultados objetivos, o empresário disse que o Ministério da Saúde ampliou sua capacidade de atendimento de 40 para 80% - prevista para junho – da demanda.
Outro exemplo de bons resultados com mudanças de de gestão foi o do aeroporto de Gua­rulhos, que tinha uma capacidade de atendimento de 900 pessoas por hora e agora atente algo em torno de 1500 e, no entanto, o atendimento dos terminais é ainda por vezes caóticos. O maior aeroporto internacional do país está subdimensionado e não é maior nem melhor do que qualquer aeroporto de cidade de porte médio dos EUA ou da Europa.
Instado sobre se a política atrapalha ou não a gestão governamental, o empresário foi taxativo: “dentro da es­trutura brasileira, o conceito de política atrapalha bastan­te a gestão. Mas nós temos que encontrar os caminhos dentro das reali­dades em que vivemos e ter em mente que as funções e in­teresses de estado, as de go­verno, e as de administração, constituem patamares diferentes de gestão. País adiantado e civilizado troca de mi­nistro e muda duas, três pessoas de relação pessoal. A administração não muda. A estrutura de governança po­de ter modificações de deci­são política. Costuma mudar o partido, a cabeça do líder. No Brasil, só há quatro ou cinco ins­tituições em que a estrutura de meritocracia e profissio­nalismo funcionam: Banco do Brasil, Banco Central, Itamaraty e Exército. E ai tem ainda o BNDES.
Sobre os trinta e nove ministérios de Dilma, o empresário foi enfático: “é burrice, não deveriam existir. Apenas meia dúzia deles seria mais do que necessário. Além do mais, muitas áreas podem ser gestadas por meio de agências reguladoras e algumas até terceirizadas”.
Agora, ao contrário, com o aumento do número de partidos políticos, muitos esperam que o número de ministérios também aumente. “Mas tudo tem seu limite, inclusive a estupidez. Quando a burrice, ou a loucura, ou ainda a irresponsa­bilidade vai muito longe, de repente, sai um saneamento. Nós provavelmente estamos no limite disso vir a acontecer”. Do jeito que está, a presi­dente tem até o poder para redu­zir o número de ministérios, mas como o número de partidos vai cres­cendo cada vez mais, isso é quase impossível. O que a presi­dente faz é trabalhar com meia dúzia de ministérios realmente chaves e o resto é apenas um processo de cabidagem de emprego cujas delegações têm menos peso nas decisões mas oneram da mesma forma o erário.
Explicou ainda que a administração pública federal tem hoje uns 20 mil cargos de confiança e que isso é absolutamente excessivo e abusivo. Numa estrutura meritocrática, as fun­ções de Estado, de governo e de administração esse número cairia para cerca de um terço com evidente aumento da eficiência, com o restante dos cargos sendo ocupados por servidores de carreira com base na competência, folha corrida e dedicação ao serviço público.
“Sobre isso já conversei com a presidente Dilma e a resposta que ela me deu foi a mesma que dei a você. O processo é angustiante, mas a maturação desse processo de busca de meritocracia e maturação tecnológica é um trabalho de anos. É um processo desenvolvido na universidade americana de Harvard e consiste em definir as metas principais sob uma visão es­tratégica. Depois, sob uma visão financeira e, finalmente, sob uma vi­são de viabilidade de recursos financeiros e humanos. Assim se define claramente a missão de uma dada organização. É um instrumento para que todo mundo que trabalha naquele ministério entenda para que esse ministério existe e quais são as suas metas”. 
Perguntado sobre como o Brasil poderá sair do impasse de ter um mercado superaquecido com salários que pressionam governo e setor privado com demanda e consumo em alta, Gerdau disse que “a saída é a busca por soluções de competitividade e de produtividade. Cada vez menos, nas principais nações do mundo de hoje, ganha-se de forma estática por uma função fixa. Tudo aponta a remunerar melhor a quem é mais eficiente, proficiente, confiável, persistente e dedicado. Isso se aplica ao setor privado e ao estatal igualmente. Ora, a não competitivi­dade do produto brasileiro e a falta de pro­dutividade do trabalhador em todos os setores são bem conhecidas e um problema que encontra uma dificuldade adicional de ser resolvida no âmbito estatal: a política.
Essas duas coisas deveriam ser analisadas separadamente. Na Gerdau, empresa com patamares de produ­tividade homem/hora se­melhantes aos melhores do mundo, no entanto, um operário no custa para a empesa quase o dobro do que paga a ele, pelo que tem que recolher de ‘obrigações trabalhistas’... Em outros países isso não ocorre. No Chile, por exemplo, um ope­rário leva para casa quase 85% do que recebe nominalmente da empresa. Nos EUA, os custos empregatícios adicionais são extremamente baixos. Poucos países usam a folha de pagamento como instru­mento de arrecadação estatal e o certo seria que a relação contratual entre a empresa e empregado se vinculasse apenas naquilo que é a relação de trabalho e remuneração.
Para sair do labirinto de falta de competitividade e de produtividade em que se encontra, o país necessita urgentemente de uma reforma trabalhista que desonere a empresa e permita que o trabalhador contribua para ter serviços públicos essenciais realmente decentes e de bom padrão internacional. A presidente e o PT já estão há dez anos no poder e ao que parece esse não foi ainda um tempo suficiente para mudar esse cenário, pois há motivações ideológicas que prejudicam as distintas visões de liderança.
O PAC criado por Dilma é um instrumento do estado para controlar o que investe no país, instrumento esse que frequentemente se mostra ineficiente nesse controle, com a maioria de suas obras custando significativamente muito mais do que seus orçamentos iniciais. E isso não quer dizer que vai conse­guir eficiência operacio­nal em todos os ministérios.
Para o país vir a ter um planejamento competitivo e produtivo em todas as frentes, acredito que precisará de um trabalho continuado de mais de uma década”.
Assim como o empresário Antônio Ermírio de Moraes, do Grupo Votorantim, Jorge Gerdau e outros poucos grandes empresários e generais competentes e patrióticos estariam altamente qualificados a começar uma revolução meritocrática no país.
Mas, quase sempre limitam-se a falar, mostrando sua indubitável experiência e competência, mas são incapazes de vir para a arena política em busca de ocupar uma possível posição de liderança nacional que lhes possibilitasse montar a estrutura que não cansam de recomendar.
E sabem por que isso não acontece? Porque o cidadão que vota e é votado não tem o lustro mínimo sequer do segundo grau da escolaridade, como condição que caracterize uma cidadania de melhor qualidade para o Brasil. Numa contenda eleitoral, é bem possível que perdessem a eleição para um Tiririca qualquer, ou para um beócio de nove dedos com esperteza suficiente para tirar proveito pessoal dessa esdrúxula situação.
E, enquanto isso, o Brasil que se exploda na escoriocracia atual em que vive.
Título e Texto: Francisco Vianna, 19-03-2013

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