A decisão do Tribunal
Constitucional teve várias consequências: a dureza do chumbo implicou a perda
de face do governo, que perdeu credibilidade externa; por isso, o resgate vai
endurecer; o previsível aumento do IVA afectará sobretudo os mais pobres, que
pagam este imposto de forma desproporcionada; a tímida recuperação do emprego
está sob ameaça; e, finalmente, Portugal pode tirar o cavalinho da chuva no que
respeita a uma eventual saída à irlandesa do programa de ajustamento.
Ontem, nas televisões, foi um
festival de gente contente com as desgraças governamentais. Julgo que estes
analistas estão equivocados. Se não houver mais chumbos, o País poderá concluir
um programa cautelar de um ano, mas as condições serão provavelmente duras e as
negociações difíceis. Se houver mais chumbos, o TC empurrará Portugal para o
segundo resgate. Este dura três anos, envolve muito mais dinheiro e os credores
vão exigir aos partidos condições leoninas. Haverá eleições antecipadas e o
centro-direita será provavelmente trucidado nas urnas, mas o custo para a
esquerda pode revelar-se demasiado elevado, pois os europeus vão exigir
garantias sobre uma revisão constitucional e serão eles a indicar os artigos
que pretendem alterar.
Sem resgate, isto era tudo bem
mais simples, mas vejam a questão do ponto de vista de Berlim: se os
portugueses têm um problema de Constituição, muda-se a Constituição. O TC deixa
de ser relevante e não me admirava se os credores nos exigissem um sistema mais
presidencial. Os partidos terão de assinar esse memorando com revisão
constitucional, ou não haverá mais empréstimos. É isso ou a bancarrota. E não
está afastada a hipótese de pesadelo: a Grécia a sair do euro e a levar-nos na
água do banho. Seria a ruína da classe média em Portugal e julgo que ninguém
deseja como futuro um cenário argentino. Por tudo isto, não compreendo a
alegria infantil daqueles que, por detestarem o governo, viram nesta decisão
grandes vantagens para o País.
Título e Texto: Luís
Naves, O Fragmentário, 20-12-2013
Grifos: JP
País é um substantivo ao qual essa gente não têm o menor apreço, por mais que encha a boca quando pronuncia essa palavra. O negócio é impedir por todos os meios e fins que este Governo, democraticamente eleito, consiga recolocar o país nos trilhos... pois que tal objetivo alcançado eliminará os dentes dos que hoje riem... pegou?
Relacionados:
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-