Desobedecer a Salazar era um
prazer que normalmente saía caro. O mais célebre dos portugueses que se
recusaram a acatar ordens do ditador, conhecido em todo o mundo, foi Aristides
de Sousa Mendes.
Luís Almeida Martins
Os fugitivos formavam longas filas no passeio,
junto do Consulado de Portugal em Bordéus. Nesse mês de junho de 1940, com a
Wermacht a concluir a ocupação militar da França e a temível Gestapo nos
calcanhares, dezenas de milhares de pessoas de terror estampado no rosto e as
mãos vazias vinham pedir um visto de entrada no nosso país, que se mantinha
formalmente neutro na Segunda Guerra Mundial. Homens, mulheres e crianças, a
maioria judeus, deixavam tudo para trás, e já isso era uma terrível punição,
embora nada de comparável com o pesadelo que lhes estaria reservado se caíssem
nas garras dos nazis: as câmaras de extermínio. Mas não contavam com outro
obstáculo: através da circular 41, Salazar ordenara a todos os cônsules
portugueses que não concedessem vistos a “estrangeiros de nacionalidade
indefinida, contestada ou em litígio; apátridas; e judeus, quer tenham sido
expulsos do seu país de origem ou do país de onde são cidadãos”. Significava
isto que os vistos ficavam vedados a toda a gente que se esforçava por escapar
às sinistras confusões de uma guerra travada pelo desenho de novas fronteiras.
Os cônsules em geral acataram a ordem do ditador,
mas não foi esse o caso de Aristides de Sousa Mendes, colocado exatamente no
mais estratégico de todos os postos consulares portugueses em países ocupados
pelo III Reich: o que ficava mais próximo de Hendaye, a porta de saída para a
Península Ibérica neutral. No dia 16 de junho, antes ainda de a França ter
assinado a capitulação, Sousa Mendes decidiu conceder vistos a todos os que
lhos pedissem. Homem conservador e inclusive monárquico, que até então nunca
havia entrado em choque com Salazar, teve nesse instante a percepção de que
vivera 54 anos para chegar àquele momento de grandeza suprema. O rabino Jacob
Kruger, de Antuérpia, a cuja família concedeu vistos e que o ajudou na tarefa
ciclópica de passar à mão 30 mil documentos, tê-lo-á feito compreender que se
tratava de salvar seres humanos do mais horroroso dos destinos.
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Casa de Sousa Mendes, em Cabanas de Viriato |
Chamado em julho a Portugal, foi suspenso por um
ano, viu o seu salário reduzido a metade e foi por fim reformado
compulsivamente. Para os jovens de hoje, que ignoram o que é viver numa ditadura,
a história de Sousa Mendes é esclarecedora: Salazar proibiu-o até mesmo de
exercer a advocacia e retirou-lhe a carta de condução. Ele e a família caíram
na indigência e só conseguiram sobreviver graças a ajudas particulares.
Homenageado no memorial de Yad Vashhhem em
Jerusalém, o “Schindler português” (assim é chamado embora tendo salvo quase 30
vezes mais vidas do que este alemão antinazi celebrizado pelo filme de
Spielberg A Lista de Schindler)
morreria em 1954 na miséria, internado numa instituição de franciscanos. Mas é
hoje um dos portugueses mais famosos do mundo.
O industrial sueco Raoul
Wallenberg, enviado em 1941 como diplomata para Budapeste, salvou também entre
30 mil e 100 mil judeus húngaros dos campos de extermínio, passando-lhes
passaportes temporários. Aprisionado pelos soviéticos em 1945, terá morrido no
cativeiro, oficialmente em 1947.
Título e Texto: Luís Almeida Martins, in “365 DIAS com histórias da HISTÓRIA de
PORTUGAL”, páginas 495 a 497.
Digitação: JP
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Antes que alguém grite "É despeito direitista!" abaixo um "despeito esquerdista":Quando estava procurando fotos para ilustrar este artigo, achei "coisas" bem interessantes, como esta aqui:
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