A mais famosa amante de D.
Pedro I do Brasil e IV de Portugal, feita por este marquesa de Santos, continua
a preencher uma larga fatia do imaginário dos dois lados do Atlântico.
Luís Almeida Martins
Quando, em 1821, D. João VI deixou o Brasil (onde
chegara 13 anos antes fugindo à Primeira Invasão Napoleónica) e regressou a
Portugal chamado por urgentes assuntos de Estado, deixou no Rio de Janeiro como
regente o seu filho D. Pedro, futuro imperador da grande nação sul-americana. Este,
também futuro rei de Portugal com o nome de D. Pedro IV, não era apenas um
paladino da liberdade dos povos e do liberalismo político. Era também um
conquistador impenitente – não de terras aos mouros como o seu remoto
antecessor Afonso Henriques, mas de corações femininos.
Depois de o pai ter partido, Pedro, então com 22
anos, conheceu em São Paulo a mulher de um militar que detestava o marido e
ansiava por ver-se livre dele e dos maus tratos que parece que lhe infligia.
Chamava-se Domitila de Castro Canto e Melo, tinha os olhos negros e a pele
aveludada e era uns dez meses mais velha do que ele. Domitila intercedeu junto
do regente para que seu almejado divórcio fosse acelerado e D. Pedro mexeu de
facto os cordelinhos nesse sentido. Tiveram a primeira noite de amor, a segunda
e a terceira, e, quando o regente regressou ao Rio, levava já consigo Domitila,
um feto no ventre desta e toda a sua família – pai, irmãos, cunhados, gente tão
ambiciosa como a beldade de pele morena.
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Retrato de Domitila de Castro Canto e Melo, Marquesa de Santos, óleo sobre tela, de Francisco Pedro do Amaral, Museu Histórico Nacional |
O Brasil tornou-se entretanto independente e D.
Pedro proclamou-se imperador. Na corte, a desditosa imperatriz Leopoldina,
austríaca de nascimento, entregava-se cada vez mais à bebida para tentar
esquecer as infidelidades do marido. Mas este parecia indiferente ao sofrimento
da mulher, chegando a nomear a amante sua aia. D. Pedro conferiu a Domitila de
Castro o título de marquesa de Santos e encheu-a de joias e de outras prendas
suntuosas. Instalou-a num palácio em frente do seu e quando não estavam juntos
observava-a por um óculo, exigindo que ela vestisse as peças de lingerie que ele decidia. A linguagem
das cartas que trocavam era tórrida.
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Solar da Marquesa dos Santos, atualmente Museu do Primeiro Reinado, São Cristóvão, Rio de Janeiro |
Esta história de amor com todos os ingredientes
para ser perfeita terminaria bruscamente em 1829, quando o imperador, já viúvo
de Leopoldina, começou a preparar o segundo casamento com uma mulher de sangue
real. As cortes europeias, porém, viam com horror os moldes do relacionamento
com Leopoldina daquele imperador “bárbaro” de um país novo de um continente
“selvagem”. Diz-se que Domitila disparou contra a própria irmã ao ter tido
conhecimento de um caso entre esta e D. Pedro. O certo é que tudo terminou
entre gritos e recriminações, como a maioria dos sonhos cor de rosa.
D. Pedro reconheceu a filha
que teve com Domitila, Isabel Maria de Alcântara Brasileira, e exigiu que fosse
educada na companhia dos seus descendentes legítimos, nomeadamente Pedro e
Maria da Glória, futuros imperador do Brasil (D. Pedro II) e rainha de Portugal
(D. Maria II).
Título e Texto: Luís Almeida Martins, in
“365 DIAS com histórias da HISTÓRIA de PORTUGAL”, páginas 412/413.
Digitação: JP
Digitação: JP
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