domingo, 7 de abril de 2013

Nossa educação sem cultura

Carlos Lúcio Gontijo
Dia desses uma professora, do tipo que nunca foi e nem irá a lançamento de livro algum, chegou para mim e disse: “Quero um livro seu autenticado”. Conversa, conversa vai, e ela se mandou, mas antes de sair, repetiu: “Olha não se esqueça do meu livro autenticado!” Eu que sempre fui de dar autógrafo, vou repassar o problema para os meus amigos Afonso Grego e Marquinho, que aqui, em Santo Antônio do Monte, entendem de cartório.
A supracitada professora, logicamente teve acesso a conteúdo educacional, porém lhe falta cultura, que é um problema do Brasil como um todo. A gravidade do imbróglio da formação intelectual de nossa gente está por todo lugar. Ainda recentemente, eu e os bons amigos “Fernandinho” e Weliton José (que cuidou das fotos) viajamos ao distrito de Francisco Braz, em nome da Secretaria de Cultura e da Prefeitura Municipal de Santo Antônio do Monte, para verificar in loco o estado em que se encontrava a antiga estação ferroviária, local que nos era oferecido, em nome de pretensa preservação histórica, pela Ferrovia Centro Atlântica. 
Na estação de Santo Antonio do Monte, em 1973, a locomotiva a vapor 519 da velha RMV, agora da VFCO, dá seus últimos suspiros (Acervo José Maria de Melo)
Porém, como de cultura mesmo, a imensa maioria de nossos conglomerados do âmbito comercial, só conserva a arte de ganhar dinheiro, nos deparamos com a velha e saudosa estação literalmente “tombada” pelo instituto comportamental humano do desleixo e, assim, jogada ao chão. E o pior é que tal fato já havia ocorrido há pelo menos 15 anos, sob o comando administrativo da própria rede ferroviária, que assim decidiu para evitar que usuários de droga se utilizassem do local para alimentar seu vício. Contudo, construíram uma nova estação, a alguns quilômetros adiante, que igualmente abandonada, hoje é frequentada por um bando de jovens (e até crianças) dominados pelas drogas.
Diante do cenário rumo à completa perda de rastros de sua existência um dia neste planeta de homens sem juízo, Welinton bateu fotos em que detectamos alguma parte dos alicerces e a presença da caixa-d’água – sobre a qual Sônia Veneroso, acadêmica e colunista do Jornal Gazeta Montense, já nos havia relatado –, construída na Inglaterra em 1912, que dava de beber à indelével maria-fumaça que cortava as montanhas de nosso encachoeirado estado de Minas Gerais. Viemos embora banhados na consciência de que a cultura que o país domina é mesmo a da plantação de soja, cana-de-açúcar, milho, arroz e mandioca... Enfim, somos especialistas em alimentar a ignorância.
Foi atordoado por aquele ambiente de destruição gratuita e desnecessária, que aceitei o convite do diretor da Escola Estadual “Dr. Álvaro Brandão”, Nei Antônio Borges, para ministrar palestra relativa ao “bulling”, que tem atingido as nossas escolas, quebrando ou esfacelando a paz e segurança de que necessitam professores e alunos na busca do aprendizado. Logicamente, não poderia me eximir de marcar presença numa escola que surgir pelo semeio empreendedor do saudoso Padre Paulo, o alemão-santo-antoniense que nos deixou a lição de que, mais que oração, um ser humano de fé age em prol do próximo e até das próximas gerações.
Padre Paulo não está mais entre nós, contudo quando falei (e falava) àqueles cerca de 300 jovens, no dia 5 de abril de 2013, no Centro de Cultura e Turismo João Robson de Castro, pude sentir a face espiritual do bravo e desbravador religioso alemão e senti em meu peito a suprema verdade de um verso que compõe poema que fiz para minha mãe, Betty Rodrigues Gontijo: “Não estás, mas estás em tudo”.
Título e Texto: Carlos Lúcio Gontijo, Poeta, escritor e jornalista, Secretário de Cultura de Santo Antônio do Monte/MG, 07-04-2013

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